NEM TUDO O QUE SE OUVE, HOUVE

Por sebastião maciel costa | 29/09/2023 | Educação

                                                      NEM TUDO O QUE SE OUVE, HOUVE.

       As pessoas, de um modo geral, procuram lidar com as situações que a vida lhe impõe, independente das circunstâncias em que a vida se desenrola. Em todas as sociedades há desníveis sociais que imprimem sua marca de modo tão brutal que determinam a forma de viver, de pensar, de ver o outro, de enfrentar os desafios, de buscar respostas para tudo o que lhe faz barreira ao avançar, ao crescimento, ao ser. A cada recorte do tempo surgem astros que brilham e somem; surgem ídolos que se impõem e se propagam até sucumbirem por si mesmos;  nascem celebridades que ocupam o cenário que a força de sua expressão define; escritores, pensadores, líderes políticos e religiosos, atores, atrizes e pessoas do povo surgem e se transformam em modelos que nos chamam ao sonho, ao delírio, ao espasmo, à fuga da realidade que cansa, de oprime, que deprime, que manipula, para apreciar a beleza que esses vultos nos fornece, no envolve, nos enreda.

        As estrelas do Rock, do cinema, da televisão, do rádio, da MPB, do sertanejo Universitário, do Axé, e tantos outros fizeram história, atraíram crianças,  jovens e adultos formando verdadeiro séquito de admiradores e fãs que seguindo os seus passos tornaram-se tão famosos e bem-sucedidos quanto os seus ídolos. Todos crescem todos lucram, todos se profissionalizam, muitos se realizam Primeiro, por terem tido a oportunidade de seguir um modelo que lhe abriu caminhos. Independente da influência que essas estrelas exerciam sobre os citados seguidores, a presença da família era inatingível. Os pais, imbuídos do seu real papel de manter a unidade familiar, raramente, eram aqueles que davam as cartas para que tudo funcionasse de acordo com as regras e normas que urdem e real tecido familiar. Os pais não precisam falar mais alto pra se imporem; não precisam ser mais veementes para convencerem; não precisam ser cruéis nem temidos; não precisam mandar para seres obedecidos, precisam apenas ser. Os pais dizem vamos e os filhos se movimentam. Não necessariamente seguindo-os, mas agindo, de acordo com o que aprenderam, com o que foi trabalhado conjuntamente para se obter respostas e abrir caminhos.

        Na atual sociedade, após todo o desgaste que a família tem enfrentado com o avanço das tecnologias digitais que envolvem sobremaneira crianças, jovens e adultos, se torna cada vez mais difícil manter ambientes de conversas, diálogos, leituras e interpretação de fatos a partir de vivências coletivas, discutidas e avaliadas entre membros de um grupo em que as pessoas podem ter opiniões diferentes, mas prevalece o bom senso em nome da honra e do respeito mútuo. Pode parecer coisa ultrapassada, que seja. A história é passada, nem por isso menos honrosa. O povo brasileiro, de modo geral, é muito apegado  com as suas famílias. Laço  muito valorizado e mantido por toda uma vida, independente de classe social, costumes, culturas ou credos. Trata-se de uma característica muito marcante e apreciada através dos tempos. A diversidade de personalidades muitas vezes pode trazer conflitos entre os meobros  de uma mesma família, mas há um vínculo muito forte que busca e geralmente consegue, sanar coflitos, ampliar amizade e respeito em nome do lastro chamado família. Laços se sangue, de afeto, de afinidade, de respeito, de vontade de somar.

       Os conflitos familiares costumam fazer com que ressentimentos de suas atitudes, os pais se sentem culpados quando brigam com os filhos; Esses  também podem sentir-se igualmente culpados de coisas ditas ou feitas no calor do momento. Um momento de reflexão, um pedido de desculpas sincero e um abraço são caminhos eficazes para promover a necessária reconciliação dos sues entes queridos e a vida segue.   Muitas vezes, os conflitos no ambiente familiar podem ter o, familiares podem se originar de circunstâncias específicas, não apenas da diferença de comportamentos. A fim de sanar os chamados problemas familiares existem muitas possibilidades que passam pela melhoria da qualidade da comunicação como você pode alongar o tempo que passa com seus familiares. As refeições podem ser feitas sempre em família, ou um dia da semana pode ser estabelecido para uma atividade original e pouco custosa. É possível negociar compromissos e horários é uma forma de mostrar que as necessidades e  desejos de todos são importantes. A velocidade do tempo e a maneira como as notícias correm e mudam o estresse se torna uma característica de todos os segmentos da família: pais estressados com as dificuldades de manutenção material e institucional da família, filhos estressados pela disparidade perceptível entre as normas da família e os desmandos do mundo; a sociedade estressada pelo estresse das pessoas. Buscar saídas é o papel de todos.

       Um outro dia ouvi um comentário um tanto óbvio nesse contexto de  discussão da formação dos jovens: Hoje, o mais comum é encontrarmos filhos com mau comportamento tendo pais de bom comportamento que o contrário. Se não contarmos com bons pais hoje, como serão os seus filhos, no amanhã? Não é confortável atribuir o estado em que se encontra a relação entre pais e filhos à tecnologia digital, tampouco à recente pandemia que separou pais e filhos por motivos óbvios e que esses seres em formação passaram a conviver com babás, com outras crianças, ou no mais prático para todos: o celular. Pode não ser esse o foco, mas a fatura chegou. O diálogo com compreensão foi comprometido. Urge que se tome providência para a melhor recuperação de pontos que fortaleceram por tanto tempo a saúde da família como fonte e origem de formação de bons homens e de boas proles.

        Caberia uma provocação que nos leve a uma reflexão quanto ao relacionamento reinante nos dias de hoje entre pais e filhos adolescentes que se encontra bastante impreciso. É muito preocupante constatar-se que o nosso adolescente prefere os amigos à companhia amistosa dos pais. Urge que sejam encontrados os reais motivos que justifiquem tal preferência. Pais e mães não podem ser preteridos por seus amigos que trazem no seu histórico, poucas garantias de boa formação e bons princípios. Não que amigos não possam ser possuidores de qualidades e méritos que os façam ser seguidos; mas aos pais cabe a tarefa de educar. Qualquer ser humano sente, de modo salutar, a necessidade de se fazer incluído, de ser ouvido, de pertencer ao ambiente familiar, construído com pais e filhos fazendo, cada um a sua parte, mas com os mesmos objetivos: unidade familiar. Com os adolescentes, há uma espécie de necessidade de fazer dos seus amigos, um modelo para si e para suas decisões. Eles fazem dos seus amigos espelho nas atitudes, nas decisões que possam assegurar-lhe prestígio, força de vontade, firmeza de propósito, mesmo que tudo aponte para rebeldia, sentimento característico de quem precisa se firmar como novo agente do seu tempo e de suas decisões. Aos adultos tais posturas não devem ser vistas como ato de enfrentamento dos jovens, mas exige enfrentamento dos pais para novos rumos.

         Colocando-se na pele de um adolescente que para os pais é um rebelde, que responde como acha que deve, que nem sempre vai bem na escola, que não cumpre horários, que começa a experimentar namoro, um cigarro, um gole, noites, farras... como iniciante e acredita que suas prioridades são ignoradas, que suas vontades são consideradas birra, capricho e enfrentamentos, realmente os conflitos se instalam e se agravam a cada novo dia. É preciso validar o filho adolescente como membro efetivo do processo de formação, agente de si mesmo. Pais devem entrar no processo como lideranças respeitáveis pela experiência e comprovada dedicação à boa formação de seus membros em fase  de formação. A ordem é RECONHECER que as falhas do adolescente podem ser produto de falhas cometidas por quem deve ENSINAR aprendendo com quem apende: onde se aprende a ser pai? Onde se aprende a ensinar os primeiros passos do homem do futuro?

        Os influencers digitais não precisam se esforçar muito para arrebanhar os jovens adolescentes, que não pertencem ao núcleo familiar como agentes. Que não são valorizados em suas competências, que não são reconhecidos pela vontade de acertar...  A formação com apego e sentimento de parentalidade responsável são tão importantes e necessárias quanto à própria expectativa de sucesso. Lições existem muitas, possibilidades de práticas comprovadas na obtenção de um relacionamento promissor entre pais e filhos passam, dentre outras alternativas como não se tornar um ditador de regras e imposições. Reconhecer quando o filho acerta, não duvidar do que é dito por ele para justificar seus atos, agir com firmeza carinhosa, cumprir com as promessas, não omitir fatos que o jovem pode vir a comprovar como versão adulterada, não trair a sua confiança, respeitar o filho adolescente é documentar que se fala a mesma língua, talvez com textos diferentes a partir das circunstâncias que cada um vive. É vencer. Ah, não poderia terminar essa abordagem, sem uma fabulosa fábula:

O cavalo e a borboleta  Eram duas criaturas que viviam numa floresta distante. Um cavalo e uma borboleta. Não tinham praticamente nada em comum, mas em certo momento de suas vidas se aproximaram e criaram um elo. A borboleta era livre, voava por todos os cantos da floresta enfeitando a paisagem. Já o cavalo, tinha grandes limitações, não era bicho solto que podia viver entregue à natureza. Nele, certa vez, foi colocado um cabresto e a partir daí sua liberdade foi cerceada.

       A borboleta, embora tivesse a amizade de muitos outros animais e a liberdade de voar por toda a floresta, gostava de fazer companhia àquele cavalo, e não era por pena, era por companheirismo, afeição, dedicação e carinho. Todos os dias, ia visitá-lo e lá chegando levava sempre um coice, depois então um sorriso. Entre um e outro ela optava por esquecer o coice e guardar dentro do seu coração o sorriso. Sempre o cavalinho insistia para que ela lhe ajudasse a carregar o seu cabresto que pesava bastante. Ela tentava de todas as formas ajudá-lo, mas isso não era possível por ser ela uma criaturinha tão frágil. Os anos se passaram e numa manhã de verão a borboleta não apareceu para visitar o seu companheiro. Ele nem percebeu, preocupado que ainda estava em se livrar do cabresto. E vieram outras manhãs e mais outras e outras, até que chegou o inverno e o cavalinho sentiu-se só e finalmente percebeu a ausência da borboleta. Resolveu então sair do seu canto e procurar por ela. Caminhou por toda a floresta a observar cada cantinho onde ela poderia ter se escondido e não a encontrou. Cansado se deitou embaixo de uma árvore. Logo em seguida um elefante se aproximou e lhe perguntou quem era ele e o que fazia por ali. – Eu sou o cavalinho do cabresto e estou a procura de uma borboleta que sumiu. – Ah, é você então o famoso cavalinho? – Famoso, eu? – É que eu tive uma grande amiga que me disse que também era sua amiga e falava muito bem de você. Mas afinal, qual borboleta que você está procurando? – É uma borboleta colorida, alegre, que sobrevoa a floresta todos os dias visitando todos os animais amigos. – Nossa, mas era justamente dela que eu estava falando. Não ficou sabendo? Ela morreu e já faz muito tempo. – Morreu? Como foi isso? – Dizem que ela conhecia, aqui na floresta, um cavalinho, assim como você e todos os dias quando ela ia visitá-lo, ele dava-lhe um coice. Ela sempre voltava com marcas horríveis e todos perguntavam a ela quem havia feito aquilo, mas ela jamais contou a ninguém. Insistíamos muito para saber quem era o autor daquela malvadeza e ela respondia que só ia falar das visitas boas que tinha feito naquela manhã e era aí que ela falava com a maior alegria de você. Nesse momento o cavalinho chorou de tristeza e de arrependimento. – Não chore meu amigo, sei o quanto você deve estar sofrendo.
         Ela sempre me disse que você era um grande amigo, mas entenda, foram tantos os coices que ela recebeu desse outro cavalinho, que ela acabou perdendo as asinhas, depois ficou muito doente, triste e sucumbiu e morreu. – E ela não mandou me chamar nos seus últimos dias? – Não, todos queríamos lhe avisar, mas ela disse o seguinte: “Não perturbem meu amigo com coisas pequenas, ele tem um grande problema que eu nunca pude ajudá-lo a resolver. Carrega no seu dorso um cabresto, então será cansativo demais pra ele vir até aqui.”

            Refletir sobre esse trecho fazendo analogia com o comportamento de pais e filhos hoje, pode vir a ser um passo muito importante.

  • Sebastião Maciel Costa
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