No Parque

Por Yan Cruz Santos | 14/09/2015 | Contos

Era só mais um dia bobo na visão de uma ex-criança, tudo o que ele gostava estava perdendo a graça e cada vez mais era chamado de "rapazinho" ele odiava essa expressão. O que significava isso? Ele não entendia nada sobre essa tal de puberdade. Todos os amigos e amigas mudando gostos e brincadeiras, aliás, que brincadeiras? Isso era coisa de criança, não que ele não gostasse disso só não entendia porque tudo tinha que mudar tão rápido, ter que deixar os bonecos, numa caixa, o mais frustrante era não conseguir ver vida neles, a vida é cíclica e aquele ciclo havia acabado, apesar dele não entender o significado dessa palavra, a mãe quem disse isso. Ele só queria que essa puberdade chegasse logo e de uma vez, nada de vir de pouco em pouco, o deixando confuso. Pobre João, refletia sobre isso todas as manhãs em seu travesseiro, mas parte da manhã e do resto do dia seria roubado para ir num parque bobo, só porque sua irmã mais nova queria ver uma apresentação de circo.
- JOÃO LEVANTA. (essa era sua mãe aos berros, isso o incomodava cada vez mais)
- Já vou mãe, to indo tomar banho.
- Cinco minutos.
Lá foi João para o banheiro, tomou o banho mais rápido, escovou os dentes, mas não penteou os cabelos. Foi até a gaveta, pegou qualquer roupa, não estava a fim de se arrumar para ir para esse "mero parquinho" desceu sentou no sofá para esperar o resto da família, mas quando a mãe o viu soltou:
- Vai trocar de roupa agora moleque, eu não vou sair com você parecendo um mendigo.
E lá foi João para o quarto trocar de roupa, pegou uma boa roupa e quando desceu foi direto para o carro, sentou-se no banco de trás do lado direito e recostou a cabeça na janela, não disse uma mera palavra até chegar ao parque só observou as paisagens que a cidade lhe trazia viu uns garotos jogando bola, cachorros brigando por um pedaço de osso, os grafites nas paredes, ele adorava esse tipo de arte, mas naquele dia o que mais chamou atenção foi um casal de namorados ele não compreendia aquele tipo de sentimento, ele começava achar as garotas bonitas e cheirosas, mas enfiar a língua na boca delas... Há, isso era meio nojento, vai saber onde ela colocou essa boca?! Ele tinha um amigo que comia cola, imagina se as línguas pregassem?! Não gostava nem de pensar nisso na maioridade dos seus onze anos.
Chegando ao parque o pai encontrou um velho amigo do trabalho, um senhor de idade com um belo sorris, o cabelos grisalhos, lembrava dele de um churrasco da empresa há alguns anos, mas quem chamou atenção foi à companhia dele, uma garota loira de olhos castanhos quase negros, a pele branca... Parecia um anjo, ele sentiu uma coisa nova, ficou confuso e paralisou o olhar nela, nem percebeu o pai o apresentando ele para o amigo e para garota, ele havia perdido toda a conversa todos os ruídos tudo que estava a volta, focou nela e só saio deste estado porque a irmã o empurrou tropeçou e caio aos pés dela. Naquele momento queria sumir, mas não tinha esse poder, se limitou a levantar a cabeça devagar com as bochechas vermelhas de tanta vergonha, quando seus olhos encontraram o dela ela sorriu e ele viu ali a coisa mais impressionante na sua curta existência.
– Eu sou João - gaguejando, ela voltou a sorrir e puxou ele pelo braço para longe do grupo, enquanto se afastava se perguntava porque ela tinha feito isso, se solto e perguntou – Por quê?
Ela disse
- O balão! - Ele olhou para cima e viu um balão vermelho indo para longe, só veio na cabeça ir atrás do balão.  Correu e quando se aproximou saltou e pegou o balão, caio de novo, o balão quase escapou mais ele conseguiu segurar e erguesse rápido com um sorriso, foi em direção a ela com o balão.
- Você quer?
- Sim, é meu me devolve!
- Só se você me disser seu nome!
- Gabriela, agora me dá meu balão.
- Tá bem, mas você não é grandinha para ficar fissurada nesse balão?
- Isso não é brinquedo e você é um bobo por não perceber. - Se virou e saio andando.
- Espera não vai, vamos...
- O que brincar?
- Não, somos grandes demais para isso!
- O que vamos fazer então?
- O que os adolescentes fazem.
- Beijar!?
- Não, é nojento! Vai saber o que você colocou nessa boca.
- Minha boca e bem limpinha seu besta! Então o que vamos fazer?
- Não sei só não vai embora.
- Eu já sei vamos ser crianças uma última vez depois de hoje seremos adolescentes.
- Está bem.
E ela sai correndo através da multidão só restou segui-la, chegaram até o grupo de familiares e ela pediu graciosamente dinheiro ao seu avô que a deu com o um sorriso enorme que demonstrava o quanto ele amava aquela pequena princesa e só dele sorrir para ela, se tornou um herói para o pequeno João porque ela sorria de volta e ela sorrindo era a coisa mais linda que ele já tinha visto, virou-se para o pai e pediu uns trocados para poder brincar pela última vez ao lado seu. Ele não sabia o nome daquele sentimento mais era o melhor que já havia sentindo, era uma mistura de tudo que era bom, o pai deu passes para os brinquedos e alguns trocados, e os dois partiram para a última tarde da infância em suas vidas.
Depois de andarem até sumir da vista da família ela parou e olhou para ele e sorriu ele se sujeitou a sorrir de volta ainda com um pouco de vergonha. Toda vez que há olhava nos olhos se sentia completo, e todas aquelas duvidas que dominavam o pensamento eram resolvidas só de olhar para ela, depois de alguns segundos a olhando ela o pegou ele pela mão e arrastou-o até a pequena montanha russa. Quase não entraram por causa da altura e antes de sentar no carrinho, ela amarrou o balão na grade de proteção. Entraram no carrinho e se sentaram e logo a frente deles um casal de adolescentes beijavam-se, e ela se virou para ele disse
- É esse e nosso futuro.
Imaginar beija-la não era nojento.  Enquanto pensava na cena, o carrinho partiu os pegando de supressa com uma rápida arranca, ela pegou a mão dele e aperto, depois a segurou como se se sentisse segura e ele também se sentiu assim, e a volta na montanha russa não foi tão ameaçadora, os gritos eram de alegria não de medo por causa da altura ou velocidade.
Logo depois partiram para casa de espelhos onde brincaram por quase uma hora junto ao balão vermelho, através dos variados tipos de espelhos que proporcionavam todas as formas possíveis magros, altos, gordos e baixos e misturando essas formas. Em todas, ela era a coisa mais linda do mundo.
Saindo de lá foram comer cachorro-quente. Foram ao carrinho de bate-bate depois comeram algodão doce e depois foram ao barco. O frio na barriga quando ele subia e descia o fazia sentir muito medo, mas não queria demonstrar na frente dela.  Saindo do barco viking ela quis comer pipoca e foi correndo em direção ao carrinho ele foi atrás, e ela sempre com o balão no braço para que o vento não a levasse embora. Quando chegou perguntou porque não largava o balão, ela pediu pipoca doce e disse que era um presente do avô de quando chegaram ao parque e disse para soltar quando ele encontrasse uma lembrança eterna.
Ele começou a refletir, para ele tudo aquilo que haviam feito seria eterno, será que ela não sentia a mesma coisa? Ela o pegou pelo braço e o arrastou até o jogo da argola e pediu um urso que segurava um balão, ele pediu três fichas e ganhou nove argolas, para ganhar o urso tinha que acertar cinco, e logo errou as cinco primeiras e viu-a ficar triste, o moço da barraca disse a ele que se acertasse as quatro argolas que restaram, ele a deixaria levar o urso. As três primeiras entraram com facilidade, mas a última penou a cair, caiu e ela ficou tão feliz que beijou a sua bochecha e ele se sentiu como se pudesse voar. De lá foram para o circo ver a última apresentação do dia, os pequenos ficaram extremamente impressionados com as apresentações, principalmente com as piruetas no céu do picadeiro. Os palhaços se denominavam "assassinos da tristeza", a mulher corajosa que ficava parada no centro do alvo, onde o cara da barraca lançava as facas, mas o que os dois mais gostaram foi a apresentação da bailarina e seu parceiro que através dos passos os fazia entender o que sentiam, os olharam se encontraram durante as apresentações e o coração acelerava a cada vez que se olhavam durante o ato. Quando acabou, ela levantou e saio correndo, confuso tentou ir atrás dela, mas a perdeu na multidão abaixou a cabeça e quis chorar; quando a lagrima começou a escorrer através da bochecha a bailarina pegou no seu ombro e apontou a direção certa, secou as lagrimas e foi.
Quando a encontrou, estava parada em frente a roda gigante com o balão amarrado ao braço e o seu belo sorriso o olhando, se aproximou e ela disse:
- O tempo ta acabando, temos até o sol se pôr vamos.

- Ela se virou e entrou na cabine da roda gigante. 
Ele foi atrás e os dois ficaram calados se olhando tímida e apaixonadamente até que a roda gigante parou e os dois olharam o céu totalmente laranja, se aproximaram até que seus lábios se encontraram e meio sem saber o que fazer foi dando selinhos até que virou um beijo de amor verdadeiro e inocente, quando terminou ela abriu a porta da roda gigante ainda parada e soltou o balão vermelho no céu laranja que foi desaparecendo enquanto a roda gigante girava até chegar ao chão. Ele sorriu e viu que era verdadeiro sabia que aquele dia seria eterno na lembrança daqueles dois adolescentes. Saíram da roda gigante de mãos dadas e foram até o estacionamento onde encontraram os familiares e cada um tomou sua direção.