Notícias das barragens
Por NERI P. CARNEIRO | 28/08/2011 | Filosofia"Minhas batalhas são as vésperas de hoje, na projeção imprevisível do amanhã". São os dois versos do poema "Sucessão" de Aparício Silva Rillo que dão o mote de minhas inquietações a respeito das barragens estão se impondo sobre nosso bom senso. A bem da verdade não vou dar nenhuma notícia. Nem comentar as notícias, apenas pensar alguns fatos. As barragens, em questão, são as hidrelétricas que estão sendo construídas ao longo de alguns rios que rolam por aí. Necessárias, algumas, outras nem tanto. Mas todas polêmicas, motivo pelo qual impõem algumas interrogações sobre os motivos de sua construção.
No inicio de 2011 os jornais do mundo se deliciaram com a quebradeira que os operários das barragens no Rio Madeira (Porto Velho-RO) fizeram. Problemas salariais, alojamentos e vários outros que se manifestam nas aglomerações humanas. Eram vários milhares em condições beirando à degradação humana e os humanos que estavam ali, se rebelaram.
Passaram-se os meses, a mídia se esqueceu dos operários das barragens de Jirau e Santo Antonio. Pior ainda, pouco se falou e pouco se comenta a respeito das implicações dessas usinas sobre a vida dos ribeirinhos. Menos ainda sobre os investimentos para produzir pouco mais de 6 mil MW (Santo Antônio 3.150 MW e Jirau 3.750 MW).
O fato é que outros palcos foram sendo montados, mundo a fora.
Em meados de agosto outras notícias das barragens. Agora em Belo Monte, no rio Xingu, estado do Pará. Barragem anunciada para ser a terceira maior do mundo, mas com pouca produção de energia, no período da seca (o verão amazônico). Será cara, com alto impacto ambiental e com pouco resultado na produção de energia. No portal G1 (disponível em: http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/04/belo-monte-sera-hidreletrica-menos-produtiva-e-mais-cara-dizem-tecnicos.html) encontramos as seguintes considerações a respeito de Belo Monte: "Embora tenha capacidade instalada de 11 mil MW, o que a tornará a segunda maior hidrelétrica do país, Belo Monte tem energia firme (que pode ser assegurada já prevendo os períodos de seca) de 4,4 mil MW, 40% da capacidade. Na maior usina do país, a binacional Itaipu, que tem 14 mil MW de capacidade, a energia firme representa 61%. Na segunda maior atualmente, Tucuruí - que perderá a posição para Belo Monte -, o percentual é de 49%."
Com isso em mente lancemo-nos a algumas considerações: Primeiramente concordando que o mundo atual para continuar não só se desenvolvendo, mas para manter o atual estágio de conforto precisa produzir mais energia. Mas isso não implica em que seja energia produzida a partir da degradação ambiental (nem queremos nos lembrar de Chernobyl e ou dos desastres do Japão). E se considerarmos que os rios amazônicos ficam com poucas águas no tempo das secas, temos que admitir que "algo está podre no balaio". É de se estranhar a impertinente determinação em se construir hidrelétricas na Amazônia. Pelo menos essas de porte gigantesco. Por isso a indagação: trata-se de busca de energia ou existem motivos inconfessados nas motivações para a construção das usinas?
Os defensores das hidrelétricas falam de "energia limpa", mas a agressão ambiental para a construção e para os reservatórios é enorme. Sem contar, no caso das usinas em terras amazônicas, a destruição de espaços seculares destinados não só a povos indígenas, agricultores e pecuaristas, como dos povos ribeirinhos. Daí a pergunta: que energia limpa é essa? O que estão querendo dizer com energia limpa? Quem será "limpado" com a construção da hidrelétrica?
Outro aspecto seria da questão: Qual será o verdadeiro custo dessas obras? Os orçamentos mostrados referem-se ao preço efetivo da obra ou nele estão incluídos os valores que serão desviados? O interesse na construção se deve à necessidade de produção de energia ou ao fato de que esse tipo de obra abre possibilidades incontáveis para fazer a sangria de dinheiro jorrar para cofres, malas, meias e cuecas que estão à espera? Se a preocupação é produção de energia, porque pouco se leva em consideração outras matrizes energéticas?
Se a preocupação é efetivamente produzir energia e de forma limpa, porque não se discute com seriedade outras fontes mais limpas e menos agressivas ao ambiente e com menor risco de escassez? Já sabemos do potencial eólico e solar, em nosso país. Porque essas fontes de energia não são melhor consideradas e mais utilizadas? Será porque são fontes baratas e largamente acessíveis? Vento e sol temos o ano inteiro em nosso país, porque continuam sendo menosprezados como fonte e potencial de energia?
Mesmo que os custos de produção sejam altos, se houvesse honestidade entre aqueles que pensam a produção de energia para o país, deveriam olhar para o ganho ecológico, comparado com a perda ambiental, derivada das hidrelétricas.
Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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