Ninguém escuta

Por Ranieri de Lima Damasceno | 21/07/2014 | Crescimento

Preocupante esta realidade em que as pessoas não se ouvem mais. Ou parecem não ter tempo para ouvir uma frase com início, meio e fim. Sujeito + verbo + predicado, como aprendi nos tempos de colégio. As justificativas para tal fenômeno moderno são muitas, certamente. Devo destacar, porém, o imediatismo constante e viciante das comunicações "virtuais", das mensagens de texto, do whatsapp, das redes sociais. Pesquisas já demonstraram que de tanto os jovens se comunicarem ferozmente a todo segundo por mensagens de texto - via smarthphones, tablets e celulares - a parte do cérebro responsável por formar e verbalizar frases quando estão conversando pessoalmente fica seriamente comprometida. O pior é que isto prejudica até mesmo (ou talvez principalmente) o trabalho! Recentemente pedi a um colega que fizesse um orçamento de uma pintura de uma sala comercial para mim, que está em vias de ser alugada. Prontamente fui atendido, em minha mensagem de texto via "Whats App", e aproveitei para pedir que ele fizesse outro serviço, desta vez em meu apartamento, pois precisava furar uma parede e não tenho furadeira. Avisei que quando ele estivesse chegando de carro, haveria vaga disponível na garagem do condomínio, ao que ele simplesmente respondeu "Ok". Qual foi minha surpresa ao descobrir que ele já estava chegando, pouco tempo depois, porém de acordo com sua mensagem, iria "demorar um pouco pois não tinha lugar para estacionar". Liguei para ele na mesma hora, reafirmando o que já havia dito, sobre a vaga disponível dentro do próprio prédio, ao que ele respondeu que "não tinha problema", pois já estava chegando, tinha só "estacionado um pouco longe". Tive que ficar uns bons minutos esperando-o do lado de fora do prédio, no frio, mesmo estando muito doente e sem condição alguma de suportar o vento gelado que atravessava meus ossos, uma vez que estava ainda me recuperando, sob medicação, de uma crise fortíssima de sinusite, dor de garganta, febre, gripe etc. No dia da pintura da sala comercial, pedi a este mesmo colega que me avisasse quando estivesse indo para o local, uma vez que precisava renegociar os valores com ele, que estavam um pouco altos. Para minha surpresa (de novo!) ele não só tinha ignorado totalmente minha mensagem pedindo que me avisasse como já havia começado os trabalhos na tal sala! Tive que falar, desta vez em tom um pouco mais ríspido, que o motivo pelo qual eu precisava ser avisado antes era justamente para que ele não começasse o serviço sem minha autorização e orientação, uma vez que, até então, estava disposto a renegociar os valores e deixar que ele mesmo fizesse a pintura. Diante de comentários um pouco infelizes da parte dele, estou agora em busca de outros profissionais que façam a pintura da sala comercial em questão. Em outro exemplo muito recente, solicitei a um serviço expresso de motoboy que um deles buscasse uma receita médica para mim e entregasse em mãos em meu apartamento. O rapaz, solícito, foi rapidamente, porém ao entregar a receita médica ele imediatamente me chamou a atenção por uma "falta de troco" no valor referente a R$ 1,00 (um real) que eu DEVERIA ter informado à atendente quando fiz a ligação. A questão é que ao pedir o tal troco a atendente já havia desligado o telefone na minha cara! Resolvi que seria desnecessário discutir com o motoboy e somente acenei afirmativamente com a cabeça, desculpando-me. Mesmo assim, fico pensando constantemente o quão prejudicial é esta falta de paciência para escutar o que o outro tem a dizer. Quando não ouvimos nosso cliente, corremos o risco de perder a venda ou o serviço. Ao não ouvirmos nossos colegas e amigos, corremos o risco de "manchar" nosso nome com as pessoas que nos cercam e que nos querem bem. O problema é muito mais grave do que se imagina. Desenvolvamos, pois, um mínimo de tolerância e paciência. Que tenhamos humildade para sanar nossas dúvidas e aguardar que nosso interlocutor(a) manifeste as dele(a). Seria um bom começo.