NOVELAS DA TELEVISÃO NÃO CRÊEM NO AMOR

Por João Valente | 20/05/2009 | Sociedade

É um só tema, sempre repetido a exaustão: uma linda mulher, quase sempre perfeita de rosto e corpo, que atrai o tesão louco de um galã, por cujo tesão se sente (ou pensa estar) apaixonado e lá começa a trama que se desenrolará com mil outras traminhas paralelas, no eterno continuísmo "enche-linguiça" das novelas brasileiras. É de uma pobreza mental horrível, daquelas feitas só para enganar os desocupados e iludir os adolescentes.

Então o que os diretores de programação da Televisão chamam de "amor" não passa de tesão correspondido, excitação epitelial, instinto animal, ou qualquer outra coisa, mas AMOR não. E pior: Por haver de fato a descrença no divino sentimento (visto em romances do passado, como mostrado no filme 'Os 10 Mandamentos', no amor da esposa de Moisés), eles precisam sempre inventar um romance onde haja qualquer "proibição" ou barreira contrária ao namoro, pois assim crêem que um tesão associado a uma proibição de namorar (i.e, tesão + desejo de vingança contra a família ou alguém que não quer o namoro) só pode significar um grande amor, pois uma emoção que gerou tal tesão e tal vontade de namorar, contra tudo e contra todos, só pode ser o Amor verdadeiro!... Mas não é!: É apenas tesão sexual e sede de vingança... Que são, de fato, dois sentimentos fortíssimos, sobretudo num mundo caótico e violento como este da Pós-modernidade, onde aqueles que supomos amar têm brigas homéricas na surdina, e às vezes até em público! Tristes tempos!...

A alienação característica da nossa era, onde se anestesia o povo com sexo, música (de má qualidade), futebol, shows e festas suntuosas, chega até a audiência da TV e não se dá conta de que os casais estão se unindo "temporariamente", ou seja, "momentaneamente", desrespeitando (ou desvirtuando) a famosa frase de Vinícius, a de que "seja infinito enquanto dure", cuja idéia não é a apologia à separação ou ao divórcio, mas à permanência do amor até que a morte separe. Também pudera: com a propaganda a favor do tesão e da vingança como únicas alavancas do amor, não era mesmo de se esperar que o povão continuasse crendo no nobre sentimento, e isto termina por explicar a violência, a ausência de perdão e a ridicularização da piedade.

Contudo, como é o Amor que a Televisão e o mundo não crêem mais? É difícil explicar, e isto também não é nenhuma novidade. Dizem até que com todas as palavras de Jesus, e com tudo o que os escritores canônicos registraram, ainda foi preciso a via sacra e a crucificação para que "algum" ser humano cresse no Amor (Ágape), embora crer está longe de entender, e sem entendimento não há como saber e fugir da alienação.

Amor é sacrifício, persistência, paciência, complementaridade, justiça, honradez (a próxima poucos irão gostar), fidelidade, generosidade, confiabilidade, mansidão, etc., todas coisas mortas ou em extinção na Pós-modernidade. Claro que no Amor Sublime há espaço para se lutar por uma paixão proibida, como muito bem mostrou o filme "Romeu e Julieta"... Mas a idéia shakespeareana era a de que "nem a morte o separa", a mesma da Palavra de Deus. Claro que no Amor Sublime há espaço para o prazer sexual, mas ele ali é tão diferente do que se entende e se vende hoje de idéias destrutivas do amor que poucos de nós o conceberíamos como tal.

Porquanto o Amor Verdadeiro é a virtude de querer compartilhar uma vida inteira com outra, como se no mundo só existissem aquelas duas almas, tal qual cantavam os poetas de antigamente. Porque pressupõe o sacrifício em nome da paixão, que é obra de Deus ou para deuses. O fator 'vida inteira' e o fator "só existem as nossas duas almas" obriga a noção da eternidade do sentimento, e da fidelidade monogâmica, que só a virtude bem enraizada e a boa vontade de agradar a Deus podem se interessar e procurar cumprir. Um mestre fechou o assunto dizendo que "A monstruosidade das relações sexuais fora do casamento é que os que concordam com elas procuram isolar uma espécie de união (a sexual) de todas as outras espécies de união, que foram destinadas a coexistirem e a formarem a união total. A atitude cristã não quer dizer que haja algo de errado no prazer sexual, assim como não o há no prazer de comer. Quer dizer que não se deve isolar esse prazer [de todos os outros] e procurar obtê-lo por si mesmo, como não se deve procurar gozar os prazeres do paladar sem engolir e digerir, apenas mastigando e depois cuspindo tudo".

Finalmente, sei que o leitor, depois dessas palavras tão antiquadas e "desmancha-prazeres", irá dizer que TODAS as novelas, de TODOS os canais (e não apenas as da Rede Globo) trazem este mesmo tipo de estreitamento conceitual sobre o amor! É verdade! Pura verdade: o crime apontado não é, infelizmente, mal apenas da Globo. Porém todo mundo sabe que ninguém até hoje bateu a Globo justamente nisto, nas novelas, e por isso quando se fala nelas só se pensa na Globo. Porém os mesmos pecados estão na RECORD e nos canais que, tragicamente, a copiam em tudo, inclusive neste aviltamento do amor, que a Record, evangélica, deveria abominar. Mas sabe que se o fizer, perderá audiência, porque o mundo já está a tanto tempo afastado do sonho que já não crê no amor à moda antiga: Quem hoje em dia veria qualquer coisa bela num homem que chorasse pelo amor de uma só mulher, e numa mulher que se mantivesse virgem para um só homem?

Prof. João Valente de Miranda.