Ninguém Sonha Em Ser Gari

Por Sérgio Lisboa | 23/03/2008 | Crônicas

Todo mundo tem um sonho e, geralmente, esse sonho está associado a uma profissão.
Até mesmo um profissional bem sucedido, não raramente, confessa que gostaria de fazer, quem sabe um dia, uma outra atividade.
A gente até acredita no que eles falam, mas é duro ouvir do Presidente da Microsoft que o seu sonho é abrir uma loja de consertos de guarda-chuvas.

Sempre que algum entendido define o que é ser feliz, não fala outra coisa senão o famoso “fazer o que se gosta e ainda ganhar para isso”.

Quando se é jovem e nem sequer entrou no mercado de trabalho, quando ainda se está iniciando e agarra a primeira coisa que aparece, ou quando já não se é tão jovem e quase não tem muito tempo para mudar de profissão, muitas vezes imaginamos fazer uma outra coisa, realizar um sonho.
Este anseio de um dia realizar esse sonho, serve como incentivo para continuarmos lutando, para continuarmos vivendo.

Muito mais do que uma simples cenoura amarrada na extremidade da vara, essa esperança é o que nos faz levantar de manhã e acreditar que, se as coisas não estão tão boas no momento, ainda estamos no controle, pois temos um plano.

O grau de dificuldade de nossa escolha é que pode fazer a diferença entre a desilusão e a realização, entre a depressão e a felicidade.
Sonhar em ser um jogador de futebol famoso ou um líder mundial é um pouco mais complexo de se realizar do que sonhar em ser um gari ou uma empregada doméstica.
Sonhar em ser gari, por exemplo, além de ser uma forma bem mais fácil de realização profissional, é uma tarefa que pode ser muito realizadora, na medida em que se pode contribuir para uma cidade mais limpa, estar em constante contato com o povo e trabalhar ao ar livre.
Mas é preciso ter talento, senão é melhor arrumar outra profissão que exija menos complexidades, tais como apresentador de televisão, comentarista esportivo, Presidente da República, etc.


Os tipos de sonhos que temos é que são os responsáveis por esse quadro de depressão que assola o mundo, em que a mídia só nos mostra pessoas com os corpos mais esculturais possíveis, com os melhores carros, nos melhores lugares, com os melhores empregos. O mais fácil é ter sonhos não tão grandes, e que sejam mais acessíveis de se conseguir realizá-los.

Por exemplo: ao invés de sonharmos em abrir um negócio próprio, podemos fechar o dos outros, fazendo um concurso público para técnico da receita federal.

Ao invés de sonharmos com um mundo mais justo, podemos fazer um concurso para o Judiciário.

Ao invés de sonharmos com uma forma mágica de ajudar a toda a nossa família, basta apenas ter um cargo eletivo.

Enfim, como o melhor do sonho é o recheio, lembre-se que se você errar ao mirar a lua, pode ficar vagando eternamente pelo espaço; se mantiver os pés firmes na terra e cair, do chão você não passa.

Sérgio Lisboa.