NÚMEROS E OPERAÇÕES NAS SÉRIES INICIAIS: COMO ENSINAR?

Por Sócrates Gomes | 30/04/2009 | Educação

Irael Sócrates Hitler Ferreira Gomes 1

O ensino da Matemática vem sendo questionado por existirem afirmativas de que essa disciplina é tida pela maioria dos alunos como a pior das disciplinas. No que se refere às séries iniciais essa afirmativa torna-se mais preocupante, pois muitos educadores "marcam" negativamente a vida de seus alunos, praticando insistentemente metodologias de ensino que dificultam o processo ensino aprendizagem dos educandos nos assuntos números e operações nas séries iniciais.

Não quero aqui, continuar no ciclo "vicioso" com a idéia de que esses professores estão incapacitados de lecionar à essas crianças. Mas procurar da melhor forma possível entender, o porquê de o ensino da matemática ser tão deficiente nas séries iniciais? E quais os fatores que contribuem para essa causa?

Partindo do pressuposto de que a maioria das escolas brasileiras tiveram acesso ao material Parâmetros Curriculares Nacionais – (PCNs), material este elaborado para dar suporte ao desenvolvimento do currículo dessas escolas. Buscamos entender de que forma essas orientações influenciaram na prática pedagógica dos educadores das séries iniciais do ensino fundamental na disciplina matemática, uma vez que ele traz todo o suporte teórico metodológico para que esses educadores busquem desenvolver habilidades que serão necessárias aos alunos em sua vida social.

Os PCNs mostram que:

Os conhecimentos numéricos são construídos e assimilados por alunos num processo dialético em que intervém como instrumentos eficazes para resolver e como objetos que serão estudados, considerando suas propriedades relações e modos como se configuram historicamente. (PCNs. BRASIL, 1997).

Esses conhecimentos citados acima serão desenvolvidos e construídos a partir da participação dos alunos em definir o que são números de acordo com o que eles já trazem do meio social em estão inseridos. Neste momento cabe ao professor agente facilitador do processo ensino aprendizagem propiciar ao educando uma situação de desmistificação da matemática como sendo algo ruim e obscuro. Buscando sempre considerar os conceitos pré-existentes de seus alunos. Uma vez que eles já tiveram experiências que envolveram números e conseguiram utilizá-los de forma "inconsciente" em seu cotidiano.

Tais valores, não são considerados pela maioria dos professores dificultando assim a assimilação dos alunos de conceitos prontos e acabados estabelecidos pelos professores ou currículo. Contribuindo assim para a não compreensão do que são números e como utilizá-los em sua vida.

Podemos nos deter a algumas situações comuns que acontecem em nossas escolas brasileiras. Muitas vezes os educadores ao oportunizar à criança para demonstrar seu nível conhecimento em relação a números e contagens formulam situações para que a criança o responda de maneira mecânica, ensinando a mesma a contar em seqüência: 1, 2, 3, 4, 5, 6 .... e utilizando apenas os signos ou algarismos numéricos, caso isso não aconteça, os conhecimentos dos alunos são desconsiderados da idéia de número imposta pelos professores.

Vale lembrar que para se entender o conceito de número é necessário que a criança e os próprios educadores entendam que ele é composto de: Idéia (número), Representação(numeral) e Algarismo (signos), no caso da situação a cima está se trabalhando apenas os signos, estes exemplificados pela seqüência dos números naturais.

Para MORO(2005) o conceito de números desenvolvidos pelas crianças, estão diretamente ligadas à visualização dos elementos, que conseguem contar uma ou duas coisas, e mais tarde já conseguem contar coleções maiores: Somente depois elas passam a contar coleções cada vez numerosas, até dominarem a sequencia até 10 ou 15 elementos e, assim seguirem adiante para chegar a outras dezenas.

Ainda a respeito de quantidade, MORO(2005) afirma que as crianças as vezes se confundem ao identificar coleções em que há mais ou menos objetos, uma vez que ela está diretamente ligada na forma como os objetos foram organizados. Neste caso exemplicamos aqui o enfileiramento. Dependendo de como a coleção está exposta à ela obteremos as seguintes respostas: aqui tem bastante, aqui tem pouco, pouquinho, tem menos, tem mais, tem o mesmo tanto igual. Ela chega a esse conceito Segundo Piaget devido a utilização de uma parte do conhecimento que ele chama de correspondência biunívoca: trata-se de uma capacidade que a criança desenvolve para assimilar e conceituar numeral a partir da relação de pares dos objetos, se os objetos tiverem seus pares e sobrar um ela rapidamente formula onde tem mais, ou também pode acontecer de a coleção de objeto ter 3 pares e a outra 2 pares e não sobrar nenhum, nesse caso o que vai influenciar é a posição do enfileiramento em que ela pode responder que tem a mesma quantidade.

Em meio a esses conhecimentos que a criança já traz consigo, é que ela vai desenvolver a noção do que são números, e saber que a sequência dos próprios números naturais vão ter uma lógica e não aquela coisa mecânica que fora imposta para ela decorar, perceberá que todo número tem um antecessor e um sucessor que estes são a adição de uma quantidade 1 ou a subtração da mesma quantidade 1.

Ex: 1+1=2 2+1=3 3+1=4 4+1=5 .......

2-1=1 3-1=2 4-1=3 5-1=4......

Daí a lógica de se contar a sequência dos números naturais.

No entanto para que os alunos cheguem a desenvolver estes conceitos necessita-se valorizar que as próprias façam as composições e emparelhamentos das coleções desta forma compreender na integra a referida sequencia.

MORO (2005) mostra que um fator muito importante a ser considerado é que a criança anote, marque, desenhe o que ela está fazendo, buscando a compreensão e execução da escrita numérica. E o professor sempre buscando entender juntamente com as crianças o que elas anotaram.

Percebe-se também que nesse processo ele desenvolverá a percepção que existem muitas categorias numéricas que foram desenvolvidas ao longo da história da humanidade que são os números naturais, racionais, decimais, fracionais, inteiros e os irracionais. Crucial torna-se o papel do educador, o qual busca sempre instigar o conhecimento dos educandos lhes provocando a desenvolverem conceitos e também, colaborando com a sistematização desses conhecimentos, para que a criança construa um conhecimento numérico com suas próprias formas de entender o mundo.

Outro assunto a ser abordado aqui trata-se das operações nas séries inciais do ensino fundamental. O principal agravante também da compreensão desse assunto pelos alunos é a desconsideração da bagagem cultural dos mesmos.

Os Parametros Curriculares Nacionais buscam desenvolver nos educandos: a compreensão dos diferentes significados de cada uma das operações nas relações existentes entre elas e no estudo reflexivo do cálculo, contemplando diferentes tipos – exato e aproximado, mental e escrito.

Para o desenvolvimento dos conceitos propostos pelos PCNs, os educadores têm que buscar um forte aliado que consiste em uma mudança significativa nos seus métodos tradicionais de ensinar. Nessa mudança o educador vai considerar as experiências significativas dos alunos com relação a operações matemáticas e ver que os mesmos conseguem chegar a determinados resultados de outras formas, e não só a que está imposta pelo currículo escolar.

Uma vez acontecendo essa mudança, tornar-se-á mais produtivo o ensino das operações matemáticas nas escolas. Pois, haverá uma fusão entre o conhecimento do aluno com o sistematizado pelo currículo escolar. Mas, se isso não acontecer teremos ainda longos anos de atraso no ensino da Matemática, uma vez que para muitos educandos, com o método tradicional de ensino ela é insignificante, pois o mesmo não tem noção de como utilizá-la em seu cotidiano, em vista que o que ele aprende na escola é algo muito abstrato e mecânico.

A exemplo disso é o que foi citado no texto de BERTONI, onde em suas observações deparou-se com uma experiência de uma conta de adição feita por um aluno, o qual desconsiderou todas as regras impostas pela matemática, o qual conseguiu somar partidas sucessivas de jogos sem ter aprendido as regras de sinais ou somas contento vai 1 e até mesmo a regra da esquerda pra direita.

Tal aluno conseguiu a soma exata isso tudo simplesmente por um esquema feito mentalmente que consistiu em somar primeiro as dezenas de baixo para cima com as unidades de cima para baixo e ele obteu o resultado satisfatório. Independentemente de regra matemática.

Esse é um exemplo, o outro que pode ser significativo a ser considerado é o caso do troco por vendedores analfabetos em feiras livres de qualquer cidade que ao invés de subtrair o valor que se comprou e acrescente até chegar ao valor que foi lhe dado, Ex:

1 kg de Farinha R$ 1,50 Pagamento: R$ 5,00

Ato do Troco: 1,50 + 3,50 = 5,00

Como dizer que essa operação está incorreta?

Acredita-se então que na atualidade o grande desafio do ensino da matemática é, como os educadores devem lhe dar com esse tipo de situação para que os mesmos tirem proveito desses conhecimentos, e instigar o educando a desenvolver outras habilidades a partir dessas que ele já possui, construindo assim um conceito formado de operações e utilizá-las em seu benefício para futuras situações problemas que surgirem tanto em seu dia-a-dia como também em seu próprio meio escolar.

Enfim, o ensino dos números e das operações nas séries iniciais do ensino fundamental, ainda nos deixam um grande desafio, pois, tamanha é a responsabilidade de um educador possibilitar uma aprendizagem satisfatória, sem ter qualificação necessária para se portar perante aos questionamentos das referidas manifestações do cotidiano dos seus alunos, uma vez que a formação dos educadores das séries iniciais em relação ao ensino da Matemática é mínima ou melhor dizendo menos que mínima é apenas 75 h em seu currículo acadêmico,isso em se tratando de um Pedagogo, agora imagina um simples habilitado no ensino normal. Daí o grande problema que atinge a maioria dos educandos das escolas brasileiras que não conseguem desenvolver gosto pelos números e operações no ensino fundamental. Deixando a disciplina Matemática como o um monstro nas mentes dos alunos.