Nos Cumes do Desespero de Emil Cioran

Por Antonia Derivania Melo Sousa | 21/08/2014 | Filosofia

Resenha: Nos Cumes do Desespero de Emil Cioran Antonia Derivania Melo Sousa Este trabalho tem o intuito mostrar através da obra do filósofo Emil Cioran, Nos Cumes do Desespero, a finitude da existência humana. O filósofo expressa pensamentos que deixam muitos leitores perplexos com a profundeza do assunto. Mas, o mesmo se surpreende com pessoas pensarem o corpo como se fosse uma ilusão, sem entender como o espírito pode ser pensado como algo fora dele, sendo que as pessoas não tem consciência de si, e das partes que compõe o próprio corpo. Considerando o espirito uma anomalia, Cioran diz: [...] Como é que puderam conceber vida na ausência do corpo, como puderam conceber uma existência autônoma e original do espírito, só quem é saudável e inconsciente é capaz de tal efeito. O espírito é fruto de uma doença da vida, assim como o homem não passa de um animal adoentado. A existência do espírito é uma anomalia da vida”. (p. 62) Por não saber diferenciar o que é bom do que é ruim, e aquilo que pode ou não ser permitido, Cioran sente um enorme desprezo pela ideia de não querer conhecer o mundo, pois, para ele o mundo não é digno de ser conhecido. Em outro ponto de vista de Cioran, há duas maneiras de sentir solidão: sentir-se sozinho e sentir a solidão do mundo, é neste sentido que ele fala de um viver individual, sentir-se abandonado. Mais ainda, que o sofrimento só existe para algumas pessoas e que muitas vezes serve para afirmar através da Divindade a prova de um mal ou descrença. O sofrimento é algo que o impressiona tanto que não seria capaz de descrever a apologia do sofrimento. De acordo com Cioran o sofrimento é durável, acreditando que todo sofrimento seria como um abismo. Além do sofrimento, ele argumenta sobre o suicídio. Para ele algumas pessoas são covardes ao afirmarem que o suicídio é uma afirmação da vida, mas, ninguém se suicida por causa de acontecimentos exteriores, e sim do próprio desiquilíbrio interior e orgânico. Cioran despreza os que ridicularizam o suicídio por amor, pois eles são incapazes de compreender que o amor irrealizável representa para quem ama uma anulação do próprio ser, perda de sentido e impossibilidade de existir. Interessante quando ele fala das grandes paixões não realizadas que levam mais rápido a morte de que grandes doenças. Existem dois tipos de pessoas que ele admira, são as que enlouquecem e as que se suicidam a qualquer momento, por que nelas fervilham grandes paixões. Por ele admirar os que se suicidavam, não fez com que ele cometesse tal atrocidade, embora não tendo a ideia do que estava fazendo no universo e se sentindo como uma terrível criatura, expressando da seguinte forma: [...] Sinto-me como a mais terrível criatura que já existiu na história, sinto-me como uma besta apocalíptica repleta de chamas e trevas de elãs e desesperos. Sou uma fera de sorriso grotesco, que se contrai em si própria até a ilusão e a dilata até o Infinito, que morre e cresce ao mesmo tempo, encanta entre Tudo e Nada, exaltada entre a esperança do Nada e o desespero do Tudo, criada entre perfumes e venenos, abrasada pelo amor e pelo ódio, aniquilada por luz e sombras”. (p. 70) O grau de autoconhecimento é causado pelo lirismo absoluto, só se faz presente em momentos capitais, sendo o mesmo ligado à morte. Interessante à maneira como Cioran fala sobre os que possuem a graça, no sentido da pessoa não possuir paroxismo, mas quem possui a graça não quer dizer que esteja totalmente livre dos tormentos, mas, é mais fácil de se livrar dos desesperos. Para ele a graça se faz mais presente nas mulheres de que nos homens, por que elas são mais equilibradas, não foi conveniente falar sobre a nulidade da mulher, como se ela fosse um objeto. Quando o filósofo fala dos cumes, não se refere necessariamente de altura, mas sim em desespero, nos mais terríveis abismos. Para ele só existe cumes abissais, pois quem está em cima estará sujeito a despencar a qualquer momento. O filósofo fala sobre a compaixão de uma forma que só a tivesse se não fôssemos humanos, mas quem tem sentimentos sente comiseração pelo outro, e não é por que sofremos que não sentiremos compaixão. Mas isso não é motivo que alguém faleça pelo outro, mas é uma das causas de ajudar o próximo. E quanto a Jesus, não foi de sua vontade ter morrido, mas a vontade do Pai, justamente para mostrar que além da existência finita na Terra, existe vida após a morte. De acordo com Cioran o momento da eternidade se refere à existência enquanto vivida e viver só é percebido através da experiência com intensidade a cada momento. Para ele não vale a pena participar do mundo histórico, por que para isso teria que ultrapassar a história do passado, presente e futuro quando não tivessem mais nenhuma importância. Concordo com a critica que ele faz sobre a existência de pessoas que não vivem o presente, mas vivem na lembrança do passado. Negando todo o passado e não querendo mais viver historicamente, Cioran é invadido por uma imensa tristeza sem querer mais apreciar nada, nem mesmo o belo. Pela angustia de viver, se convence de que o homem é um animal infeliz, para ele o individuo é o que tem a ideia e vive historicamente, mas às vezes deseja ser qualquer coisa, menos ser homem, em seu pensamento ser um não homem. Cioran comenta: “[...] Mas quem sabe o que significa ser homem procura se tornar qualquer coisa, exceto homem. Se fosse possível, eu me transformaria todo dia numa determinada forma de vida animal ou vegetal.[...] Pois, se a diferença entre homem e animal reside no fato de o animal não poder ser nada além de animal, enquanto o homem pode ser não homem, ou seja, outra coisa não ele mesmo – então eu sou um não homem.” (p. 84-85) Para os que possuem alegria se torna fácil recomendar a qualquer outra pessoa, mas, aos que não são susceptíveis fica difícil obtê-la, principalmente aos que são impossibilitados diante de tormentos de loucura. Na visão de Cioran não existe ninguém que não tenha passado por algum remorso na vida. O sofrimento é a razão de tudo, da melhor ou pior situação, por isso ele diz: “[...] O que melhor tem em mim devo ao sofrimento; mas também a ele devo tudo que perdi na vida. Por isso, o sofrimento não pode ser amaldiçoado nem amado. Nutro por ele um determinado sentimento, difícil de definir, estranho e imperceptível, de um encanto análogo à luz crepuscular”. (p. 88) Por fim, das inúmeras razões que negam o sentido da vida, o filósofo apresentou o desespero, o infinito e a morte que para nós são mais evidentes no cotidiano. Tudo vira pó, portanto, para ele tudo se resume ao nada. Referência Cioran, Emil. Nos Cumes do Desespero, 1ª ed. tradução do romeno de Fernando Klabin, Editora Hedra, 2012.

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