Natureza Morta
Por Carlos H.O. Filipe | 25/09/2008 | Poesias
NATUREZA MORTA
Chego, finalmente, às geleiras.
Tudo que vejo
São camadas e camadas
De um branco sólido,
Impessoal,
Marcadas aqui e ali
Por rastros
De infelizes criaturas
Que como eu
Vagam sem rumo
Pelas imensidões geladas.
Uma parte de mim
Nasceu aqui,
Onde o dia é longo.
Outra parte
Morreu aqui
Onde a longa noite,
Que às vezes domina
O que sobrou,
Navega cada vez mais
Sem rumo.
Quando me será permitido
Abandonar esse invólucro
Que ainda julgo vivo?
Quando me será permitido
Unir todas as partes
Em uma só?
Sede, não sinto
Fome, tampouco.
Apenas o peso
De séculos, eras e períodos
Acumulam-se
Sobre meus ombros
Cada vez mais curvados.
Anseio pelo dia
Que não mais vaguearei.
Serei, um dia,
Apenas parte
Dessa natureza morta.