Nem tudo que parece é!

Por FRANCISCO SILVA JÚNIOR | 31/10/2017 | Crônicas

NEM TUDO QUE PARECE É!

Estatura mediana, corpo magro, esguio, forte, pele negra castigada pelo sol, vaqueiro experiente, comprometido, responsável com os seus afazeres, é assim que podemos caracterizar seu Chico.

Todo santo dia, faça sol ou chuva, lá estava ele despertando com o cantar do galo. Colocar água pra ferver e fazer o café coado no velho pano, é a sua primeira tarefa matutina. Sentar-se por alguns minutos, saborear com calma o café quentinho, para em seguida seguir rumo ao curral, sem esquecer de levar consigo uma garrafa cheinha para os colegas, é um ritual, quase que sagrado.

A ordenhadeira mecânica ainda não tinha dado as caras, portanto o serviço teria que ser manual mesmo. É um tal de amarrar a vaca, botar o bezerro para amojar, arria-lo, dar uma limpadinha nas tetas e mãos na massa, digo, nas tetas! Era assim que o leite era ordenhado, à mão! Uma a uma até o despertar do sol no horizonte, sinal que a primeira etapa da lida estava sendo concluida. E assim prolongava-se por todo o dia, até o por do sol, quando finalmente retornava pra casa, banho tomado no rio ou no velho tanque, chapéu na cabeça, roupa trocada, passos firmes, ainda sobrava um tempinho pra cuidar das tarefas ordenadas por Ana, sua inseparável companheira.

De segunda a segunda era dedicação integral ao trabalho na fazenda. Mas a partir das  cinco horas da tarde de sexta, até a noite de domingo, permitia-se brincar, divertir-se, sair com os amigos, tomar uma pinga. Não esquecia, nem deixava de cumprir rigorosamente com as suas obrigações, mas aproveitava o que considerava como seu, o final de semana.

Numa tarde de sábado saiu subitamente montado em seu cavalo. Estávamos eu e meu tio Nonato, sentados no terreiro de casa, e entre uma prosa e outra percebemos sua chegada. Olhar espantado, um certo ar de ansiedade, parecia esconder algo.

Assustado com o ladrar do cachorro, o cavalo pula subitamente e acaba por derruba-lo.

- Ai meu Deus! Gritou e correu meu tio Nonato em sua direção.

Naquele momento a reação do meu tio parecia para mim, um ato de solidariedade, de um amigo, preocupado com a integridade do outro.

Mas para a minha surpresa, seu Chico levanta-se, bate a poeira, sua mão junto ao cós da calça parecia proteger algo muito especial.

Parecendo querer acalmar meu tio exclama:

- Se preocupe não cumpade! O litro de cana tá inteirinho, não quebrou nada!

Professor Júnior Silva

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