Nas trilhas dos trilhos
Por Sylvio Mário Bazote | 17/06/2012 | CrônicasA história das ferrovias no Brasil pode ser resumida em duas palavras: conquistas e abandono.
Montanhas foram escavadas para que nelas fossem construídos túneis ou passagens, aterraram brejos e depressões no terreno, pontes foram feitas sobre rios, viadutos em precipícios e contenção de encostas.
Foram construídas estações ferroviárias, vilas de operários, oficinas de manutenção e criadas áreas para plantio de árvores para fornecer dormentes e carvão.
Milhares de quilômetros de chão foram compactados, nivelados e verificados para que os trilhos não tivessem deformações verticais ou horizontais com a passagem dos trens.
Os trilhos são, ao mesmo tempo, a certidão de nascimento de uma linha ferroviária e os vestígios pelos lugares por onde já passaram estes grandes dinossauros chamados locomotivas.
Nos caminhos onde os trilhos foram retirados, enterrados ou roubados na cumplicidade entre o descaso e a desonestidade, ficaram apenas túneis e pontes como testemunhas de um passado repleto de esforço esquecido. Os dormentes e a brita usados na linha férrea também são recolhidos e usados para obras, legais e ilegais.
Um caminho ferroviário, destituído de seus trilhos, se torna apenas uma trilha, como tantas outras que foram abertas de forma espontânea pela necessidade, sem maiores planejamentos ou obras.
É a comprovação da possibilidade do retrocesso e do desperdício que a falta de visão a longo prazo pode causar em uma comunidade.