Neoplasia Maligna No Município De Ouvidor (GO)

Por Ariela Ferreirea Da Rocha | 16/07/2010 | Saúde

Ariela Ferreira da Rocha; Manoel Rodrigues Chaves
Universidade Federal de Goiás/ Campus Catalão
arielaferreira@hotmail.com
manoelufg@gmail.com

O câncer provocado por exposições ocupacionais atinge as regiões do corpo que estão em contato direto com as substâncias cancerígenas durante a fase de absorção ou excreção, sendo a maior frequência de neoplasia maligna a de pele, pulmão, trato respiratório, cavidades nasais, bexiga, rins e próstata.
A microrregião de Ouvidor, especificamente, tem recebido investimentos na área industrial e na modernização da agropecuária, que por sua vez possui uma importante província mineral com mais de três décadas de exploração.
A implantação de mineradoras tem, como se sabe, vantagens inumeráveis para a sociedade que a recebe, contudo há também fatores negativos preocupantes, tais como a incidência de câncer, sobretudo ao longo do tempo. Nesse sentido, há de se observar que o trabalhador exposto a esses tipos de substância se vê com comprometimento da qualidade de vida senão da própria existência.
objetivo central elaborar um estudo dobre a incidência, mortalidade e fatores de risco e ocupacional relacionados ao câncer na microrregião de Catalão (GO). Para tanto, foi realizado um estudo sobre o aumento dos problemas sócio-ambientais com os fatores ocupacionais e sua relação com a ocorrência dos casos de neoplasia maligna no período de 1976 a 2006 na microrregião de Ouvidor (GO).

PALAVRAS CHAVES: câncer, exposição ocupacional, saúde, meio ambiente

1. INTRODUÇÃO
Nos últimos 30 anos, a região Sudeste do Estado de Goiás passou por grandes transformações de ordem geoeconômica e, em consequência do crescimento das cidades da microrregião Catalão, que abrange os municípios de Ipameri, Campo Alegre, Davinópolis, Três Ranchos, Ouvidor, Goiandira, Nova Aurora, Corumbaíba, Cumari e Anhanguera, houve aumento de problemas de ordem social e ambiental.
A saúde da população está intimamente relacionada à qualidade ambiental e a fatores ocupacionais, fazendo-se necessário conhecer a ordem relativa das causas das doenças e a realidade de cada região. Em decorrência da necessidade de diagnosticar as condições de sanidade ambiental das cidades brasileiras, estudos multidisciplinares neste contexto são cada vez mais crescentes e necessários, para que auxiliem em um planejamento adequado de desenvolvimento, visando a estudar possíveis áreas insalubres e potencialmente causadoras de doenças aos habitantes.
A microrregião de Ouvidor, especificamente, tem recebido investimentos na área industrial e na modernização da agropecuária, que por sua vez possui uma importante província mineral com mais de três décadas de exploração.
Várias indústrias liberam diariamente substâncias cancerígenas sem nenhuma fiscalização, deixando assim seus trabalhadores expostos ao risco de desenvolver câncer. Dentre essas substâncias, destacam-se o nitrito de acrílico, alumínio e seus compostos, arsênico, asbesto, aminas aromáticas, benzeno, benzidina, berílio e seus compostos, cádmio, cromo e seus compostos, sílica, álcool isopropílico, borracha, compostos de níquel, pó de madeiras, radônio, tinturas de cabelo, material de pintura e entre outros
O câncer provocado por exposições ocupacionais atinge as regiões do corpo que estão em contato direto com as substâncias cancerígenas durante a fase de absorção ou excreção, sendo a maior frequência de neoplasia maligna a de pele, pulmão, trato respiratório, cavidades nasais, bexiga, rins e próstata.
Por outro lado, vários fatores ambientais podem sujeitar o individuo a adquirir câncer, como a exposição à radiação solar e ionizante, a contaminação dos solos, água e ar por agrotóxicos jogados irregularmente e frequentemente nas lavouras e/ou através da ingestão de água e alimentos contaminados, da utilização domiciliar e sanitários.
A implantação de mineradoras tem, como se sabe, vantagens inumeráveis para a sociedade que a recebe, contudo há também fatores negativos preocupantes, tais como a incidência de câncer, sobretudo ao longo do tempo. Nesse sentido, há de se observar que o trabalhador exposto a esses tipos de substância se vê com comprometimento da qualidade de vida senão da própria existência.

2. OBJETIVOS
O presente artigo é parte integrante de uma pesquisa ampla, que tem como objetivo central elaborar um estudo dobre a incidência, mortalidade e fatores de risco e ocupacional relacionados ao câncer na microrregião de Catalão (GO). Para tanto, foi realizado um estudo sobre o aumento dos problemas sócio-ambientais com os fatores ocupacionais e sua relação com a ocorrência dos casos de neoplasia maligna no período de 1976 a 2006 na microrregião de Ouvidor (GO).
Outro objetivo é disponibilizar alguns dados sobre a incidência de câncer na cidade de Ouvidor, assim como fazer levantamentos teóricos a respeito dos temas de estudo, como saúde e meio ambiente, Geografia da saúde, Epidemiologia, e também sobre a área de estudo. Da mesma forma, pretende-se abordar algumas considerações sobre aspectos relativos a questões ligadas a meio ambiente e suas influências na saúde das populações.
Também se objetiva verificar a incidência dos casos de câncer para o período considerado e avançar em estudo hipotético sobre diagnóstico dos possíveis fatores de risco e relacioná-los com os dados obtidos nas etapas anteriores.
Este trabalho tem como maior objetivo a construção de mapas e um Sistema de Informação Geográfico (SIG), para dar suporte a estudos futuros na temática saúde, ambiente, fatores ocupacionais e incidência de câncer na microrregião de Catalão que abrange cercar de 10 cidades (Ipameri, Campo Alegre, Davinópolis, Três Ranchos, Ouvidor, Goiandira, Nova Aurora, Corumbaíba, Cumari e Anhanguera).


3. METODOLOGIA
Para desenvolver este artigo, realizou-se uma pesquisa teórica com o objetivo de busca um aprofundamento teórico, principalmente sobre diagnóstico de riscos ambientais e de fatores ocupacionais necessários para os estudos na área da Saúde Coletiva e Geografia da Saúde. E a partir deste recurso metodológico, traçou-se uma relação entre as possíveis influências ambientais (comportamento, saúde ocupacional, meios produtivos, etc.) e o aumento da incidência de câncer, através de dados qualitativos e quantitativos, no período de 1976 a 2006 na microrregião de Ouvidor (GO).
Em etapas anteriores do projeto Mortalidade, incidência e análise de risco: estudo sobre a ocorrência de câncer na microrregião de catalão (GO) ? 1976 a 2006, foram realizadas coletas de dados relacionados aos casos de câncer através dos órgãos de saúde pública dos 11 municípios que integram a microrregião de Catalão. Atualmente esses dados estão sendo analisados no intuito de construir mapas e um Sistema de Informação Geográfico (SIG), para dar suporte a estudos futuros na temática saúde , ambiente, fatores ocupacionais e incidência de câncer.
O município de Ouvidor foi o primeiro no qual a pesquisa concluiu o levantamento de dados de incidência de câncer e mortalidade para todas as causas nos últimos 30 (trinta) anos, o que possibilitou a análise da poluição industrial das mineradoras bem como a relação da exposição a materiais radioativos e fatores ocupacionais.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O câncer é o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo. As células se dividem rapidamente e formam tumores benignos ou malignos. Existem diferentes tipos de câncer que correspondem aos vários tipos de células do corpo e se diferenciam pela velocidade de multiplicação das células e metástases, tais como os linfomas, leucemia, neuroblastoma, tumor de wilms, retinoblastoma, osteossarcoma, sarcoma, carcinoma, melanoma, mesotelioma, entre outros (BRASIL, 2009; 2005).
Essa doença é multifatorial com uma importante interação entre fatores genéticos, fatores ambientais e fatores ocupacionais, estilo de vida, entre outros, que podem atuar de forma combinada (BRASIL, 2009). Diversas exposições endógenas e exógenas podem levar direta ou indiretamente a mutações ou aumentar a probabilidade desses eventos e o desenvolvimento do câncer (TEMPORÃO, 2004). Por outro lado, o tempo é um componente importante para a mensuração de exposição, pois tanto a data do início da exposição quanto a duração são cruciais para se identificar a latência e a dose acumulada (RIBEIRO; WÜNSCH FILHO, 2004).
Nem todos os indivíduos expostos a agentes mutagênicos desenvolvem câncer, uma vez que a mutação é uma conseqüência de alterações cumulativas no material genético (DNA) (RIBEIRO, 2004; DANTAS, 2009). Para isso, contribuem várias características individuais, incluindo aspectos genéticos e comportamentais. No entanto, mesmo depois de instalado um tumor, independente do mecanismo carcinogênico, o sistema imunológico é capaz de modular o crescimento tumoral e o desenvolvimento de metástases, de acordo com o fator genético de cada indivíduo (RUMJANEK, 2004).
A carcinogênese resulta de múltiplas etapas e pode envolver dezenas, até centenas, de genes, por meio de mutações gênicas, quebras e perdas cromossômicas, amplificações gênicas, instabilidade genômica e mecanismos epigenéticos (DANTAS, 2009).
A pré-disposição genética de neoplasias malignas torna-se mais prevalente em indivíduos de uma mesma família. Elas podem ocorrer de diversas formas, tais como: de uma geração para outra; por meio de um padrão de herança mendeliano com cerca 50% de risco de transmissão em cada gestação; idade precoce ao diagnóstico; mais de uma neoplasia em um mesmo indivíduo; vários membros de uma mesma família apresentando a mesma neoplasia e múltiplas gerações acometidas (DANTAS, 2009).
Estima-se que grande parte das neoplasias resulta da interação entre fatores genéticos e ambientais, sendo a contribuição exclusivamente genética responsável por apenas 5% de todos os tumores. A fração restante pode ser atribuída a fatores ambientais que atuam em conjunto com a suscetibilidade genética (ROSSIT, 2004).
Vários fatores ambientais podem sujeitar o indivíduo à exposição ao risco de câncer, como a exposição à radiação solar e ionizante, a contaminação dos solos, água e ar por agrotóxicos jogados irregularmente e frequentemente nas lavouras e/ou através da ingestão de água e alimentos contaminados, da utilização domiciliar e sanitários. (BRASIL, 2006).
A expansão agrícola, particularmente da cultura da soja que consome cerca de 45% dos micro-nutrientes comercializados no país foi responsável pela ampliação desse mercado e da reutilização da escória de fundição e pó de aciaria na atividade siderúrgica e metalúrgica em que, além dos resíduos de cobre e zinco, estão presentes cromo, chumbo, cádmio e ,por vezes, até organoclorados que passam a fazer parte do adubo e são disseminados no ambiente de trabalho, passam aos alimentos e contaminam o ar, o solo e a água (DIAS, 2006).
Uma das principais formas de exposição a agrotóxicos e risco de câncer, ocorre no trabalho. Entre os grupos de profissionais que têm contato com os agrotóxicos, destacam-se: trabalhadores da agricultura e pecuária; trabalhadores de saúde pública; trabalhadores de firmas desinsetizadoras; trabalhadores de transporte e comércio dos agrotóxicos; trabalhadores de indústrias de formulação e a população em geral (BRASIL, 2006).
A exposição aos agrotóxicos pode ser considerada como uma das condições potencialmente associadas ao desenvolvimento do câncer, por sua possível atuação como iniciadores (substâncias capazes de alterar o DNA de uma célula, podendo futuramente originar o tumor - e/ou como promotores tumorais) substâncias que estimulam a célula alterada a se dividir de forma desorganizada (BRASIL, 2006).
Outro desafio é representado pela associação crescentemente observada entre a exposição a agrotóxicos e a ocorrência de cânceres, como, por exemplo, entre a exposição a certos herbicidas e o linfoma não Hodgkin e câncer de tireóide (MS/INCA, 2005).
O câncer provocado por exposições ocupacionais atinge as regiões do corpo que estão em contato direto com as substâncias cancerígenas durante a fase de absorção ou excreção, sendo a maior frequência de neoplasia maligna a de pele, pulmão, trato respiratório, cavidades nasais, bexiga, rins e próstata (BRASIL, 2009; TERRA FILHO, 2006).
De acordo com a Agência Internacional para a Pesquisa sobre Câncer (International Agency for Research on Cancer - IARC) da Organização Mundial da Saúde, atualmente existem 88 agentes cancerígenos para os humanos, dos quais 23 são encontrados em ambientes ocupacionais (RIBEIRO, 2004).
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA) em 2007, houve cerca de 14,8 milhões de pessoas que já morreram por causa do câncer no Brasil. Em 2010, são esperados 489.270 casos novos de câncer no Brasil. Estima-se que o câncer de pele do tipo não melanoma será o mais incidente na população brasileira, seguido pelos tumores de próstata, mama feminina, cólon e reto, pulmão, estômago e colo do útero (BRASIL, 2009).
Em algumas indústrias, não é possível isolar as substâncias cancerígenas das várias fases da produção. Essa exposição ocupacional a cancerígenos é maior nos trabalhadores dos países em desenvolvimento, como decorrência das precárias condições de trabalho e do uso de tecnologia obsoleta (RIBEIRO 2004; WÜNSCH FILHO, 2004). No entanto o risco de exposição às misturas químicas cancerígenas é gravíssimo em vários ramos industriais, tais como na indústria de alumínio; móveis e marcenaria; tratamento do couro, fabricação e reparo de calçados e artefatos de couro; na gaseificação do carvão e produção de coque; na mineração de hematita; na fundição de ferro e aço; na produção de álcool isopropílico, auramina e magenta; na indústria da borracha e nas indústrias que utilizam misturas de ácidos inorgânicos fortes (IARC, 2000).
Apesar de os trabalhadores serem respaldados pela Lei nº 6514, de 22 de dezembro de 1977, acabam sendo vítimas das indústrias, pois o processo de industrialização às vezes não é fiscalizado e/ou regulamentado, provocando impacto na comunidade e no meio ambiente (OLIVEIRA, 2008). Elas introduzem cerca de 3.000 substâncias novas a cada ano, sem que os trabalhadores a elas expostos, tenham consciência dos seus riscos, efeitos tóxicos e/ou cancerígenos (BRASIL, 2009).
Existem várias substâncias cancerígenas sendo liberadas diariamente sem nenhuma fiscalização, dentre as quais se podem destacar o nitrito de acrílico, alumínio e seus compostos, arsênico, asbesto, aminas aromáticas, benzeno, benzidina, berílio e seus compostos, cádmio, cromo e seus compostos, sílica, álcool isopropílico, borracha, compostos de níquel, pó de madeiras, radônio, tinturas de cabelo, material de pintura e entre outros (BRASIL, 2009; TERRA FILHO, 2006 ).
A exposição ocupacional prolongada de nitrito de acrílico pode ocasionar câncer de pulmão, cólon e próstata (BRASIL, 2009).
O arsênico é encontrado em minerações de cobre, zinco e de chumbo, na vinicultura, agricultura em geral e na fabricação e aplicação de pesticidas. Essa substância frequentemente provoca câncer de pulmão, pele e fígado (TERRA FILHO, 2006; BRASIL, 2009; 2005).
A inalação das fibras de asbesto encontradas no amianto causa lesões nos tecidos dos pulmões pela estimulação dos macrófagos alveolares que secretam materiais citotóxicos, quimiostáticos de células inflamatórias e fator estimulador dos fibroblastos (GOLDMAN, 2005). Essa inalação persistente por muitos anos leva o trabalhador a adquirir lesões pleurais benignas, asbestose, câncer de pulmão, mesoteliomas, de serosas, de rins e trato gastrointestinal. No Brasil, ele é proibido desde 1991, pois todos os tipos de asbesto são cancerígenos. Ele é usado para produzir utensílios de cerâmica, materiais de construção, cimento e como isolante térmico de máquinas e equipamentos (CASTRO, 2003; TERRA FILHO, 2006; BRASIL, 2009).
O hábito de preparar os alimentos em fogão a lenha é comum na zona rural, no entanto expõe o indivíduo à fumaça e à fuligem liberada pela combustão incompleta de matéria orgânica, predispondo-o ao câncer de cavidade oral, de orofaringe, de laringe, da cabeça e do pescoço, devido à presença de hidrocarbonetos, alcatrão, metano e acetileno. (OLIVEIRA, 2008; TERRA FILHO, 2006; BRASIL, 2009; SARTOR, 2007).
Com o aumento exarcebado e não regulamentado de carvoeiras na zona rural, o índice de câncer de pulmão, escroto e laringe (SARTOR, 2007), nos trabalhadores, está crescendo exageradamente, pois o queimar das madeiras libera fuligens altamente cancerígenas e ricas em hidrocarboneto aromático policíclico. Este composto cancerígeno também é encontrado na produção de pavimentação asfáltica, carvão puro, ferro, aço, alumínio e entre outros (TERRA FILHO, 2006; BRASIL, 2009).
O benzeno é um hidrocarboneto aromático, usado na fabricação de borracha e de tolueno, e é encontrado na indústria do couro, adesivos, colas, tintas, limpeza a seco, produtos derivados de petróleo, metalurgia e siderurgia e na fabricação de veículos automotores. Ele é um agente mielotóxico regular, leucemogênico e cancerígeno. A exposição pode causar intoxicação aguda e crônica, e pode atingir a medula óssea e provocar leucemia (BRASIL, 2005; 2006; 2009; REBELO, 2004).
O berílio é uma substância encontrada em mineração, refino, indústria de cerâmicas, eletrônica, de equipamentos para indústria aeroespacial, fundição e modelagem de materiais dentários, indústria nuclear, solda, telecomunicações. Ele e seus sais são potencialmente cancerígenos quando há inalação prolongada, podendo causar, além da beriliose (afecção pulmonar causada pela exposição ao pó de berílio) o câncer de pulmão (TERRA FILHO, 2006; BRASIL, 2009).
Quanto maior o tempo e a intensidade de exposição do cádmio, pode-se aumentar a prevalência de câncer pulmonar entre trabalhadores que o manipulam. Os principais usos e riscos de exposição estão na fabricação de pigmentos, fabricação de baterias, fabricação de vidros, pintura, solda e tinturaria em indústria têxtil (TERRA FILHO, 2006; BRASIL, 2009).
O cromo possui diferentes riscos de exposição ocupacional, sendo as principais as envolvidas na fabricação e utilização de pigmentos cromados, aço inox, baterias, indústria gráfica, produção de refratários, fundição de zinco, soldagem de aço inox, e atividades de pintura a revólver (spray) com tinta à base de cromo. Essa exposição pode levar o trabalhador a adquirir câncer de pulmão (TERRA FILHO, 2006; BRASIL, 2009).
A sílica é um composto de dióxido de silício, altamente cancerígena e possui poder genotóxico que pode afetar diretamente o DNA das células e ocasionar câncer de pulmão. A exposição ocupacional ocorre pela inalação de poeira contendo sílica livre cristalizada. Ela pode ser encontrada nas atividades de jateamento de areia, perfuração de poços, minerações de ouro e de diamante, extração e refino de pedras, cerâmicas, perfuração de túneis e galerias, fundição de ferro, fabricação de vidro, indústria da borracha e entre outros (TERRA FILHO, 2006; BRASIL, 2009; 2005).
A exposição do níquel ocorre principalmente no refino do níquel, na produção de aço inoxidável, na fabricação de baterias, entre outros. A exposição do trabalhador a essa substância pode ocasionar câncer de pulmão e dos seios paranasais (TERRA FILHO, 2006; BRASIL, 2009).
O radônio é um gás radioativo nobre, inerte, formado pelo decaimento da atividade do urânio e do rádio. Há um grande risco de exposição ocupacional em mineração de urânio, hematita e ouro, e isso leva o individuo exposto a uma maior probabilidade de desenvolvimento do câncer de pulmão (TERRA FILHO, 2006; BRASIL, 2009; FERREIRA, 2004).
Por outro lado, a radiação é um fator altamente cancerígeno para trabalhadores expostos a ela, pois o DNA é alterado, ocorrendo mutações que podem ou não ser reparadas pelo organismo. A exposição ocupacional pode ocorrer pela ingestão, inalação e exposição direta. O homem sempre esteve exposto à radiação natural, tais como os contidos no solo e rochas, pelos raios cósmicos que chegam à atmosfera, pela incorporação de elementos radioativos provenientes da alimentação e respiração e ainda pelos elementos radioativos contidos no sangue e nos ossos (BRASIL, 2005, FERREIRA, 2004).
O risco de câncer decorrente da exposição a raios X ou gama depende da dose, da duração da exposição, do sexo, da idade em que se deu a exposição e da sensibilidade dos tecidos frente aos efeitos carcinogênicos da radiação (IARC, 2000; FERREIRA, 2004).
Os indivíduos que trabalham na indústria nuclear ou se encontram próximos a equipamentos que emitem radiação, como nos hospitais (raios x), em instituições médicas ou em laboratórios, estão expostos à radiação ionizante, sendo que há um limite de 1 a 10 mSv por ano (IARC, 2000; CNEN, 2004; FERREIRA, 2004).
O câncer é a segunda causa de morte no Brasil, cerca de 30% das mortes poderiam ser evitadas. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de 200 mil pessoas morrem a cada ano no mundo por algum tipo de câncer relacionado ao ambiente de trabalho.
No Brasil, as estimativas, para o ano de 2010, de casos novos de câncer é de 489.270. Os tipos mais incidentes, à exceção do câncer de pele do tipo não melanoma, serão os cânceres de próstata e de pulmão no sexo masculino e os cânceres de mama e do colo do útero no sexo feminino, acompanhando o mesmo perfil da magnitude observada para a América Latina (BRASIL, 2009).
A exposição ocupacional por uso de agrotóxico é responsável por mais de 80% dos casos de intoxicação, dada à intensidade e à frequência com que o contato entre este grupo populacional e o produto é observado. Esta contaminação é observada tanto no processo de formulação, quanto no processo de utilização (aplicação de adubos e fertilizantes) e na colheita, podendo levar o indivíduo exposto a uma dermatite de contato, rinites e conjuntivite, doenças respiratórias obstrutivas, bronquites, asma ocupacional, doença pulmonar restritiva, doença pulmonar intersticial com fibrose, câncer. (MOREIRA, 2002; DIAS, 2006).
Atualmente cerca de 2,5 a 3 milhões de toneladas de agrotóxicos são utilizados a cada ano na agricultura. Esse uso constante e abusivo (LATORRACA, 2008) e/ou aplicação indiscriminada de agrotóxicos nas lavouras afetam tanto a saúde humana quanto ecossistemas naturais. Os impactos na saúde podem atingir tanto os aplicadores dos produtos, os membros da comunidade e os consumidores dos alimentos contaminados com resíduos (SOARES, 2003).
Em contrapartida, os jovens e as crianças que começam a trabalhar cada vez mais cedo estão sujeitos a elevado risco de contaminação. Esse problema é ainda mais preocupante uma vez que várias substâncias utilizadas como agrotóxicos são suspeitas de apresentarem atividade carcinogênica ou hormonal e o fato de o produtor desconhecer a ação da exposição dos compostos sobre o corpo humano e dos riscos associados a sua utilização (MOREIRA, 2002; SILVA, 2005; SOARES, 2003).
Na produção agrícola, o uso inadequado de praguicidas provoca impacto além do aspecto ocupacional, afetando o meio ambiente, os consumidores e os familiares que vivenciam o processo produtivo.
Vários agrotóxicos são usados fora das normas básicas de segurança, devido à falta de fiscalização, e, como consequência, a não aplicabilidade das multas e sanções previstas (MOREIRA, 2002), levando o indivíduo a riscos gravíssimos de intoxicação e neoplasias. Dentre os agrotóxicos usados, podem-se citar o nabam, zineb e maneb, que agem no trato gastrintestinal sendo que parte do composto é metabolizado, e a maior parte (93%) excretada nas fezes e em pequena parcela na urina, podendo provocar leucopenia, danos hepáticos e nas gônadas. Outro agrotóxico, o mancozeb, quando decomposto no ambiente produz etilenotiuréia, composto teratogênico, mutagênico e carcinogênico (LATORRACA, 2008; SOARES, 2003).
Os agrotóxicos são absorvidos pelo corpo humano pelas vias respiratória e dérmica e, em menor quantidade, também pela via oral. Uma vez no organismo humano, poderão causar quadros de intoxicação aguda (o indivíduo pode ter náusea, vômito, cefaléia, tontura, desorientação, hiperexcitabilidade, parestesias, irritação de pele e mucosas, fasciculação muscular, dificuldade respiratória, hemorragia, convulsões, coma e morte) ou crônica (alterações imunológicas, genéticas, malformações congênitas, câncer, efeitos deletérios sobre o sistema nervoso, entre outros) (SILVA, 2005).
A implantação de mineradoras tem, como se sabe, vantagens inumeráveis para a sociedade que a recebe, contudo há também fatores negativos preocupantes, tais como a incidência de câncer, sobretudo ao longo do tempo, causada por substâncias, como o asbesto, cárdmio, clorometil metil éter, berílio, arsênio, níquel, radônio, dentre outras (TERRA FILHO, 2006; RIBEIRO, 2004; MOREIRA, 2002). Nesse sentido, há de se observar que o trabalhador exposto a esses tipos de substância se vê com comprometimento da qualidade de vida senão da própria existência.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista a importância do crescimento urbano e industrial, mais e mais pesquisas devem se aliar ao processo a fim de auxiliar no esclarecimento de dúvidas, bem como no encontro de soluções quanto há choques de interesses e/ou problemas que possam afetar de forma substancial a população, embora esta não o saiba.
Este trabalho procurou assim desenvolver um conteúdo com base na industrialização na microrregião de Catalão voltando-se para a questão do desenvolvimento e incidências de casos de doenças cancerígenas, que podem estar diretamente relacionadas à presença de substâncias inaladas pelas pessoas devido à sua exposição diária após a emissão oriunda das mineradoras locais.
A área da Saúde no geral junto à Geografia vem contribuir para que esse tipo de problemática possa ser solucionado através de uma linha de esclarecimento e busca de caminhos que não interrompam o desenvolvimento sócio-industrial da região, mas que também não afetem a saúde populacional indiscriminadamente.
Nem todas as formas de câncer são causadas pela exposição direta às substâncias, mas a grande preocupação levantada pelo elevado índice de casos aponta que algo deve ser revisto, analisado, solucionado.
Ao longo da história da humanidade, sabe-se que o homem se expõe periodicamente a fatores de risco para o desenvolvimento do câncer, como a exposição aos raios ultravioletas, o contato com substâncias químicas dentre outros; o enfoque desta pesquisa, fatores ocupacionais, constitui um dos aspectos de maior preocupação, senão o que mais verdadeiramente preocupa já que suas consequências são irreversíveis.
O fator ocupação do ambiente, na ótica geográfica, merecer relevância haja vista a situação em que se encontram os municípios que dependem da mineralogia. Assim sendo, conciliar os conhecimentos geográficos à atuação da área da Saúde, constitui uma das linhas mestras para o surgimento de propostas e atitudes que auxiliem no desenvolvimento sustentável da região beneficiando não exclusivamente aos grandes industriais, mas sobretudo a população local, no tocante a esta pesquisa, portanto, a concentração populacional da região de Ouvidor.

6. REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2010: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Prevenção e fatores de risco. Rio de Janeiro, 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Prevenção e detecção: fatores ocupacionais. Rio de Janeiro, 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Vigilância do câncer ocupacional e ambiental. Rio de Janeiro, 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Vigilância do câncer relacionado ao trabalho e ao Ambiente. Rio de janeiro, 2006.

BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de ações programáticas estratégicas. Câncer relacionado ao trabalho: leucemia mielóide aguda ? síndrome mielodisplásica decorrente da exposição ao benzeno. Brasília, 2006.

BRASIL. Lei nº 6514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do Titulo II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo à segurança e medicina do trabalho e dá outras providências. Presidência da Republica, Brasília, DF, 22 dez. 1977.

BRASIL. Portaria n.º 14, de 20 de dezembro de 1995. Acordo nacional do benzeno. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 dez. 1995. Seção 1, p. 21.865 e 21.866.

BRASIL. Resolução CNEN Nº 27, de 17 de dezembro de 2004. Aprova a Norma CNEN NN-3.01 - Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica. Comissão Nacional de Energia Nuclear, 17 de dezembro de 2004.

CASTRO, H.; GIANNASI, F.; NOVELLO, C.; A luta pelo banimento do amianto nas Américas: uma questão de saúde pública. Ciência saúde coletiva. São Paulo. v.8, n.4, 2003.

CECIL, R. L.; LOEB, R. F. Tratado de medicina. 13 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1973.
DANTAS, E. L. R.; SÁ, F. H. DE L.; CARVALHO, S. M. DE F.; ARRUDA, A. P.; RIBEIRO, E. M.; RIBEIRO, E. M. Genética do Câncer Hereditário. Revista Brasileira de Cancerologia. Juazeiro do Norte, v. 55, n. 3, p. 263-269, 2009.
DIAS, E. C. Condições de vida, trabalho, saúde e doença dos trabalhadores rurais no Brasil. Saúde do Trabalhador Rural ? RENAST. 2006.

FERREIRA, A. C. de M. I Fórum Multidisciplinar sobre Ciência, Meio Ambiente e Câncer. Revista Brasileira de Cancerologia. Rio de Janeiro, 2004, v. 50, n. 2, p. 153, 2004.

INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER. Monografias sobre a avaliação dos riscos de cancro nos humanos: avaliação de carcinogenicidade: uma atualização de monografias da IARC. Lyon. v. 42, n. 7, 1987. Disponível em: <http://www.iarc.fr/>. Acessado em 04/01/2010.

INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER. Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans: Ionizing Radiation, Part I: X- and gamma (&#947;) Radiation and Neutrons. Lyon. 2000. v.75. Disponível em: <http://www.iarc.fr/>. Acessado em 04/01/2010.

LATORRACA, A.; MARQUES, G. J. G.; SOUSA, K. V.; FORNÉS, N. S. Agrotóxicos utilizados na produção do tomate em Goiânia e Goianápolis e efeitos na saúde humana. Com. Ciências Saúde. Goiânia.v. 19, n.4, p. 365-374, 2008.

MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M; Fundamentos da metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2007.

MOREIRA, J. C. et al. Avaliação integrada do impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana em uma comunidade agrícola de Nova Friburgo, RJ. Ciência e saúde coletiva. São Paulo. v.7, n.2, 2002.

OLIVEIRA J. C.; MOREIRA, M. A. R.; MARTINS, E.; SILVA, C. M. B.; Mineiro, M. S.; SOUZA, E. C.; CURADO, M. P. A exposição ocupacional como fator de risco no câncer de cavidade oral e orofaringe no Estado de Goiás. Revista Brasileira de cirurgia de cabeça pescoço. v. 37, n. 2, p. 82-87, 2008.

REBELO, P. A. de P. I Fórum Multidisciplinar sobre Ciência, Meio Ambiente e Câncer. Revista Brasileira de Cancerologia. Rio de Janeiro, v. 50, n. 2, p. 156, 2004.

RIBEIRO, F. S. N.; WÜNSCH FILHO, V. Avaliação retrospectiva da exposição ocupacional a cancerígenos: abordagem epidemiológica e aplicação em vigilância em saúde. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro. v. 20, n. 4, 2004.

RIBEIRO, L. R. I Fórum Multidisciplinar sobre Ciência, Meio Ambiente e Câncer. Revista Brasileira de Cancerologia. Rio de Janeiro, v. 50, n. 2, p. 149, 2004.

ROSSIT, A. R. B. I Fórum Multidisciplinar sobre Ciência, Meio Ambiente e Câncer. Revista Brasileira de Cancerologia. Rio de Janeiro, v. 50, n. 2, p. 150, 2004.

RUMJANEK, V. M. I Fórum Multidisciplinar sobre Ciência, Meio Ambiente e Câncer. Revista Brasileira de Cancerologia. Rio de Janeiro, v. 50, n. 2, p. 146, 2004.

SARTOR, S. G.; ELUF-NETO, J.; TRAVIER, N.; WÜNSCH FILHO, V.; ARCURI, A. S. A.; KOWALSKI, L. P.; BOFFETTA, P. Riscos ocupacionais para o câncer de laringe: um estudo caso-controle. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro. v.23, n.6, 2007.

SILVA, J. M.; NOVATO-SILVA, E.; FARIA, H. P.; PINHEIRO, T. M. M. Agrotóxico e trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador rural. Ciência e saúde coletiva. Rio de Janeiro. v. 10, n.4, 2005.

SOARES, W.; ALMEIDA, R. M. V. R.; MORO, S. Trabalho rural e fatores de risco associados ao regime de uso de agrotóxicos em Minas Gerais, Brasil. Cadernos Saúde Pública. Rio de Janeiro. v.19, n.4, 2003.

TEMPORÃO, J. G. I Fórum Multidisciplinar sobre Ciência, Meio Ambiente e Câncer. Revista Brasileira de Cancerologia. Rio de Janeiro, v. 50, n. 2, p. 140, 2004.

TERRA FILHO, M.; Kitamura, S. Câncer pleuropulmonar ocupacional. Jornal Brasileiro de Pneumologia. São Paulo. v. 32, n.2, 2006.