Nem tudo é depressão
Por Anissis Moura Ramos | 26/03/2018 | PsicologiaVivemos em uma época em que qualquer pequena alteração de humor é compreendido como depressão, isso mostra-nos o quanto uma patologia grave e séria vem sendo banalizada, pela simples necessidade que o ser humano passou a ter de se rotular.
Muitas pessoas acreditam que são deprimidas, mesmo sem serem. Isso pode acontecer por não conseguirem mais viver com a tristeza, que apesar de gerar dor e sofrimento, por vezes é saudável. Porém, vivemos em mundo em que ninguém tolera mais nada, principalmente, ter que conviver com algo que lhe gera desconforto. Daí a necessidade de livrar-se rapidamente de emoções desagradáveis e por isso, logo as classificam como doentias.
A depressão por ser considerada como a doença do século, tem sido muito discutida e avaliada, visto existirem muitas pessoas que, realmente, foram afetadas pela depressão. A pessoa quando deprimida não tem apenas uma tristeza prolongada, ela perde a vontade de levar adiante suas atividades, que até então eram percebidas como algo que lhe dava muito prazer, sente-se sem energia ou com cansaço persistente, não consegue enxergar o colorido da vida, a vê sempre em preto e branco. É comum a pessoa apresentar alteração de sono e apetite, desejo sexual diminuído, não conseguem perceber a sua utilidade e o seu valor, acredita não ter mais nada a fazer. Em alguns casos, a pessoa acaba descuidando da sua aparência, se exclui de atividades sociais, entre tantos outros sintomas. Para que estes sintomas sejam classificados como depressão, faz-se necessário a presença de no mínimo cinco sintomas e tem que perdurar por mais de duas semanas contínuas.
A mudança de humor no decorrer do dia é algo normal. Acordarmos um dia mais introspectivo, sem muita disposição, também é normal. O sentimento desconfortável que estamos sentindo pode estar associado a um quadro de ansiedade. Por isso, a importância de antes de nomear o sentimento que estamos tendo de depressão, que pensemos o que poderá estar gerando esse sentimento, o que aconteceu no dia anterior, o que temos para fazer nesse dia que acordamos desconfortáveis, quais as situações que teremos que enfrentar, com quem vamos nos encontrar. O sentimento de desconforto que estamos tendo pode não ter nenhuma associação com depressão.
A depressão é, cada vez mais, percebida como o flagelo das sociedades modernas, recentemente, e de forma meteórica, conquistou o estatuto da constipação da saúde mental, pela frequência que se apresenta em nossa população. A própria comunidade dos profissionais da saúde mental reconhecem que o rótulo ou o uso descritivo da depressão está sendo usado de forma abusiva, assim como, o uso de antidepressivos.
O que precisamos ter claro é que tristeza não é nenhuma perturbação mental, trata-se de um sentimento normal do humano. A função da tristeza é expressar uma vivência dolorosa, que muitas vezes se apresenta para evitar que tenhamos depressão.
A tristeza é um sentimento tão comum quanto a alegria. Faz-se necessário desmistificar que as pessoas vivem sempre bem, felizes, alegres. Existem momentos de tristeza, de decepção, de introspecção e que o humor pode sofrer alterações no decorrer do dia, da semana ou do mês sem significar um transtorno de humor.
Depressão é patologia, portanto, antes de se autodiagnosticar como depressivo quando está triste, pense qual a necessidade que tem de se colocar na condição de doente. Qual o ganho secundário que está por trás disso? Será uma carência ou uma necessidade de chamar atenção? Por que está precisando que as pessoas olhem para você com pena?
Importante refletir o que nos leva a querer ser depressivo, se não recebemos de um profissional esse diagnóstico. Não se coloque na condição de doente quando apenas estiver triste. Aprenda a lidar com a dor da tristeza e verá que tudo ficará mais fácil.