Não me calam redondilhas
Por António Lourenço Marques Gonçalves | 19/05/2014 | PoesiasAS PALAVRAS DAS IMAGENS 18
NÃO ME CALAM REDONDILHAS
(ilustraram mais algumas das minhas fotografias publicadas no facebook)
Do livro de Afonso Valente Batista, “A indiferença é morrer com a solidão aos pés da cama”:
"Não há uma página que não seja dolorosa, cruel, mesmo brutal, mas admiravelmente bem escrita" Do prefácio de Urbano Tavares Rodrigues (2012). Um poema sobre o título! Único.
"São os meus vizinhos.
Passam todos os dias à minha porta. Não batem.
Nunca bateram. Saem cheios de importância na solidão de seres solitariamente importantes. Já esperei que um dia batessem à minha porta. Foi uma esperança que se arruinou em desconsolo. Ficaram os ruídos, os barulhos, a ausência..." (p. 43).
Agradecimento, em aniversário (62)
Fazer anos tão bem calha.
A vida mais pesa: certeza.
Mas meus queridos amigos,
Tantos mimos. Que leveza!
Jardim
Rasgai
Arado
O úbere
Da terra
Jardim
Esperado
O fruto
Puro
Assim
"Diário
Seja o que for
Será bom
É tudo"
Daniel Faria, Poesia, Quasi
Madrugada de Abril
Era noite e fomos acordados
Na prisão que trazia ao pó da terra.
Alguém velava. E à janela aberta
Ouvimos-lhes a voz livre:
"Livres sois!”
As paisagens dos nossos sítios são desmedidas!
Uns são muito, muito bons!
- Os outros
- dizem uns -
são maus.
E mais:
pregam alto terem dons
armados de varapaus!
Castelo Novo, em abril
...verde que Abril alcança
no espelho do metal
da arma que o povo tem
garantia da esperança...
Liberdade
Já tenho uma certa idade:
Senti guerra e ditadura.
Conquistei a liberdade.
Com ela só com lisura.
E que bom esta vaidade!
Mas às vezes uns calafrios.
É ela mesmo a senhora?
Oh se a tratam por desvios
Não assina como autora."
Cerejas
Como se o barco partisse
Em abundância medida
Na transparência das flores
De filhos rubros sortida.
São noites de lua cheia…
Ergue-se, ainda o sol vai passar.
A noite amestra-se;
ela cativa.
Enfrenta o sol
e mostra-se altiva.
E o rei à noite a ela fá-la diva!
A torre, o vento e as eólicas...
Ela, em si, rija e fiel,
Nunca teve descaminho.
O vento tentou-lhe a cruz
Porque há sempre um diabinho
Mesmo sendo de Jesus.
- Ah os cornichos além!
Vade retro, vento bruto,
Que és danado cem por cem!
(Souto da Casa)
Tenho os meus livros caóticos
Tenho os meus livros caóticos:
Goethe, Camões, Mao Tsetung…
Tantos colhi. Oh provei
no meu templo, apoteóticos!
Não!
Não desminto,
nem ajusta que resmungue!
Ilustração
Não sentencies…
Aprende. Sai desse lugar tão ínfimo,
Que cabe a cada homem -
A casa onde habitas,
A pequena horta que te dá o pão
E o terreiro onde as pessoas já não vão -
E procura ver,
Com olhos serenos e límpidos
Filtrados pelo teu juízo puro do bem e do mal,
Sem abalares
O teu ímpeto.
Sai e vai afoito para esses lugares que alvitras,
E conquista-os com o sabor da justiça.
E, já lá, não julgues ainda.
Então faz,
E deixa que os outros
Façam o juízo de ti.