NÃO SE TRANSFORAM PESSOAS;ELAS SÃO PREPAFADAS PARA SEREM

Por sebastião maciel costa | 29/09/2023 | Educação

Não se transformam pessoas; elas são preparadas  para serem.         

        Há pouco mais de 40 anos, em um encontro de educadores, um eixo foi abordado para reforçar a necessidade de se rever as mudanças que precisavam ser implementadas a fim de se alcançar resultados compatíveis com a realidade exigida pela sociedade atual. Durante tal encontro, educadores das diversas redes e níveis de ensino questionavam o que precisava ser feito para colocar escola no plano de outras instituições e equipamentos que procuravam acompanhar as inovações para continuar cumprindo  papel para o qual foram instituídos.

        Comentava-se: “Se alguém faz uma viagem para terras distantes e permanece fora de sua realidade durante cerca de 20 anos, quando voltar, certamente vai perceber grandes mudanças na arquitetura das construções, de pequenos pavimentos, viraram arranha-céus com  marcantes conquistas e modernidade na movimentação urbana: asfalto, sinalização, movimentação; os meios de transporte evoluíram em marcas, design e velocidade; o comércio varejista evoluiu de pequenas vendas para sofisticados shopping center;  a telefonia deu um salto de qualidade que usando a velocidade da luz em seus serviços; as máquinas datilográficas foram substituídas por modernos computadores; os hospitais e centros médicos, com novos equipamentos e procedimentos recuperam vidas por entenderem que saúde não dá lucro, a doença sim; que antes de buscar o remédio é preciso entender as origens dos males que afetam a saúde...enquanto isso, a escola, em que pese a modernidade dos seus equipamentos eletrônicos, do retroprojetor, das lousas eletrônicas, do pincel no lugar o giz, os princípios são os mesmos: todos em uma sala, usando a mesma roupa, o mesmo módulo, o mesmo tipo de carteiras, virados para uma mesma direção, proibidos de falar, de levantar, de conversar, de olhar para trás, de sair, de questionar, de protestar, de trocar de sala, de escolher a aula, de preferir um determinado conteúdo e detrimento de outro, de mostrar o que sabe fazer, de falar como sabe, de agir como aprendeu, de ser o que é.  É como se todos tivessem evoluído, menos a escola. Naquele tempo e recorte, parecia um absurdo constatar que é preciso mudar com a mesma velocidade que o homem pesquisa aprende e evolui. A mudança é uma necessidade. Em educação, mudança é conexão.

        Quando apontamos que a escola não mudou, o registro não se refere a esta ou aquela unidade escolar; esta ou àquela rede escolar, mas sim, ao sistema, ao que diz a lei, ao que determina que a escola seja  a que temos, não necessariamente a que almejamos para atender às exigências que a criança, o adolescente, o jovem, o professor, o gestor sonham para ser possível atrair, acolher e fornecer a um aluno que  ele pensa, sonha, acredita e confia no futuro. Claro que é preciso impor determinadas regras para que uma grupo de estudantes habituados a desafiar-se e enfrentar limites, para que se consiga ordem, disciplina e um ambiente propício aos estudos como o silêncio e a atenção. Na hipótese de um comportamento de vá de encontro a essas orientações leva o professor a expressar-se, ainda que inadequadamente, com atitudes do tipo: “Quero ver, na hora o teste, farei questões bem difíceis na prova; serei mais rigoroso na correção, vou gostar de ver vocês com notas baixas; depois não reclamem, “ Que reações, que sentimentos, que perspectivas podem advir dessa relação entre alunos e professores?

        O ensino é a relação que o professor estabelece com o conhecimento; a aprendizagem é a relação que o estudante estabelece com o conhecimento. Observa-se que o professor se preparou o tempo que a lei exige, para se tornar o detentor do saber, ele, por opção ou concessão passa a professar o seu conhecimento, usando das ferramentas que o sistema lhe permite. Mas o que se põe em discussão é o fato de, em sendo o detentor do saber, precisa saber como fazer do seu saber um meio de alcançar o saber daquele que, em vez de possuir identificação com o saber, tem com a aprendizagem que aos poucos, vai se transformando em conhecimento, a meta dos mecanismos , o grande objetivo de toda uma sociedade que lida desordenadamente com os saberes de crianças que precisam ser acolhidas acolhendo, ouvidas ouvindo, compreendidas compreendendo.

       Recorrendo a uma analogia textual, consta que  “Em um imaginário país, abriram uma escola onde os  alunos podiam escolher o que estudar , como estudar e quando estudar. Na entrada, havia instruções sobre como o sistema funcionava: – Você pode visitar para conhecer a escola  apenas uma vez. – Há seis salas de aula, uma em cada andar, numeradas de 01 a 06 e as características e métodos de cada sala melhoram à medida que você sobe. – Restrição: você não pode voltar para o andar anterior. Um jovem estudante  decide ir procurar o seu futuro colégio.

1º ANDAR: Uma placa na porta diz: “Nesta sala não se conversa”. O curioso jovem  decide subir para o segundo andar. 2º ANDAR: Lá estava uma placa “Nesta sala não se escolhe onde sentar”. O estudante decide subir novamente. 3º ANDAR: Lá estava uma placa “Nesta sala não se brinca”. O estudante decide subir novamente. 4º ANDAR: Lá estava a placa: “Nesta sala todos são desconhecidos entre si”. O estudante decide subir novamente. 5º ANDAR: Lá estava a placa: “Nesta sala, somente o professor fala”. O estudante decide subir novamente. O estudante estava até tentado em ficar ali, mas decide subir para o sexto andar. 6º ANDAR: Lá estava a placa: “Nesta sala não há a figura do professor”. O estudante hesitou, lembrou o que estava escrito nas placas de todas as salas. Quando se virou para refletir  sobre suas decisões, ali estava uma quadro com a seguinte mensagem:  “Você é o estudante de número 676 a visitar este andar. Aqui não há professores, monitores, nem sinalizadores mas  existe todo o material necessário  para mostrar o que você precisa aprender para sobreviver no mundo que você herdou  dos adultos. Decida”.

        O estudante lembrou que na próxima rua, existia uma outra escola,  também com seis andares, onde os alunos podem escolher o que fazer, como fazer, quando fazer.   Lá também tinham regras: – Você pode visitar para conhecer a escola apenas uma vez. – Há seis salas de aula, uma em cada andar, numeradas de 01 a 06 e as características e métodos de cada sala melhoram à medida que você sobe. – Restrição: você não pode voltar para o andar anterior. Ele aprendeu a lição e   decide ir conhecer o colégio que pela estrutura deveria ter opções similares. Ele aprendera que não há retorno aos andares. Foi aventurar. Lá estava:

1º ANDAR: Uma placa na porta diz: “Nesta sala você é livre para fazer o que quiser, inclusive estudar”. O indeciso estudante achou liberdade demais e decide subir para o segundo andar. 2º ANDAR: Mas, lá estava uma placa “Nesta sala e nas dos próximos andares não existem mais vagas”.

       Levando em conta que o papel do estudante é tecer estreita relação entre a aprendizagem e o conhecimento, levantam-se questões que precisam ser estudadas por quem conduz os processos educacionais brasileiros.  Observem-se as opções que foram ofertadas ao estudante do recorte acima, registre-se que a decisão entre as opções que as placas indicavam não era da família, mas da criança; registre-se, igualmente que o pretenso estudante não é detentor do saber necessário para uma decisão madura já que o seu universo ainda não registra o domínio do saber, mas sim a busca pelo aprender.

  • Sebastião Maciel Costa

 

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