NOTÍCIAS DO LADO DE LÁ
Por maria angela mirault | 31/03/2011 | Religião"É tudo mentira; a comunicação com os mortos nâm-ecxistem", afirmaria o mitológico, ontológico e parapsicólogo padre Quevedo, caso fosse pela milionésima vez questionado sobre a questão. Contudo, se expande, no mundo, a crença na possibilidade de que seja possível, por intermédio de uma mediação, obter-se notícias sobre aqueles que já seguiram viagem para outras paragens que não a nossa dura realidade regida pelas leis da física.
A constatação da intercomunicabilidade entre as dimensões distintas da existência humana tem sido profusamente difundida no mundo atual, pela literatura, seriados de tevê e produções cinematográficas. Esse evento, porém, ainda tido no campo da ficção e da paranormalidade, tem seus registros desde o atavismo de nossos ancestrais, perpassa a mitologia grega; os livros sagrados do Oriente; o Velho e o Novo Testamento, e, contemporaneamente, é exaustivamente estudado e apresentado na codificação kardequeana.
O filme "Chico Xavier" assistido por 3,5 milhões de pessoas e "Nosso Lar" por 4 milhões de expectadores comprovam que a temática não só se dirige aos que estudam e praticam o espiritismo, como ultrapassa as mais diversas correntes dogmáticas do pensamento filosófico-religioso, despertando, cada dia mais, o interesse de multidões de expectadores.
O filme "As mães de Chico Xavier", lançado no último dia 1o. de abril do corrente ano (2011), foi roteirizado a partir das 256 páginas do livro "Por trás do véu de Ísis" (Editora Planeta), de autoria do jornalista Marcel Souto Maior. O filme retira dessa obra jornalística três testemunhos que aborda a ultrapassagem do momento de ruptura trazido pela morte. Registra relatos mediados por Chico Xavier (1910 - 2002), atestados pelas figuras maternas enfocadas, com relação às mensagens recebidas de seus filhos mortos, desvendando uma realidade metafísica além do nosso parco entendimento.
É inegável o dom da mediunidade que distinguiu Chico Xavier como intermediário de milhares de comunicados de outra dimensão da vida, aliviando dores, explicando o inexplicável, consolando, esclarecendo e aproximando amores apartados. Sua "paranormalidade" foi exaustivamente estudada, sempre com o objetivo de desmascara-lo, exauri-lo, descredencia-lo, mas, isso nunca foi possível. Há estatísticas que contabilizam 50 milhões de exemplares vendidos de suas 451 obras psicografadas, desde 1932 - só Nosso Lar (editado pela Fedederação Espírita Brasileira) alcançou 1 milhão e oitocentos exemplares. Tendo sua obra traduzida nos mais diversos idiomas, Chico Xavier jamais usufruiu os dividendos provenientes do direito autoral; viveu com simplicidade e sacrifício seu apostolado. Trabalhador na seara de César, ali obtinha sua sustentação, dedicando-se em extenuantes serões noturno ao labor dessa interlocução, incansavelmente.
Contudo, não era, Chico, nem santo, ou paranormal. Dotado de grande sensibilidade sensitiva, cujos valores morais-cristãos capacitavam-lhe a ultrapassar as fronteiras do invisível, trouxe, não apenas, com as notícias do lado de lá, o alento aos corações enlutados. Trouxe, também, para a normalidade o que se considera, ainda hoje, como anormalidade; para o natural o que se entende, ainda, por sobrenatural, demonstrando na prática o que, antes, o cético professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), sob o pseudônimo de Allan Kardec, já o fizera, em 1857, desde o lançamento, em Paris, de "O livro dos espíritos", primeiro de suas cinco obras a respeito do tema. Com espírito lúcido, debruçara-se, ele, na questão da intercomunicabilidade entre as duas dimensões, concluindo que ambas, porém, eram regidas pelas mesmas leis naturais da vida, trazendo, já naquela época, a hipótese da preexistência e sobrevivência da alma a que chamou espírito, fundamentando os princípios da doutrina espírita. Somos todos, segundo suas constatações e as, posteriores, milhares de notícias trazidas do lado de lá, querendo ou não, crendo ou não, seres imortais, vindos de um mundo transcendental para o qual retornaremos.
Os relatos apresentados no filme "As mães de Chico" parecem assegurar que a intercomunicação com os mortos "ecxistem", sim. Não se tratam de testemunhos levianos, fantasiosos, dilações provenientes da perturbação de mentes vulneráveis e crentes. Quem de nós ousaria, de sã consciência, desacreditar do testemunho de um coração de mãe? Mas, para que os incrédulos comprovem, de fato, tal fenômeno, basta que aguardem um pouco mais a inexorável hora da partida, e, de lá, quem sabe, tentem encontrar um medianeiro que lhes sirvam de interlocutor. Por enquanto, em conformidade com o pensamento de William Sheakespeare, em Hamlet, acreditemos: "há mais mistérios entre o céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia".
Maria Ângela Coelho Mirault é doutora e mestre em comunicação e semiótica pela PUC/SP
http:mamirault.blogspot.com