Nosso segundo doutor da bola em copas
Por Edson Terto da Silva | 06/01/2012 | CrônicasO desafio de escrever artigos inéditos e de variados temas sobre o Brasil nas Copas do Mundo de futebol nos faz ficar atentos aos fatos da atualidade para, dentro do possível, não deixar passar situação que mereça ser lembrada. Algumas das situações são alegres, outras nem tanto e algumas são motivadas por episódios muito tristes e neste caso se encaixa a recente morte de um dos gênios do futebol mundial, Sócrates, que atuou nas Copas de 82 (Espanha) e 86 (México).
Antes de falar do Dr. Sócrates em Copas (ele é o segundo médico do qual me lembro a atuar em nossa seleção em Copas, teve o Tostão, em 66 e 70) só um registro pessoal. Lembro-me ter visto Sócrates jogando, ao vivo, no estádio Brinco de Ouro, do meu Guarani de Campinas, isso em 1976. Sócrates atuava pelo Botafogo de Ribeirão Preto, equipe em que iniciou a carreira em 74. A partida foi 0x0. Naquele jogo, o Dr foi anulado pelo zagueiro bugrino Amaral, aquele que formou a “muralha campineira”, na Copa de 78 (Argentina), na dupla de zaga com o pontepretano Oscar.
Mas voltando ao belenense ou belemenense, como se chama quem nasce em Belém , do Pará, como é o caso de Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ele fez 10 partidas em Copas do Mundo pelas seleções de 82 e 86, ambas dirigidas pelo técnico Telê Santana, fez 4 gols, dois em cada uma das Copas em que atuou. O outro Dr (Tostão) atuou em sete partidas, nas Copas de 66 (Inglaterra) e 70 (México), fez 3 gols, sendo dois deles numa única partida, contra o Peru, em 70.
Uma curiosidade em relação do Dr. Sócrates, em ambas de suas Copas, é que ele fez gols em jogos de estreias, o que já os torna importantes, e, em duas oportunidades, fez gols em que o Brasil estava perdendo, concretizando assim os empates. Isso ocorreu em 14 de junho de 82. Até os 30 minutos do segundo tempo, o Brasil perdia de 1x0 para a URSS, que tinha anotado seu gol com Ball, aos 34 do primeiro tempo, numa falha incrível do goleiro Waldir Peres, revelado pela Ponte e que atuaria também no Guarani.
Sócrates fez um golaço, limpando dois adversários e batendo forte para o gol. O Brasil viraria o jogo com outro golaço de Éder. Sócrates só voltaria a marcar, naquela Copa, no jogo chamado de a “Tragédia do Sarriá”, em 5 de julho, quando fomos eliminados pela Itália, que nos venceu por 3x2, com 3 gols de Paolo Rossi. O Dr anotou o gol do primeiro empate, aos 12 minutos do primeiro tempo.
Em 86, Sócrates marcaria o gol da vitória na estreia contra a Espanha e voltaria a fazer um gol (de pênalti) na goleada de 4x0 contra a Polônia. Mas, a exemplo de 82, o Brasil voltaria a ser eliminado nas quartas de final, dessa vez nos pênaltis e pela França, após empate em 1x1 no tempo normal e na prorrogação. Curiosamente, foi Sócrates quem bateu (e mal) a primeira penalidade, facilmente defendida pelo goleiro Batts.
A exemplo de Zico, Falcão e Careca, Sócrates foi injustiçado pelos deuses do futebol, pelo menos em Copas, não chegando a almejados e merecidos títulos. No dia 4 de dezembro, um dia de Corinthians (time que Sócrates fez história com a democracia corintiana e principalmente com belos gols, sempre comemorados com o braço direito erguido e punhos fechados) campeão brasileiro, talvez os mesmos deuses desse esporte o convocaram para a seleção celestial, deixando aos que ficaram saudades e videotapes de jogadas, sendo sua especialidade o calcanhar, com o qual dava passes desconsertantes e fez gols, muitos gols...