No mundo das nuvens.
Por JOAQUIM SATURNINO DA SILVA | 02/02/2010 | CrônicasPor tudo que posso me lembrar, tenho a certeza de jamais ter visto uma nuvem quadrada. A natureza parece amar mais as curvas e a suavidade, do que as arestas.
Por isso, pela falta que me faz amar, amo.
Detesto o vazio das idéias prontas e repletas de arestas, que nos cercam.
A primeira vez que me chamaram de louco, confesso que não gostei. Mas hoje sei que esse é meu melhor título. Pois prefiro as loucuras de uma poesia, do que a violência contida nas palavras ditas sem amor, pontiagudas como as arestas de um triângulo agudo.
Quando cheguei aqui, depois de algum tempo, descobri que nada veio comigo a não ser eu mesmo. Mas, antes disso, tive que me perder de mim, para sentir a falta que me faço. Mas não estou completo ainda. Não resgatei toda a criança que fui.
E o sol que bate em meu rosto sempre me diz como me levantar, depois de cair. Como sorrir, depois de chorar. Ou vice-versa.
Gosto de olhares sinceros. Eles não possuem arestas, são como a natureza, diretos e objetivos, mesmo – e principalmente – sem nada querer.
Já senti o jugo de meus ideais, mas hoje vivemos em paz, se vierem realizados serão bem vindos. Se nunca chegarem desta forma - nem mesmo isso - será razão para abalo da esperança. Curiosamente, quando deixei de desejar tanto, as coisas começaram a caminhar na minha direção.
Descobri, quase sem querer, que a ansiedade é o mais imenso obstáculo que podemos colocar entre nós e nosso sonho realizado.
Aprendi o amor pelas conversas francas. Aquelas em que o som das palavras possui estreita harmonia com o olhar e os gestos, nestes casos sempre serenos. Sim, amor a gente aprende. Só depois ele acontece.
Pelo tanto que me foi dado observar até agora, pude notar que a paz na vida, de verdade, é aquela que nos acompanha quando estamos prontos para ir embora a qualquer momento.
Todos os meus instrumentos se resumem em um corpo dotado de pés para caminhar, mãos para tocar, uma mente para processar as informações e um coração para suavizar os resultados.
Carrego todo o meu tesouro comigo. E os amigos me ajudam a mantê-lo. E da amizade só posso dizer: ela não precisa de razões para nascer, mas, uma vez nascida, passar a ter todas as razões do mundo para jamais morrer.
Quando intensa ela quase se confunde com o amor. Nestes momentos de perigo, a “bússola da razão” precisa ser consultada.
De todas as arestas desta vida, a pior delas se chama medo. É como uma espécie de véu que encobre a beleza das coisas e só revela – ou projeta - lados sombrios.
Só perdemos quando temos medo de perder.
Por tudo isso, é que me perco na observação das nuvens e suas formas serenas, muitas vezes moldadas pelos meus próprios pensamentos.
Deitar-me na grama e observá-las, sempre foi e será um exercício agradável, tanto quanto caminhar descalço sob a chuva.
Viver no mundo das nuvens, nem sempre é algo negativo. Pode nos ensinar, por exemplo, que a liberdade do pássaro que voa é igual à nossa. A única diferença é que ele a exercita e nós a esquecemos, ou entregamos para estranhos domínios.
Tenho para mim que se, um dia, a maioria dos homens parar um instante por dia para contemplar e pensar sobre o que os cerca, a vida será bem melhor.