NOITE DE LUAR

Por Vania Gomes da Silva | 01/04/2010 | Contos

Era uma noite de luar.  Quase não se via estrelas, tão clara estava a Lua. O mar estava calmo, a maré alta e havia pouco espaço na areia. Mesmo assim, deitaram-se.

Olharam-se. O olhar de cumplicidade era o mesmo de sempre. Uma lágrima caiu na face rosada de Maria. Abraçaram-se. A luz da Lua banhava seus corpos como o clarão de um farol. Voltaram os rostos para o céu, admirando a noite. Só se ouvia o barulho calmo das ondas quebrando na praia. Ninguém por perto, nenhuma música, nenhum assovio. Nem do vento.

Mas o silêncio falava pelos dois. Joaquim soltou um longo suspiro. Um misto de tristeza e de alívio. Maria apertou-lhe a mão e ficaram assim por horas sob o clarão da lua, olhando o céu, ouvindo o mar calmo.

Uma estrela cadente surgiu no céu. Maria fechou os olhos, pedindo que aquela noite durasse para sempre. Olhou para Joaquim e ele também estava fazendo seu pedido. Entreolharam-se e lágrimas rolaram dos olhos de ambos. Chorando, agradeceram a companhia um do outro naqueles tempos de guerra. Abraçaram-se. Um abraço forte, sentido. Viveram juntos momentos difíceis, convivendo com a dor, o sofrimento e a morte de jovens soldados combatentes na França. Não fosse por Joaquim, talvez Maria não suportasse tanta dor e angústia.

Ele fora o homem de sua vida. Filha de imigrantes portugueses, Maria deixara de ser virgem durante a guerra e vivera com intensidade aquela paixão. Não queria mais cuidar de soldados feridos e doentes, mas também não queria que a guerra acabasse, pois com ela cessaria aquele amor.

A guerra acabara, ambos salvaram-se, estavam vivos, mas era o fim. O médico do hospital dos combatentes voltaria para o Porto, em Portugal, onde sua esposa o esperava com seus filhos. Sim, era a última vez que Maria via Joaquim.