Neo-Realismo Italiano

Por Alba Regina da Silva Azevedo | 19/09/2012 | Arte

O MOVIMENTO NEO-REALISTA

 O Neo-Realismo foi um movimento cultural surgido na Itália em meados do século XX, ao fim da Segunda Guerra Mundial .

 O regime fascista imperava na Itália. Em outros países, a ditadura também marcava presença. Nesse contexto, surgia uma corrente artística marcada por um caráter de esquerda e baseada nas doutrinas marxistas. O movimento se ramificava através das várias formas de arte, porém, foi no cinema que conseguiu obter maior êxito.

 Na literatura, os neo-realistas buscavam objetividade e neutralidade, utilizando essas duas características como formas de dar credibilidade à narração. Os escritores da época são, na verdade, ativistas políticos, com ideologias revolucionárias, que denunciam as desigualdades sociais, a opressão das classes mais baixas pelas elites e a distância entre patrões e trabalhadores. O mundo vivia as conseqüências da Segunda Guerra, as cidades devastadas, a pobreza que imperava. No Brasil, a situação retratada era a vida precária dos nordestinos, podendo ser observada na década de trinta com a terceira fase do movimento modernista, a partir do livro A Bagaceira, em 1928, do escritor José Américo de Almeida.

 

Na pintura, o movimento também tinha um caráter social de denúncia e marcado pelo fervor revolucionário comunista. No México, pintores como Orozco e Rivera, mostravam a luta pela liberdade anti-colonialista do seu povo e a construção do progresso em seu país. Artistas soviéticos e portugueses pintavam murais que retratavam grandes acontecimentos sociais e históricos da época. Já no Brasil, Portinari se fazia presente denunciando os problemas que afligiam a sociedade brasileira.

 

Seja qual for a arte utilizada para a representação do Neo-Realismo é possível perceber em todas que o movimento é um só, que tem por objetivo maior mostrar a sociedade tal como ela é (ou está), conseqüência de um regime político totalitário, que desprezava as classes mais baixas. Na Itália, o fenômeno fascista possuía uma ideologia estética que tentava representar a sociedade através de uma ótica moralista e positivista, pois assim, ratificava-se a hegemonia e o sucesso do sistema. A dura realidade das grandes massas era esquecida e vista apenas por quem sofria com as conseqüências das guerras e da ditadura ou pelos intelectuais que não se contentavam em ver a construção de uma falsa representação da sociedade, produzida em larga escala, através dos filmes épicos, romanceados e melodramáticos, exibidos de tal maneira a se distanciar da vida cotidiana do país. Os neo-realistas se propunham, então, apresentar a sociedade, e não representa-la, como era de costume.

   O CINEMA NEO-REALISTA ITALIANO

 Para os críticos e historiadores, o cinema neo-realista surge em 1945, com o filme Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini. Porém, o termo Neo-realismo, data de 1942, quando teria sido pela primeira vez empregado, pelo crítico Umberto Barbaro na revista Cinema, que reunia os maiores intelectuais da época. Ao utilizar o termo, Barbaro se referia a um novo conceito de cinema, autêntico, engajado, revolucionário e profundamente antifascista.

 O movimento, de cunho social, fazia uso da imagem do homem comum. Era, na verdade, uma negação à corrente formativa vigente, que priorizava o puro entretenimento. Para os artistas pertencentes a essa vanguarda, mais do que um sistema estético, o Neo-realismo era uma posição moral, de reação ao cinema acadêmico, e que pretendia mostrar a sociedade como vítima do fascismo. O que os cineastas propunham colocar na tela era o registro, contemporâneo à produção, da vida das pessoas comuns. Para eles não interessava mais o passado, a preocupação era com a miséria que se apropriava das vilas e cidades na época. A intenção dos diretores ao se comprometerem com “o retrato da verdade” era expor os problemas para que fossem resolvidos.

 O cinema na Itália pós Segunda Guerra foi o espelho do que viu, porém o país acreditou no renascimento e é nesse ponto que o movimento difere do Expressionismo Alemão, já que este, surgido após a Primeira Guerra Mundial, não teve o olhar generoso dos italianos, que criaram um movimento baseado na esperança. E enquanto os expressionistas utilizavam formas abstratas, subjetivas e totalmente fantásticas para denunciar certas irregularidades presentes também na sociedade da época, o cinema neo-realista italiano se caracterizou pelo uso de elementos da realidade, de imagens verídicas, colocando-as numa peça de ficção, que se aproximavam, até certo ponto, de um filme documentário. A realidade social e econômica da época era mostrada tal qual ela existia, de forma clara, sem rodeios ou uso de metáforas.

 Características

 

  • Linguagem simples
  • Temáticas contestadoras
  • Atores não profissionais
  • Poucos recursos
  • Hic et nunc (aqui e agora)
  • Mise-en-scène
  • Tomadas ao ar livre
  • Câmera fixa
  • Profundidade de campo
  • Plano seqüência

 

Os cineastas faziam uso de uma linguagem simples, para que “a denúncia” fosse bem entendida por toda a população. Para eles não interessava esconder a verdade ou usar metáforas e elipses, pois já era conhecimento de todos que eles eram contra o regime vigente. Também não interessava mais os melodramas denominados por eles histórias de madames. Não fazia sentido alienar a sociedade mais do que já estava. O motivo deles usarem, na maioria das produções, atores na profissionais, era para que a história ficasse o mais semelhante possível com a realidade, já que o interesse era retratar o cotidiano das pessoas. O fato de terem poucos recurso não caracterizava um problema, pois a proposta neo-realista não era fazer uma superprodução. Não era preciso, já que a maioria das tomadas eram realizadas nas ruas e os personagens eram simples.

 ROMA, CIDADE ABERTA CHEGA AOS CINEMAS

 Quando o filme Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini, chegou aos cinemas, houve uma reação inesperada do público. Ao contrário do que supunha o diretor, seu filme não fez tanto sucesso no país, pois as pessoas se recusavam a pagar para verem sua miséria e o retrato da sua infelicidade transpostos na tela. Com isso, os intelectuais e cineastas perceberam a grande importância não só daquele filme, mas daquele movimento que surgia para criticar a realidade e tentar mudá-la e que, então, se tornava uma escola. O Neo-realismo rompeu as fronteiras da Itália e passou a influenciar cineastas de todo o mundo, como Fernando Birri na Argentina; Satyajit Ray na Índia e até mesmo Nelson Pereira dos Santos no Brasil, que dirigiu Rio 40 Graus. Pela primeira vez na história do cinema os filmes davam voz ao cidadão comum, oprimido, e até então sem notável participação social e abria mão do glamour e da fantasia pré-existentes. Para os críticos, foi a fase mais humanista do cinema, nunca houve retrato tão fiel ao seu povo como na época neo-realista. Mais do que uma estética, muitos autores se referem ao movimento como sendo ética, como para o autor Luiz Carlos Merten, que define a vanguarda ainda como Cinema Social.

 

 PRINCIPAIS CINEASTAS

 LUCHINO VISCONTI – 1906-1976

 Descendente de uma nobre família milanesa, Luchino Visconti é considerado um dos maiores diretores de cinema e cenógrafo da Itália. Visconti, o duque de Mondroni, filho de Giuseppe Visconti e de Carla Erba, tinha mais seis irmãos. Aos vinte anos prestou serviço militar como suboficial de cavalaria e passou os anos seguintes de sal juventude cuidando dos cavalos da família, ao mesmo tempo que freqüentava o mundo da lírica e do melodrama, que tanto o influenciaram. Nos anos de 193 foi para França, onde se tornou amigo de Coco Chanel e através dela foi apresentado ao cineasta Jean Renoir. Com Renoir, trabalhou no filme Une partie de campagne, em 1936. Em 1937, após retornar de Hollywood, dirigiu La Tosca ao lado de Renoir.

 Em 1943, Visconti vendeu as jóias da família para realizar seu primeiro filme, Ossessione. Anos antes, já tinha se ligado aos intelectuais que escrevia para o jornal Cinema. Foi contratado pelo Partido Comunista para realizar três filmes sobre pesacdores, mineiros e camponeses da Sicília, dos quais apenas um foi finalizado, La Terra Trema.

 Com a atuação de Anna Magnani, atriz de grande importância para o Neo-realismo italiano, Luchino Visconti filma Belíssima, em 1951. O elenco contava ainda com Walter Chiari e Alessandro Blasetti. Ainda na década de 1950 vem  primeiro filme colorido : Sedução da Carne, de 1954. seu primeiro  grande prtêmio da crítica veio em 1957, quando recebeu o Leão de Ouro do Festival de Cibnema de Veneza pelo filme As Noite Brancas, roteirizado a partir da história de Dostoievski. O filme conta com Marcello Mastroianni, Maria Schell e Jean Marais no elenco.

 Mas o reconhecimento do público, observado atravpés do sucesso das bilheterias aconteceu em 1960, com a estréia de Rocco e seus Irmãos. O filme conta a saga de um ahumilde família da Calábria que emigrava pra Turim. Foi esse filme que consagrou o ator francês Alain Delon.

 Em 1963 lança seu maior sucesso comercial, um dos mais elogiados pela crítica,  O Leopardo, que tem três horas de duarção e foi extraído do romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa que tem o mesmo nome. O filme, que venceu a Plma de Ouro do Festival de Cannes, relata a transição da nobreza para o populismo na Sicília nos tempos da Unificação Italiana.

 Durante as gravaões Ludwuig, em 1972, Visconti sofre um taque cardíaco, que o deixa preso a uma cadeira de rodas. Mesmo com certa dificuldade, consegue ainda fazer dois filmes: Retrato de uma Família no Inferno e O Inocente. Na peimavera de 1976 morre Luchino Visconti, na sua residência em Roma.

FILMOGRAFIA DE LUCHINO VISCONTI

Documentários

 VITTORIO DE SICA – 1902-1974

 Antes de se tornar um dos maiores diretores da história do cinema italiano, Vittorio de Sica, durante oito ano, foi ator, um dos principais galãs do país.

 Ladrões de Bicicleta, o filme mais conhecido do diretor, foi realizado com argumento de Cesare Zavattini, seu amigo e um dos mais fiéis colaboradores. Juntos fizeram vários filmes considerados obras-primas do movimento neo-realista italiano. Entre as maiores características da dupla estão a utilização de poucos aparatos técnicos e efeitos visuais e cenas cruas.

 Embora tenha alguns filmes aclamados pelo público e pela crítica, Vittorio de Sica não obteve muito sucesso comercial com os trabalhos que dirigiu, por isso foi obrigado a voltar a trabalhar como ator. Recebeu três Oscars de melhor filme estrangeiro, pelos filmes Ladrões de Bicicletas; Ontem, Hoje e Amanhã e O Jardim dos Finzi Contini. Já no fim de sua carreira, passou a fazer produções sob encomenda para a atuação de Sphia Loren.

 FILMOGRAFIA DE VITTORIO DE SICA

Rose Scarlatte (1939)
Madalena, Zero em Comportamento
(1940)
Teresa Venerdi
(1941)
Recordações de Um Amor
(1941)
A Culpa dos Pais
(1942)
A Porta do Céu
(1944-46)
Vítimas da Tormenta (1945-46)
Ladrões de Bicicletas
(1948)
Milagre em Milão
(1950)
Umberto D
(1951)
Quando a Mulher Erra
(1953)
O Ouro de Nápoles
(1954)
O Teto
(1956)
Duas Mulheres
(1961)
O Juízo Universal
(1962)
Boccacio 70
(1962)
O Condenado de Altona
(1970)
Il Boon
(1963)
Ontem, Hoje e Amanhã
(1963)
Casamento à Italiana
(1964)
O Mundo Jovem
(1965)
O Fino da Vigarice
(1966)
Sete Vezes Mulher
(1967)
Um Lugar Para os Amantes
(1968)
Os Girassóis da Rússia
(1970)
O Jardim dos Finzi Contini (1971)
Os Casais
(1971)
Até Que o Divórcio Nos Separe (1972)
Amargo Despertar
(1973)
Viagem Proibida
(1974)

ROBERTO ROSSELLINI – 1906- 1977

 

Roberto Rossellini, um doas maiores expoentes do Neo-realismo italiano, nasceu em Roma, numa família rica e passou a e interessar por cinema influenciado por seu avô, dono de uma casa de espetáculos. Durante a época do Fascismo, realizou vários curtas-metragens amadores e trabalhou como supervisor e assistente de direção em diversos filmes, como L'Invasore, de Nino Giannini, e Benito Mussolini, de Pasquale Prunas.

 Foi após a Segunda Guerra Mundial que veio o reconhecimento de Rossellini, quando lançou obras primas como Roma, Cidade Aberta (1945); Paisà e Alemanha (1946), Ano Zero (1947). Nesse período, o cinema italiano teve em Rossellini um de seus melhores diretores e um dos principais expoentes do Neo-realismo. Ele trazia um novo estilo de fazer cinema que defendia com fidelidade absoluta a realidade. Sempre que possível, rodava em cenários reais. Roma, Cidade Aberta, por exemplo recorreu até mesmo a personagens da rua.

Roberto Rossellini , recebeu vários prêmios importantes ao longo de sua carreira, como o Oscar de Melhor Argumento por Paisà em 1946; o Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes por Roma Cidade Aberta, em 1945; o Prêmio Internacional no Festival de Veneza por Europa' 51 em 1952; o Leão de Ouro e o Prémio OCIC, por Il generalle della Rovere em 1959, também no festival de Veneza; o Grand Prix e o Prémio de Melhor Argumento Original por Germania anno zero em 1948, no Festival de Locarno.

 Casou-se com a atriz Ingrid Bergman, com quem teve um tumultuado relacionamento, já que, na época, a atriz já era casada. Antes disso, teve um relacionamento com a também atriz Anna Magnani.

 Em 1963, escreveu o roteiro de Tempo de Guerra, filmado por Jean-Luc Godard. Em seus últimos trabalhos, ainda na década de 1960 dedicou-se a filmes históricos e documentários e produções voltadas para a televisão educativa.

 FILMOGRAFIA DE ROBERTO ROSSELLINI

  • Il messia (1976)
  • Cartesius (1974) (TV)
  • Anno uno (1974)
  • L'età di cosimo de medici (1973) (TV)
  • Agostino d'Ippona (1972)
  • Blaise Pascal (1971) (TV)
  • De Gerusalemme a Damasco (1970)
  • Socrate (1970) (TV)
  • Atti degli apostoli (TV)
  • Idea di un'isola (1967) (TV)
  • La prise de pouvoir par Louis XIV (1966) (TV)
  • L'età del ferro (1964) (TV)
  • Ro.Go.Pa.G
  • Anima nera (1962)
  • Torino nei cent'anni (1961) (TV)
  • Vanina Vanini (1961)
  • Vila l'Italia! (1961)
  • Era notte a Roma (1960)
  • Il generalle della Rovere (1959)
  • India (1959)
  • Giovana d'Arco al rogo (1954)
  • La paura (1954)
  • Dov'è la libertà...? (1954)
  • Amori di mezzo secolo (1954)
  • Viaggio in Italia (1953)
  • Siamo donne (1953)
  • Europa' 51 (1952)
  • La macchina ammazzacattivi (1952)
  • Les sept péchés capitaux (1952)
  • Francesco, giullare di Dio (1950)
  • Stromboli, terra di Dio (1950)
  • L'amore (1948)
  • Germania anno zero (1948)
  • Paisà (1946)
  • Desiderio (1946)
  • Roma città aperta (1945)
  • L'uomo dalla croce (1943)
  • La nave bianca (1942)
  • Un pilota ritorna (1942)
  • Il ruscello di ripasottile (1941)
  • Fantasia sottomarina (1940)
  • Il tacchino prepotente (1939)
  • La vispa Teresa (1939)
  • Prélude à l'après-midi d'un faune (1939)
  • Dafne (1936)

 

ANA MAGNANI

 Durante quatro décadas o neo-realismo imperava no cinema italiano. Por todo esse tempo uma grande atriz se fez presente em todas as fases do movimento: Anna Magnani. Através dela é possível traçar um paralelo entre todas as etapas da vida italiana durante essas quatro décadas e mudanças que o Neo-realismo teve, basta observar as diferentes personagens interpretadas por Anna, nos mãos diversos filmes dos mais variados diretores.

Anna Magnani começou a carreira ainda no cinema mudo, e teve seu primeiro grande papel em Teresa Venerdi, em 1941, dirigido por Vittorio de Sica. Porém, a consagração internacional veio com Roma, Cidade Aberta de 1945, dirigido por Roberto Rossellini por quem se apaixonou e viveu um tumultuada história de amor, que terminou quando ele conheceu a também atriz Ingrid Bergman.

Em Hollywood, protagonizou o filme A Rosa Tatuada, em 1955, uma adaptação da peça homônima de Tenesse Williams.

 Anna recebu vários prêmios em sua carreira, incluindo Melhr Atriz , no festival de Veneza em 1947. Em 1955 foi a primeira estrangeira a ganhar o Oscar de Melhor Atriz por A Rosa Tatuada.

 Seu corpo é o que mais chama a tenção. Não necessariamente pela sua beleza, mas pelo seus movimentos, que enchem a câmera com sua presença. Anna interpreta perfeitamente as mulheres-símbolo da época neo-realista, seja na prostituta de Pasolini, seja na mãe que tenta transformar a filha numa estrea de cinema, de Visconti ou mesmo na mulher forte de Rosselini no filme que a consagrou. Anna foi fundamental para o Neo-realismo, pois ela representou todos os vinte e sete anos que vão de Roma, Cidade Aberta, até Roma de Fellini, com todas as mudanças que ocorreram no cinema italiano. Ela foi essas mudanças. Anna foi a verdadeira encarnação de Roma na época.

 Ana Magnani faleceu aos 65 anos, vítima de um câncer no pâncreas.

 FILMOGRAFIA DE ANNA MAGNANI

La cieca di Sorrento (1934)
La Principessa Tarakanova
(1938)
Una lampada alla finestra
(1939)
Teresa Venerdì
(1941)
La fuggitiva
(1941)
Finalmente soli
(1941)
La fortuna viene dal cielo (1942)
La vita è bella (1943)
T'amerò sempre
(1943)
Campo de' Fiori (1943)
Fiore sotto agli occhi (1944)
Abbasso la miseria
(1945)
Roma, città aperta (1946)
Davanti a lui tremava tutta Roma
(1946)
Il bandito
(1946)
Abbasso la ricchezza
(1946)
Quartetto pazzo
(1947)
L'Onorevole Angelina (1947)
Assunta Spina (1947)
Molti sogni per le strade (1948)
Il Miracolo
(1948)
L'amore (1948)
Vulcano
(1949)
Bellissima
(1951)
Le carrosse d'or (1952)
Camice rosse (1952)
Siamo donne (1953)
The rose tattoo (1955)
Wild is the wind
(1957)
Nella città l'inferno
(1958)
The fugitive kind (1959)
Risate di gioia
(1960)
Mamma Roma (1962)
Made in Italy (1967)
The secret of Santa Vittoria (1969)
La sciantosa (1970)
L'automobile (1971)
Roma (1972)

 A DECADÊNCIA DO NEO-REALISMO

 A partir da década de 1950, a situação social já não era a mesma. A crise econômica diminuía e a televisão cada vez ganhava mais espaço. Nesse contexto os próprios produtores neo-realistas passam a investir num cinema escapista, de puro entretenimento, anteriormente tão criticado por eles. Diretores como Fellini ou Antonioni se afastam do “verismo” concebido pela geração neo-realista e apelam à farsa e ao drama existencial para redesenhar a Itália e suas novas questões. É importante observar que filmes como Roma, Cidade Aberta; Alemanha, Ano Zero e Europa 51, na época em que foram lançados, não agradaram o público italiano, que ansiava por esquecer os sofrimentos vividos durante e no pós-guerra. Assim, já na década de 1950, com a televisão mostrando o que as pessoas queriam ver e com o cenário de crescimento econômico, o Neo-realismo rapidamente sofreu um esgotamento cinematográfico, a pobreza já não era mais tão visível. O público pedia comédias leves, com maior apelo comercial. O teor comunista dos filmes denunciadores e revolucionários perdia o fôlego. Como disse Rossellini, se o Neo-realismo reflete a realidade, o estilo neo-realista deveria mudar, pois agora a realidade era outra. 

 O LEGADO DO NEO-REALISMO

 O Neo-realismo não acabara, de fato. Os movimento marcou profundamente os rumos do cinema mundial. Toda geração seguinte de cineastas italianos foi profundamente influenciada pela vanguarda, e não foi diferente no Brasil e nos demais países.  Nas décadas que se seguiram, na Itália, os cineastas modificaram alguns aspectos d Neo-realismo para adaptar sua estrutura ao novo contexto social, como em La Dolce Vita, em 1960, de Fellini, que mostra o vazio espiritual de um mundo de aparências vivido por uma jornalista. No mesmo ano, com Antonioni, o público se depara com a perda do referencial, em L’avventura. Em Nos que nos Amávamos Tanto, de 1977, Scola revisita o saudosismo dos antigos ideais. Mas apenas em O Posto, de Olmi, em 1961, é possível observar com clareza a tentativa de resgate de uma estética neo-realista.

 O cinema engajado de Jean-Luc Godard caracteriza-o como o maior seguido de Rossellini. Seus filmes, além de fazerem duras críticas ao domínio econômico e cultural norte-americano, exploram os limites da linguagem, misturando elementos diegéticos e não-diegéticos, como textos escritos e fotografias de arquivo num mesmo filme. Os filmes de Godard se distanciam um pouco da estética neo-realista pela elitização das suas propostas e por suas histórias se basearem numa discussão intelectual, que jamais poderia vir do povo. Os problemas não são mostrados do ponto de vista do proletariado.

 O estilo de Vittorio de Sica também teve seus inúmeros seguidores e o principal deles foi o indiano Satyajit Ray. Satyajit levou o ideário neo-realista para o contexto da Índia, retratando seus mitos, folclores, e o conflito ente a tradição e a modernidade, problemas típicos do desenvolvimento. Tal estilo pode ser observado na trilogia Pather Pachali, Aparajito e O Mundo de Apu.

 No cinema iraniano também é possível notar a influência neo-realista. Utiliza-se o mínimo de recursos para expressar o máximo. Os cineastas iranianos tentam resgatar, através da simplicidade, o espiritual, numa sociedade fragmentada pelo pós-modernismo.  Pessoas comuns são retratadas em situações comuns. A mais notável homenagem iraniana ao cinema neo-realista, mais especificamente a Vittorio de Sica, está no filme Filhos do Paraíso, de 1998, onde pai e filho, montados numa bicicleta, visitam a parte nobre do Teerã a procura de um emprego.

 No Brasil, o movimento do Cinema Novo pode ser considerado uma ramificação do Neo-realismo italiano. Nas décadas de 1950 e 1960, a idéia de produzir filmes sem precisar de todo o aparato da grande indústria cinematográfica dominante, influenciou diversos cineastas. A luta pela sobrevivência das famílias de retirantes nordestinos é retratada tal qual a miséria italiana do pós-guerra, que, apesar do sofrimento, a dignidade é mantida. O mundo visto através da inocência infantil, ou da maturidade de quem muito já sofreu. Um dos maiores exemplos da influência recebido do movimento pelos brasileiros está no filme Vidas Secas, de 1963, adaptado da obra de Graciliano Ramos. A saga pela sobrevivência no meio do sertão revela um verdadeiro tratado sobre as condições sociais e morais do homem brasileiro, que enfrenta, além das adversidades da natureza como a seca, a opressão policial e política.

 Para Glauber Rocha, o maior representante do Cinema Novo, o cinema deve ser pensado entre a política e a poesia. Glauber utilizou elementos do Neo-realismo e inaugurou uma estética com grande impacto. De acordo com ele, o Cinema Novo está à margem da indústria porque o compromisso do cinema industrial é com a mentira e a exploração. No início da década de 1960, a produção cinemanovista possui três estruturas centrais: a forma de produção, a linguagem e a ética. Através desses pilares se articulam vários conceitos, que são totalmente coerentes às características comprometidas com a verdade e a realidade do movimento neo-realista.

 BIBLIOGRAFIA:

 
 

BENTES, Ivana. Glauber Rocha, Cartas ao Mundo. São Paulo: Companhia das Letras 1997.

 BERNARDET, Jean-Claude. O que é Cinema. São Paulo: Editora Brasiliense, 1980.

 MARTIN, Marcel. A Linguagem Cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 2003.

 MERTEN, Luiz Carlos. Cinema entre a Realidade e o Artifício. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2007.

 
 SITES CONSULTADOS:

 http://biografias.netsaber.com.br/ver_biografia_c_960.html

 http://cineitalia.vilabol.uol.com.br/rossellini.htm

 http://cineitalia.vilabol.uol.com.br/desica.htm

 http://passodotempo.wordpress.com/2007/05/21/visconti-e-magnani/

 http://biografias.netsaber.com.br/ver_biografia_c_653.html

 http://pt.wikipedia.org/wiki/Anna_Magnani

 http://www.archivio.raiuno.rai.it/schede/9007/900765.htm

 http://www.kataweb.it/cinema/scheda_personaggio.jsp?idContent=176652