Nosso Eterno Adversário

Por Sérgio Lisboa | 07/03/2008 | Crônicas

Eu tenho uma teoria de que as pessoas que concorrem com a gente, tem sempre o mesmo aspecto e perfil físico.

Acho que descobri um furo no mapa pré-estabelecido dos nossos destinos.

Tem um personagem designado com o mesmo biótipo, pelo menos para essa vida, para concorrer conosco.

Não quer dizer que ele seja o nosso algoz ou que esteja ali para nos prejudicar, ele é nosso eterno concorrente e, vejamos assim, o nosso adversário para as disputas que o vídeo-game da vida nos dá.

Para uma partida de xadrez, jogos eletrônicos ou qualquer disputa, seja de canastra ou de pingue-pongue, é preciso um adversário. Um bom adversário, diga-se de passagem. Quer dizer, não tão bom que não nos deixe ganhar todas.

Vocês sabem! Ganhar é fundamental. Ninguém encara uma disputa, dizendo: "Vou ali dar uma perdidinha e já volto".

Mas voltando ao nosso eterno concorrente, pelo menos para mim, ao longo da vida, o concorrente que eu tive, disputando a primeira namorada, o primeiro jogo de bolitas, a primeira nota dez na escola, a primeira vaga no emprego, a primeira disputa no meu início em vendas, era uma cara, baixinho, magrinho e de óculos.

Eu posso dizer que isso acontece e sempre aconteceu comigo e, talvez, se vocês pararem para pensar e começarem a recordar, não começam a juntar as peças e passem a ver melhor quem esteve sempre presente nas disputas do prato de comida que a vida lhes ofereceu.

Quem sabe aquela magrela ruiva, com aquele olhar de peixe morto não fosse idêntica a que te deu uma rasteira, na tua primeira comunhão?

Hein?!

A cara dela não te parece familiar em cada um dos teus piores momentos?

E aquele gordinho orelhudo da outra sala, não te lembra ninguém, lá da tua infância, quando a última vaga da creche que a tua mãe iria te colocar foi preenchida?

Hein?!

Te cuida com a tua vaga nesse emprego, fica de olho!

O meu eterno concorrente foi forjado para lutar comigo na arena da vida, sendo magrinho, baixinho e de óculos.

Quando eu encontro um, em qualquer parte, eu já fico com o pé atrás.

Eu preciso me controlar, pois um dia desses, entrei num consultório psiquiátrico, para pedir uma informação, e o médico, que era magrinho, baixinho e de óculos, bem simpático, falou sorrindo: "Do que se trata?"

Já saltei na hora:

-Não me trato de nada, seu safado! Louco é teu pai!

Podem vir que eu enfrento. Vou perder algumas batalhas e ganhar outras.

Virtudes e defeitos todos nós temos, e eu nem penso em reclamar, porque daqui a pouco eles mudam a programação lá em cima e me mandam um com a cara e o corpo do Giannechinni.

Sérgio Lisboa.