Narciso E A Inutilidade Da Vaidade

Por Nagib Anderáos Neto | 05/06/2007 | Crescimento

Narciso, o belo, aquele que se achava superior a todos os demais, por quem todas as mulheres desmaiavam, o que sonhava encontrar algum dia uma mulher tão bela quanto ele, vagava perdido pela floresta por onde perambulavam deuses, ninfas, homens e animais.

Os deuses gostavam da floresta. Zeus, o supremo chefe, vez e outra baixava do Olimpo à procura de uma ninfa que o consolasse. Hera, sua esposa, a rainha dos deuses, perseguia o marido travesso pelos meandros da floresta.

Certa vez, mirando as águas calmas de um lago, Narciso viu um rosto projetado na água; o mais belo rosto jamais visto por ele. As nuvens que emolduravam o reflexo dele próprio mais pareciam os longos cabelos daquele rosto feminino que ele procurara por toda a vida. Ali plantado, apaixonado e imóvel, dispôs-se a mirar eternamente o rosto da amada finalmente encontrada. Seus pés, com o tempo, transformaram-se em raízes; seu corpo arqueado, no caule de uma planta; seu rosto, voltado para a água, numa bela flor alva, perfumada e solitária.

Narciso, o que amava o próprio rosto, transformou-se numa planta. Condenou a si mesmo a uma imobilidade eterna por sua vaidade.

A bela e instrutiva passagem mitológica nos leva a uma reflexão sobre a vaidade extremada e sua inutilidade. Num mundo onde a maioria dos seres humanos pretende aparecer ou ser melhor ou superior do que os seus semelhantes, a condenação à imobilidade da inteligência e da sensibilidade é um grande risco.

A vaidade é uma falha psicológica que entorpece a inteligência. O vaidoso ofende, sutilmente, outras pessoas ,pretendendo sempre ser superior, admirado, elogiado. Ao inflacionar a sua figura e os seus pretensos dotes, procura diminuir os demais. Criticando, destrutivamente, as pessoas com quem convive no dia-a-dia, julga poder, num mundo de anões que sua imaginação cria, ver projetada a sua figura.

Assim, mirando-se sempre no lago estático de suas pretensões, corre o risco, tal qual Narciso, de imobilizar-se para sempre. O amor a si mesmo deve ser desprovido do artifício projetado pelo imaginário da vaidade. Amar a si mesmo não deveria ser diferente do que amar os semelhantes e, em decorrência, o Criador de tudo quanto existe; um amor isento de pretensão, soberba e imaginação.

Ninguém pode amar, verdadeiramente, o que não conhece. O verbo amar é transitivo, não pode morrer em si mesmo.

Nagib Anderáos Neto
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