Nos tempos da onça

Por Vinicius D' Amato Vaz | 26/04/2016 | Economia

Meu avô tinha a mania de usar a expressão “nos tempos do onça” pra se referir a algo que tinha acontecido há muito tempo atrás. Ele nunca soube me dizer de onde tinha saído isso (“dos tempos DO onça”), mas sempre que a usava, a gente sabia que o caso era antigo.

Planeje bem antes de agir.

Mas atualmente eu tenho usado uma corruptela dessa expressão pra definir a crise atual: estes são “os tempos DA onça”. Porque a onça é um bicho “artinhoso”, chega sem fazer o menor barulho e, quando você se dá conta, ela já está baforejando no seu pescoço, sem ter o que fazer. Lá, nos tempos DO onça, meu salário era suficiente pra resolver minhas contas, ter bons momentos de lazer e ainda dedicar uma parte a comprar algo maior, como um carro ou uma casa. Bobo que fui, não fiz nada disso, apostando que os tempos ficariam mais favoráveis. Mas agora os tempos são DA onça. Eu tinha me planejado pra dar início ao financiamento da minha casa própria ou então entrar pra um consórcio de automóveis, mas com a crise que estamos vivendo, tive que ponderar muito sobre o que faria.

Na ponta do lápis

Ok, eu havia previsto muito mal o futuro; achei que ia estar de um jeito, mas ficou de outro. Então um estrago já estava feito. Ponto. Agora é remodelar os planos, ao invés de remoer o planejamento antigo como se fosse possível mudar a sequência dos fatos. Resiliência.

Eu tinha muita vontade de comprar minha própria casa e sair de vez do aluguel, mas eu sabia que isso seria uma realização de longo prazo que me impediria de começar novas conquistas por, pelo menos 15 anos. A crise tem forçado os donos de imóveis a baixar os preços de venda, o que faz este momento parecer muito bom, mas mesma assim é um plano muito longo. Se eu quiser comprar meu carro nesse intervalo, não vai poder ser um carro zero, nem um semi-novo melhorzinho, por causa do valor à vista. E as parcelas de um consórcio de automóveis ou financiamento junto com as parcelas da casa não deixariam espaço nem pra um cachorro-quente no fim do dia. Acabei optando pelo consórcio de automóveis, mesmo, porque era um investimento de médio prazo; logo depois dele, eu poderia dar entrada na minha casa.

Antes de comprar um carro, veja a sua situação financeira.

Essa foi uma decisão importante, por causa da brincadeira do cachorro-quente ali em cima. Se você compromete tanto da sua renda que não sobra nem pra um mísero momento de lazer, então tem coisa errada aí. Não se pode viver com a sensação de estar deixando todo o seu dinheiro para os credores, enquanto você termina o dia 15 sem nada no bolso. Isso não é vida. Então anote isso aí: TEM que sobrar algo pra você investir em você mesmo  quando suas contas estiverem todas pagas.

Resoluções para os anos próximos

O plano que entrei me permitia o pagamento de parcelas mais baixas (até porque eu não queria um carro topo de linha, por ter manutenção muito mais cara), então, além de sobrar pra mim mesmo no fim do mês, ainda sobrava mais. Esse “a mais” eu comecei a guardar numa conta poupança que abri com uma única finalidade: equipar minha casa.

Ué, mas se eu tinha adiado o plano de comprar minha casa, pra quê sair comprando as coisas? Bom, na verdade, eu não saí comprando as coisas, mas passei a guardar dinheiro para compra-las quando iniciasse o financiamento da casa. Como o consórcio do carro levaria mais ou menos dois ou três anos, até lá eu já teria o suficiente para pagar por todos os móveis e eletros que precisasse à vista – o que me permitiria, ainda uma ótima negociação com a loja. Poderia economizar um bom valor, e com esse valor eu poderia fazer outras coisas, pra casa mesmo, ou pra mim.

Se você está numa situação parecida com a minha, não deixe de se planejar levando em conta a situação atual, o que é possível fazer HOJE com o que você TEM e PODE fazer. Esqueça o que tinha planejado anos atrás e que não foi posto em prática, pois isso já é passado e o presente está bem diferente daqueles dias. Pense nos prazos, imagine-se passando por esse prazo todo (inclusive, prevendo imprevistos) e faça as contas coma cabeça fria de um contador. Suas chances de sucesso ficarão mais altas.