NELSON TANAKA, UM PALMEIRENSE DISFARÇADO NO CONSELHO DO CORINTHIANS
Por Renato Ladeia | 20/10/2018 | CrônicasQuando abro o livro de chamada no início de cada semestre, sempre encontro algum sobrenome conhecido que pode me remeter à velhas lembranças. Nem sempre tem parentesco com velhos amigos e conhecidos. Como dou aulas na FEI Campus da Liberdade, na Rua Tamandaré, um reduto da colônia japonesa, às vezes, aparece um Tanaka. Logo pergunto se o aluno tem algum parentesco com o Nelson Tanaka, que foi durante muitos anos, o Gerente Financeiro da Unipar. O nome Tanaka é muito comum, sempre respondem os alunos ou alunas. É quase como Silva no Japão. Mas continuo insistindo, pois quem sabe encontro algum neto ou sobrinho do velho mestre, como era chamado pelos colegas.
Tanaka era palmeirense roxo e por estranha ironia era também conselheiro do Corinthians, um time rival ou quase inimigo. Quando ele revelava isso as pessoas ficavam admiradas e chegavam a perguntar se ele não era visto como um espião nas hostes do alvinegro. Essa dupla “personalidade” não era segredo para ninguém no clube, mas como era um sócio antigo e dedicado e competente conselheiro, o assunto era mais motivo de brincadeiras e piadas.
Essa história lembra um filme nacional em que a filha de um corintiano fanático começa namorar um palmeirense. Para evitar problemas com o pai, a moça o aconselha a dizer que é alviverde. É uma divertida história em que os Capuletos e os Montecchios da tragédia shakespeariana Romeu e Julieta é adaptada para os dois clubes rivais.
O “mestre” era simpático, brincalhão e querido por todos da empresa. Nunca o vi de mal humor. Lembro-me quando disse a ele que havia sido professor de colégio, ficou surpreso e passou a me tratar como tal, pois na cultura japonesa os professores são bastante respeitados, diferentemente do que acontece por aqui.
Encontrei o Nelson pela última vez em 1994, na Avenida Paulista, quando ambos já não trabalhávamos mais na empresa. Ainda conseguimos tomar um cafezinho e trocar algumas palavras. Como sempre, estava alegre e parecia realizado em suas novas atividades como advogado, cujo diploma estava guardado a espera da sua aposentadoria para voltar à ativa. Com sua partida, o Corinthians poderia ter mandado esculpir um busto do seu antigo conselheiro e colocá-lo na Arena Itaquera como exemplo e símbolo de paz no futebol.