Nas trilhas da educação ambiental (EA)
Por Amanda Nunes Pereira | 23/04/2010 | EducaçãoNas trilhas da educação ambiental (EA)
Amanda Nunes Pereira ¹
Laize Helena Alves da Silva ²
¹ Graduanda do curso de licenciatura em pedagogia e monitora da disciplina de Psicologia da educação da UFPB campus III colaboradora do PROBEX.
² Graduanda do curso de licenciatura em pedagogia e monitora da disciplina de Pesquisa educacional da UFPB campus III, bolsista do PROBEX.
Pretende-se nessa pesquisa a apresentação de pontos considerados fundamentais para o entendimento da importância de educação ambiental (EA) enquanto atendimento de caráter educacional refletindo e pontuando elementos para a discussão que se destina a mostrar se a escola tem trabalhado a proposta de EA segundo as proposituras dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s). Espera-se, assim, contribuir para a sensibilização de um comportamento sério e comprometido com o meio ambiente. Entende-se por educação ambiental os processos por meio do qual o individuo e a coletividade constrói valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas pra a conservação do meio ambiente, bem de uso comum da população, essencial à boa qualidade de vida e sua sustentabilidade. Considerando a importância da temática ambiental e a visão integrada de mundo, sobressaem-se as escolas, como espaços privilegiados na implementação destas atividades.Temos como finalidade, levar ao educador, em sua concordância ou negação com o posicionamento adotado, e estabelecer um diálogo com a diversidade e a pluralidade, refletindo assim sobre a sua própria prática e o que a fundamenta, ampliando a capacidade de agir com consciência do que quer, onde deseja ir, o que pensa sobre EA, sua importância e significado para sociedade, e, sobretudo de levar-nos a compreender o que o PCN’s sugere para o desenvolvimento da EA e se a escola tem trabalhado a EA nas proposituras dos PCN’s. Nesse intuito realizamos a pesquisa de campo em uma escola que denominamos escola área verde, com os seguintes procedimentos: entrevista com alunos, professores e funcionários, com intuito de compreender se a escola referida tem ou não trabalhado a EA de acordo com as proposituras do PCN’s. A partir das entrevistas, analisamos de forma qualitativa, em que medida a EA é apreendida pelos atores envolvidos em questão. Abordamos este tema, realizamos a pesquisa e colocamos pontos imprescindíveis a leitura do educador comprometido em trabalhar a EA.
Palavras - Chave: Meio ambiente, sociedade, escola
EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA):
VERDADES E DESAFIOS NA ESCOLA.
Pretende - se nesse artigo, a apresentação de pontos considerados fundamentais para o entendimento da importância de educação ambiental (EA) enquanto atendimento de caráter educacional refletindo e pontuando elementos para a discussão que se destina a mostrar se a escola tem trabalhado a proposta de EA segundo as proposituras dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s). Espera-se, assim, contribuir para a sensibilização de um comportamento consentido, sério e comprometido com o meio ambiente.
A educação ambiental (EA): verdades e desafios na escola constitui uma temática à qual se pretende oferecer maior visibilidade e clareza para que a sociedade possa rever seu entendimento, superar antigos conceitos e consolidar esta etapa pertencente ao sistema educacional por meio da socialização dos conhecimentos que hoje a fundamentam. E, sobretudo verificar a empregabilidade da EA na escola de acordo com as proposituras dos PCN’s uma vez que:
“A questão ambiental vem sendo considerada como cada vez mais urgente e importante para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis. Essa consciência já chegou à escola e muitas iniciativas têm sido desenvolvidas em torno desta questão, por educadores de todo país. Por estas razões, vê-se a importância de se incluir a temática do meio ambiente como tema transversal dos currículos escolares, permeando toda pratica educacional.” (PCN’s, 1997 p.15)
Como podemos perceber a proposta do PCN’s é a inclusão da EA como tema transversal, interdisciplinar abrangendo assim todas as disciplinas e não como uma disciplina isolada na grade curricular das escolas.
As conquistas das últimas décadas foram grandes e importantes, porém as inovações conceituais, o entendimento reformulado do que seja a EA ainda não encontraram repercussão nas agendas social, política e educacional do poder público. A preocupação com a EA não conquistou espaço suficientemente expressivo a tal ponto de ter deixado de ser intenção vazia de discursos de políticos oportunistas e se transformar em luta e conquistas da sociedade, assim como uma introdução satisfatória dentro das salas de aula.
A EA proporciona, a todas as pessoas, a possibilidade de adquirir os conhecimentos, os sentidos dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente, necessidade plena e visível para que os recursos naturais da qual a sociedade necessita não se tornem escassos, ou seja, a EA induz uma nova forma de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto, a respeito do meio ambiente.
Segundo os PCN’s a educação ambiental visa “contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da sociedade, local e global” (PCN’S, 1997, p.29). Desse modo percebemos que o interesse maior da EA é despertar no individuo uma consciência ambiental.
Para tanto observamos como objetivos gerais da EA a sensibilização (despertar o interesse pela temática nas pessoas), a compreensão (mostrar claramente do que se trata para que assim possamos discutir todos os componentes que se encontram interligados); a responsabilidade (de quem é essa responsabilidade, mostrar o ser humano como principal protagonista.); a competência (capacidade de avaliar e agir efetivamente no sistema), a cidadania (Despertar o interesse pela participação trazendo uma nova concepção ética capaz de conciliar o meio ambiente e a sociedade).
Na EA levamos em conta o meio ambiente em sua totalidade, onde seus preceitos devem ser repassados em um processo contínuo e permanente, começando pelo pré-escolar e continuando por todas as fases aproveitando um enfoque interdisciplinar do conteúdo específico de cada disciplina, nessa ótica buscamos como objetivo desenvolver uma pesquisa que nos fizesse compreender se a escola tem ou não trabalhado a EA nas proposituras dos PCN’S, uma vez que o mesmo nos traz a EA como uma exigência constitucional a ser garantida pelos governos federal, estaduais e municipais, lei essa instaurada na Constituição de 1988 que propõem também o ensino de EA por meio da interdisciplinaridade.
Lei essa sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso , em 27 de abril de 1999 , a lei n. 9795 “Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a política nacional de Educação Ambiental e dão outras providencias.” O projeto de lei, proposto pelo deputado Fabio Feldmann, reconhece, enfim, a EA como um componente urgente essencial e permanente em todo o processo educativo, formal e/ou não formal, como orienta os artigos 205 e 225 da Constituição Federal. Diferente das outras leis, não estabelece regras ou sanções, mas estabelece responsabilidades e obrigações. Ao definir responsabilidades e inserir na pauta dos diversos setores da sociedade, a política nacional de EA institucionaliza a EA, legaliza seus princípios, á transforma em objeto de políticas pública, além de fornecer a sociedade um instrumento de cobrança para a promoção da EA.
Finalmente, a política de EA legaliza a obrigatoriedade de trabalhar o tema ambiental de forma transversal, conforme foi proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) (produzidos com base na LBD e lançados oficialmente em 15 de outubro de 1997), Durante um ano a câmara técnica de EA do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), na época, presidida pelo Conselho de Educação Ambiental/Ministério da Educação (COEA/ MEC) discutiu propostas para regulamentação da lei N° 9795 pelo decreto 4.281.
Depois de comprovarmos a obrigatoriedade da EA está inserida na grade curricular da escola, indagamos: a escola tem trabalhado a proposta da educação ambiental? Sabemos que educação ambiental é um tema de imensa necessidade para a formação de todos os indivíduos, portanto precisamos compreendê-lo para podermos nos conscientizar e conscientizar os educandos sobre seus métodos e fundamentos. “A escola é um dos locais privilegiados para a realização ambiental desde que dê oportunidade à criatividade” (REIGOTA, 1994, p.24). Conscientes que a escola é um ambiente favorável à discussão da educação ambiental, pois é um local onde se está buscando preparar o educando para viver em sociedade, analisamos como os professores têm trabalhado a proposta de EA em suas salas de aula. Para levantamento de dados realizamos uma pesquisa que teve como campo de observação uma escola que denominamos área verde, localizada no município de Solânea – PB, onde usamos como procedimento metodológico a entrevista que foi realizada com professores de 2° e 5° ano, alunos e funcionários, entrevista esta que foi gravada com o intuito de transcrever de forma fiel as palavras ditas pelos entrevistados.
Diante desse fato e ainda de acordo com REIGOTA (1994) “A educação ambiental, como perspectiva educativa, pode está presente em todas as disciplinas, quando analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade e o meio natural, e as relações sociais sem deixar de lado as suas especificidades.” Por isso é evidente a necessidade de planejamento dialógico/coletivo para a transmissão dessa temática de forma que facilite a compreensão do educando. Este tema também necessita ser trabalhado de acordo com a realidade local do aluno para que assim o mesmo possa fazer relação com os problemas gerais do planeta e os que acontecem no seu município, proposta esta que conta nos PCN’s quando este afirma que “a perspectiva ambiental oferece instrumentos para que o aluno possa compreender problemas que afetam sua vida, a de sua comunidade, a de seu país e a do planeta.” (PCN’s, 1997, p.48).
Analisar a forma como a escola tem trabalhado a proposta de EA, ou se tem trabalhado, é importante uma vez que a mesma, fundamentando-se ainda em REIGOTA (1994), ”Leva os indivíduos e os grupos a adquirir uma compreensão essencial do meio ambiental global, dos problemas que estão interligados e o papel e lugar da responsabilidade crítica do ser humano.” Em virtude disso não podemos deixar passar despercebido um possível descaso das escolas com a transmissão dos fundamentos metodológicos da EA, ou um possível método de transmiti-lo mais criativamente ou adequadamente. Já que tal educação é tão importante para a formação crítica do indivíduo, pois a EA não deve ser transmitida só como conhecimento científico, mas como meios práticos que forneçam caminhos para uma melhor atuação diante dos problemas ambientais. E como a escola é o local mais privilegiado para a transmissão desses fundamentos, já que é lá onde esta sendo trabalhado o conhecimento científico e a formação do caráter do educando, resolvemos estuda - lá para compreender se as instituições de ensino têm trabalhado de forma adequada os preceitos básicos que regem a EA.
Assim sendo, o interesse posto consubstancia-se no oferecimento de contribuição para clarear respostas possíveis e reafirmar compromissos sociais – históricos – ambientais -políticos – acadêmicos que possam oferecer significados à luta em defesa da EA nas escolas.
Os PCN’s, produzidos com base na LBD, definiu como temas transversais, em função da relevância social, urgência e universalidade: Saúde, ética, pluralidade cultural, orientação sexual e meio ambiente. Apesar das críticas que recebeu pelo modo como pensou a transversalidade em educação (mantendo como eixos principais as disciplinas de conteúdo formais – português, matemática, ciências, história e geografia) e pela baixa operacionalização da proposta, teve o objetivo de inserir a temática ambiental não como disciplina, mas sim abordá-la articulada às diversas áreas de conhecimento. Isso está projetado e planejado para ocorrer desde o entendimento do significado das ações cotidianas no local de vida, passando pela reconstrução e gestão coletiva de alternativas de produção que minimizem e superem o quadro de degradação, até a inserção política na sociedade como um todo, redefinindo o que se pretende por qualidade de vida e propiciando a construção de uma ética que se possa nomear como ecologia.
Ao conversarmos com professores e funcionários da escola campo (EC) desta pesquisa percebemos que apesar da EA ser um preceito dos PCN’s a escola ainda não está preparada para repassar os fundamentos dela, aos seus educandos, afirmação que pode ser confirmada na análise da fala da Professora A do 5° ano da EC, Primeiro perguntamos a ela o que seria EA, e obtivemos a seguinte resposta: “Educar para viver no meio ambiente”. Perguntamos também se ela julgava importante o desenvolvimento da EA na sala de aula, e a mesma respondeu: “O desenvolvimento da EA em sala de aula é muito importante, pois devemos influenciar nossos alunos desde cedo a ter uma consciência ecologicamente correta, já que é nas mãos deles que se encontram o futuro do meio ambiente.” Continuamos nosso diálogo questionando como seria a melhor forma de repassar para os educandos a EA, ela diz: “Com a prática, porém trabalho muito pouco essa prática na minha sala de aula, primeiro porque para isso teríamos que ter recursos metodológicos e financeiros e não temos, por isso quando trabalho a EA na minha sala de aula a emprego nas disciplinas de geografia e ciência.”
Como podemos analisar nesse pequeno trecho da entrevista realizada com uma das professoras da EC que denominamos professora A, existe o interesse da escola em trabalhar a EA, porém faltam recursos sejam eles financeiros ou metodológicos.
“A EA promove a conscientização e esta se dá na relação entre “eu” e o “outro”, pela prática social reflexiva e fundamentada teoricamente. A ação conscientizadora é mútua, envolve capacidade crítica, diálogo, a assimilação de diferentes saberes, e a transformação ativa da realidade e das condições de vida.” (FREDERICO, 2006, p.29)
Essa citação nos leva a ver que a professora A pode ter razão quando diz que a melhor formar de repassar a EA é através da prática, porém fundamentada teoricamente, essa conscientização deve ser feita de forma que o educando esteja em contato com o meio de forma direta. Mas não é necessário que se trabalhe a EA apenas nas disciplinas de geografia e ciências como a professora A mencionou, “A educação ambiental como perspectiva educativa, pode estar presente em todas as disciplinas, quando analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade e o meio natural, e as relações sociais, sem deixar de lado as suas especificidades.” (REIGOTA, 2004, p.24). É necessário e possível aplicar a EA em todas as disciplinas seja ela da área de exatas ou humanas sem afetar suas originalidades.
A escola é um dos territórios de acontecimento da aprendizagem humana. Pois, como muito bem definiu o educador PAULO FREIRE (1996), “somos seres inacabados e, como tal, podemos aprender o tempo todo e em todos os lugares”
Um dos pontos de consenso hoje sobre as metodologias em EA e proposta do PCN’s é que elas precisam ser pensadas de forma mais interdisciplinar. Um grande desafio está sendo colocado aos educadores e pesquisadores em EA: criar uma forma, uma maneira de intervenção, onde a temática ambiental esteja presente em todas as disciplinas, ou no maior número possível delas. E que vá mais longe, seja parte integrante de nosso fazer pedagógico cotidiano, independente da área em que se atua, bem como o nível de ensino, seja ele de educação infantil, ensino fundamental, médio ou superior. A esse respeito REIGOTA faz uma importante advertência que ainda continua muito pertinente e atual:
“A escola é um local privilegiado para a realização da educação ambiental, desde que se dê oportunidade à criatividade. Embora a ecologia, como ciência, tenha uma importante contribuição a dar a educação ambiental, ela não está mais autorizada que a historia, o português, a química, a geografia e a física etc.” (REIGOTA, 2004, p.25).
A idéia de que a questão ambiental só pode ser trabalhada em algumas disciplinas, ou fora da sala de aula, é uma idéia ainda muito presente no imaginário e nas práticas didáticas e metodológicas dos atores sociais que tentam trabalhar com educação ambiental nos espaços educativos. No entanto, esta é uma representação bastante reducionista e que em muitas situações acaba restringindo, quando não inviabilizando a implementação e realização da EA na escola.
Ao questionarmos um aluno do 2º ano, que denominaremos de aluno 1, o que o ele entendia sobre educação ambiental, obtivemos a seguinte resposta: “Ah... Acho que é o assunto que vemos na matéria de ciências, sobre o sol, o mar a terra...” Outro aluno do 5º ano, denominado aluno 2, respondeu:” È o assunto de como reaproveitar o lixo, de como evitar a poluição, de como cuidar da natureza, que vemos no nosso livro de ciências...” A partir destes trechos constatamos o quanto ainda è frágil a percepção das crianças sobre a EA. Apesar da quantidade de anos que a mesma se tornou proposta do PCN’s, ainda não há a conscientização esperada por parte dos que compõe a escola, em relação à importância da transmissão deste tema na formação dos educandos.
As atividades de EA feitas fora da sala de aula, nos parques, nos zoológicos, nas chamadas “trilhas ecológicas” podem ser, e em muitos casos são, muito ricas do ponto de vista pedagógico e metodológico. Porém, esta não é a única maneira de trabalhar esta questão, além de, dependendo da forma como é conduzida pelo (a) professor (a), pode ajudar a reafirmar ainda mais conceitos e representações limitadas e preconceituosas em relação à situação dos seres humanos às demais formas de vida e componentes do mundo que o rodeiam.
As atividades pedagógicas fora da sala de aula é apenas uma das alternativas possíveis para a intervenção nos problemas ambientais via processo educativo. O grande equívoco, e que comumente é cometido, é considerar esta alternativa como a única possível. Esta é uma atitude que leva a uma visão apenas naturalista, ou seja, reduz a EA a uma atividade de contato eventual com a “natureza”. Em muitos casos uma atividade em sala de aula pode ser muito rica e diversificada para a EA, dependendo, em muito, da nossa capacidade criativa e da nossa habilidade no sentido de trazer para as nossas relações metodológicas e pedagógicas quotidianas, em cada disciplina, a discussão desta temática em suas múltiplas dimensões.
Com isso vemos que a EA não precisa ser necessariamente trabalhada fora da sala de aula em contato com o meio ambiente, apesar de ser bastante rico esse meio de transmitir seus fundamentos, para ser repassada aos alunos, ela pode e deve ser trabalhada na sala de aula de modo interdisciplinar envolvendo todas as disciplinas como propõem os PCN’s, para tanto, é necessário mais engajamento e criatividade dos educadores. A desculpa de que faltam recursos financeiros incentivos nas escolas, que foi dada por praticamente todas as professoras entrevistadas da EC, não pode ser considerada justa e coerente, pois não é preciso dinheiro para envolver tal temática no contexto da aula.
A escola em si, deve está destinada a fazer uso daquilo que está ao seu redor, aproveitando o seu meio, para que a partir de atitudes criativas possa construir formas de transmissão da EA que não exija recursos financeiros. Ao visitarmos a EC notamos uma enorme área onde os alunos brincam que não possuía nada plantado, ao questionarmos isso com uma professora do 2° ano que chamaremos de Professora B ela disse:
“Faz quatro anos que tento implantar uma horta aqui, por que aqui, a sopa é só a “misericórdia” não tem um talo de coentro, não tem um tomate, não tem nada já pedi tanto que desisti, é uma coisa tão simples comprávamos um pedaço de tela, cercava uma área ai a gente se juntava para trazer as sementes e podia ate colocar os alunos maiozinhos para tomar conta.
A sopa os meninos já não agüentam mais quando tem é só caldo de feijão e arroz. Não tem nenhuma verdura, se tivesse num seria melhor?”
Como podermos analisar nas palavras da professora, há local para o plantio da horta, há interesse dela também, porém, não a um interesse nem apoio conjunto da escola e, portanto torna-se difícil o desenvolvimento desse projeto. Tal projeto seria uma forma barata de conscientizar os alunos da importância do cultivo do solo e da produção natural de alimentos, mesmo com alguns argumentos ainda há empecilhos que nos levar a crer que a escola não está preparada nem possui incentivo suficiente para desenvolver a EA, ajudando assim a formar cidadãos comprometidos com o meio ambiente.
A escola é o espaço social e o local onde o aluno dará seqüência ao seu processo de socialização. Comportamento ambientalmente correto deve ser aprendido na prática, no cotidiano da vida escolar, no contexto da aula contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis.
Considerando a importância da temática ambiental e a visão integrada do mundo, no tempo e no espaço, a escola deverá oferecer meios efetivos para que cada aluno compreenda os fenômenos naturais, as ações humanas e suas conseqüências para consigo, para sua própria espécie, para os outros seres vivos e o ambiente. E fundamental que cada aluno desenvolva as suas potencialidades e adote posturas pessoais e comportamentos sociais construtivos, colaborando para a construção de uma sociedade socialmente justa, em um ambiente saudável.
Com os conteúdos ambientais permeando todas as disciplinas do currículo e contextualizados com a realidade da comunidade, a escola ajudará o aluno a perceber a correlação dos fatos e a ter uma visão holística, ou seja, integral do mundo em que vive. Para isso a EA deve ser abordada de forma sistemática e transversal, em todos os níveis de ensino assegurando a presença da dimensão ambiental de forma interdisciplinar nos currículos das diversas disciplinas e das atividades escolares. A escola deve transmitir com clareza que a natureza não é fonte inesgotável de recursos, suas reservas são finitas e devem ser utilizadas de maneira racional, evitando o desperdício e considerando a reciclagem como processo vital. Que as demais espécies que existem no planeta merecem nosso respeito. Além disso, a manutenção da biodiversidade é fundamental para a nossa sobrevivência. E, principalmente, que é necessário planejar o uso e ocupação do solo nas áreas urbanas e rurais, considerando que é necessário ter condições dignas de moradia, trabalho, transporte e lazer, áreas destinadas à produção de alimentos e proteção dos recursos naturais.
Esse processo de sensibilização da comunidade escolar pode fomentar iniciativas que transcendam o ambiente escolar, atingindo tanto o bairro no qual a escola está inserida como comunidades mais afastadas nas quais residam alunos, professores e funcionários. SOUZA (2000) afirma, inclusive, que “o estreitamento das relações intra e extra-escolar é bastante útil na conservação do ambiente, principalmente o ambiente da escola”.
Assim sendo a escola é o espaço social e o local onde o aluno deve ser sensibilizado para as ações ambientais e fora do âmbito escolar ele deverá ser capaz de dar seqüência ao seu processo de socialização. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis.
A educação ambiental propõe um conjunto de ações educativas voltadas para a compreensão da dinâmica dos ecossistemas, considerando efeitos da relação do homem com o meio, a determinação social e a variação/evolução histórica dessa relação. Propõe preparar o indivíduo para integrar-se criticamente ao meio, questionando a sociedade junto à sua tecnologia, seus valores e até o cotidiano de consumo, de maneira a ampliar a sua visão de mundo numa perspectiva de integração do homem com a natureza, e não existe lugar mais apropriado para o repasse desses fundamentos que a escola.
“Evidentemente, a educação sozinha não é o suficiente para mudar os rumos do planeta, mas certamente é condições para tanto” (PCN, 1997, p.24). Nessa perspectiva analisamos mais uma vez que è na escola que a EA dever ser trabalhada e repassada da melhor forma possível aos educandos, pois neles esta o futuro do planeta.
A nossa finalidade com essa discussão apresentada foi a de, a partir da defesa de argumentos favoráveis a uma opção teórica critica e emancipatória, levar ao educador, em sua concordância ou negação com o posicionamento adotado, a estabelecer um diálogo com o diverso, a refletir sobre sua própria prática e o que fundamenta, ampliando a capacidade de agir com consciência do que quer, aonde deseja ir e o que pensa sobre a EA, sua importância e significado para a sociedade, e, sobretudo de levar-nos a compreender o que o PCN sugere para o desenvolvimento da EA e como a escola tem trabalhado a EA nas proposituras do PCN, que concluindo por ora vemos que não é satisfatório o desenvolvimento da EA na escola e muito menos de sua aplicação dessa temática em sala de aula nas proposituras dos PCN.
Implementar a Educação Ambiental nas escolas tem se mostrado uma tarefa difícil, pois existem grandes dificuldades nas atividades de sensibilização e formação, na implantação de atividades e projetos e, principalmente, na manutenção e continuidade dos já existentes, que no nosso caso não encontramos projetos existentes na EC cuja qual foi o local de foco de nossos estudos.
Segundo ANDRADE (2000), “... fatores como o tamanho da escola, número de alunos e de professores, predisposição destes professores em passar por um processo de treinamento, vontade da diretoria de realmente implementar um projeto ambiental que vá alterar a rotina na escola, etc., além de fatores resultantes da integração dos acima citados e ainda outros, podem servir como obstáculos à implementação da Educação Ambiental”. Dado que a Educação Ambiental não se dá por atividades pontuais, mas por toda uma mudança de paradigmas que exige uma contínua reflexão e apropriação dos valores que remetem a ela, as dificuldades enfrentadas assumem características ainda mais contundentes.
Como vemos não é de hoje que a escola sofre para repassar de forma digna os fundamentos da EA, e muitos são os obstáculos no caminho, portanto è necessário interesse em cada um para que a escola possa realmente formar cidadãos comprometidos com o cuidado com o meio ambiente e induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto, a respeito do meio ambiente.
Os caminhos não são fáceis e apesar de tudo os PCN’S também não dão um caminho pronto para ser seguido eles repassam fundamentações e idéias de como se deve trabalhar a EA, mas cabe a cada um educador criar seu meio de repassar, pois não há receita pronta para o repasse metodológico de tal temática e sim a conquista incessante desta, pois “o surgimento do novo não pode ser previsto, senão não seria novo. O surgimento de uma criação não pode ser conhecido por antecipação, senão não haveria criação” (MORIM, 2002, p.81). E, em nosso entender, é essa procura da afirmação da certeza, de podermos ser sujeitos do processo de transformação sócio-ambiental e da construção de um mundo mais consciente que se da à importância da preservação ambiental e conscientização através da escola.
Referências:
ANDRADE, D. F. Implementação da Educação Ambiental em escolas: uma reflexão. In: Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 4. out/Nov/dez 2000.
BARCELOS, V. Educação ambiental: sob princípios, metodologias e atitudes. Rio de janeiro, Vozes, 2008.
DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992.
FREDERICO, C.B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. São Paulo, Cortez, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessário a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MORIN, E. Ciências com consciência. Lisboa, Instituto Piaget, 1991
Brasil. Meio ambiente e saúde temas transversais/Secretaria de educação fundamental. Brasília: MEC/ SEF 1997.
REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo, Brasiliense, 2004.
SEVERINO, Joaquim Antônio. Metodologia do trabalho científico. São Paulo, SP: Cortez, 2007.