Nem alta, nem baixa autoestima; a Felicidade está no meio

Por Andre Pereira | 08/03/2017 | Psicologia

 

É muito comum ouvirmos, hoje em dia, frases como: você precisa levantar sua autoestima! Ou: você precisa gostar mais de si mesmo! E, ainda: você está infeliz, porque tem pouca autoestima! Logo, o senso comum é levado a crer que se você está com a autoestima elevada é feliz.

Seria ótimo, simples e estaria tudo resolvido se este simples artifício produzisse tão profundo efeito e aliviasse nossa infelicidade; mas, na verdade as coisas não são bem assim.

Elevar a autoestima para solucionar os problemas de infelicidade congênita é uma solução simplista e precipitada, diria, desesperada. Trata-se daquela típica ação baseada no mundo das coisas aparentes, verossímeis. Urge salientar, no entanto, que as coisas duradouras e realmente eficazes, muitas vezes se escondem atrás das aparências. E muitas vezes são tão simples quanto as primeiras; mas é preciso conhecer a questão e vê-la sob o ponto de vista adequado.

É inegável, não obstante, que a alta autoestima têm uma irmã rival: a baixa-estima ou baixa autoestima. Ambas, salientemos, são criações da nossa própria mente. De maneira que qualquer pessoa possa pensar de si o melhor ou o pior.

Quem não conhece aqueles tipos que só falam de si mesmos? Ou aqueles que acreditam ser os melhores, em tudo que fazem, ou na aparência que têm? Há evidentemente, na contramão destes, pessoas que se acham desventuradas. Tipos que recontam seus infortúnios desde o nascimento até o presente dia para quem os deem atenção. São vítimas; sempre foram vítimas e, para elas mesmas, serão vítimas até seu último dia.

Notem que apesar de descrevermos opostos, há coisas em comum entre estes dois extremos. A primeira delas é a existência de uma dimensão valorativa. Sem entrar no mérito se este ou aquele extremo tem a razão, o fato é que ambos acreditam ver o mundo da forma mais correta, ou, pelo menos, da forma que estão acostumados a ver o mundo e não querem saber se isso traz boas ou más consequências. Não querem mudar. É este o caminho por onde suas mentes estão acostumadas a passar, a recolher os dados valorativos para construir um conceito.

Notem ainda, que a natureza última da autoestima, seja baixa ou alta, é projetar esses valores sobre si mesmos. De maneira que são criações delas mesmas; valores apenas e nada mais. Enfatizamos em dizer que estes valores não condizem de maneira nenhuma com a verdade. A prova disso é que, se, por exemplo, um destes idólatras, seja à esquerda ou à direita, realizam alguma tarefa que exija um pouco mais de seu aparato intelecto-cognitivo-sensorial, eles não vão ter oportunidades para se projetarem tais valores e se esquecerão momentaneamente de se acharem Afrodites ou Medusas. De modo que estas pessoas somente têm a oportunidade de dar vazão a estes estados mentais, quando em relativo ócio.

Outra coisa em comum que podemos verificar nos casos de alta autoestima e baixa autoestima é que os valores ególatras ou autodepreciativos agregados pela mente, quando aceitos como verdadeiros, criam estados de ânimo e vice-versa. Ora, se por um lado mudamos nossos estados interiores conforme os valores que, inclusive subconscientemente, nos habitam naquele momento; por outro lado, os estados interiores fazem preferir esta ou aquela teoria ou valor. Ou seja, também é inegável que um estado interior inadequado faz com que acreditemos mais neste o naquele conjunto de valores, condizente com o estado que me habita naquele instante. O principal mecanismo que nos faz agregar valores é a fascinação.

Daí surgem, também, aqueles fascinantes episódios de pessoas que são alegres assim porque sim, e, que, por mera afinidade entre o estado interior com os valores que julgam em si, vão pensar de si o melhor, ainda, que muitas delas não se importem muito com isso e acabem por poucas vezes projetarem em si estes valores. São apenas felizes e sabem realizar a maioria das tarefas do dia-a-dia com bom humor e alegria.

É mais ou menos por aí a chave da felicidade. Quanto mais estivermos vivenciando o aqui e agora, tal qual ele é, mais próximos de sensações de felicidade estaremos. Prova disso são as práticas de meditação, que logo no início ao se chegar ao ponto onde a mente se cala e passamos a vivenciar o aqui e agora, percebemos nossos sentidos, nosso corpo, etc; coisa que normalmente não nos damos conta quando a mente está agitada e tagarela. Nestas ocasiões o respirar é prazeroso; o ver é luminoso; o sentir é vivo…

Deste modo, se por um lado ao nos projetarmos valores, não colhemos a esperada presença da vida nem, tampouco, a felicidade; mas sim, o orgulho e a excitação passageira, o que, de fato, chega até a delapidar muita de nossa energia criadora, causando-nos em última instância algum desânimo futuro por falta dela. Por outro lado, ao vivenciarmos o aqui e agora com a mente calada, mas cônscios de nós mesmos e do mundo que nos rodeia, sem nos projetarmos valores nem bons nem maus; nestas ocasiões nos revitalizamos e chegamos bem próximos disso que se pode chamar de felicidade.