Nevoeiro Em Paquetá

Por Marcelo Cardoso | 14/04/2008 | Sociedade

Há manhãs em que o dia parece que se esconde com preguiça de acordar ... É como se o Sol houvesse puxado a cortinazinha cinzenta do seu quarto para continuar o seu descanso, enquanto espesso nevoeiro, acompanhado de uma brisa fria, avança pelo mar, a ocupar o espaço que seria do Sol, que se atrasou para acordar ... 

Fica tudo cinzento, enevoado ... E a gente só consegue ver o que está a poucos metros de nós ... 

As embarcações perdem o seu rumo, começam a apitar e a fazer piscar as suas luzes verdes e vermelhas para sinalizar os seus caminhos no mar ... 

Nevoeiro ... Cerração ... É claro que a ciência conhece as suas causas, mas já surgiu também na nossa Ilha a seguinte lenda indígena para explicá-lo: 

"Estava começando a madrugada e em breve o dia já iria clarear...Irapuan passara toda a noite pescando nas ilhas ao redor das Jurubaybas e já começava a recolher as suas redes, para regressar para a sua maloca, numa das aldeias de Paquetá ... Mas acontece que Potiguaraçu, o vizinho de quem Irapuan tinha muito ciúme, por causa da beleza de Cunhatã, sofrera sùbitamente uma forte dor no peito que lhe fizera gritar por socorro e logo depois desmaiar, pelo que Cunhatã estava lhe prestando um humanitário socorro ... 

Mas o grande deus do Amor sabia que Irapuan jamais entenderia isso desse jeito e que de modo algum suportaria esse gesto humanitário de Cunhatã, pelo que, então, providenciou para que caísse do céu uma fumaça de orvalho bem espessa, para esconder o que poderia acabar em grande tragédia motivada pelo ciúme e dizem que até hoje continua a ser assim na formação dos nevoeiros em Paquetá ... Sempre que existe o risco de uma incompreensão desse mesmo tipo, o grande deus do Amor providencia a formação de uma intensa cerração, ou nevoeiro, que impossibilite qualquer tipo de navegação, por não permitir que se enxergue nada ao derredor e, assim, todos os barcos têm que ficar parados até se dissipar o nevoeiro, pelo que, ainda hoje, nos dias de grandes cerrações, supõe-se que alguma Cunhatã esteja a prestar algum serviço humanitário a algum Potiguaraçu ...".