Não-lugar

Por elenirce de campos cabral | 22/08/2011 | Sociedade

BARBOSA,Yearim Melgaço.Um olhar crítico sobre não-lugar.In:O despertar do turismo:Um olhar crítico sobre não-lugares.São Paulo,2001,p.55-66.

Fazendo uma observação dos espaços que buscam reproduzir a aparência de um mundo real para tornar-se mais valorizado, detecta-se a existência de um simulacro ou um não-lugar de acordo com Marc Augé.
No ramo turístico essas práticas de simulações de lugares famosos são comuns. Sabendo que reunindo vários lugares em um só trará uma imensa satisfação ao cliente,o turismo opina por agir dessa forma para encontrar recursos que enriqueçam os pacotes e propagandas tornando-os mais charmosos e convincentes. A exemplo disso tem-se os grandes hotéis situados no deserto de Mojave-Las Vegas(EUA)que representam os lugares como os canais de Veneza,bairros de Nova York e também célebres pirâmides do Egito. Mesmo sendo belos não possuem atributos suficientes para fascinar o público. Deve-se mesclar características peculiares dos lugares para oferecer ao turista a oportunidade de estar "lá e aqui" simultaneamente, aproveitando o espaço em que estes se encontram. Há ainda uma tentativa de identificação de forma apenas verbal que oferece aos lugares a magia das imagens pré-concebidas, retirando deles aparências comunais e enfadonhas,transformando-os também em mercadorias estimulando o hedonismo consumismo. A exemplo disso destaca-se Recife e Maranhão,considerados respectivamente como a "Veneza e a Jamaica brasileira" e Alter do chão o "Caribe Paraense".
De acordo com Urry, o que é visto e consumido como real são simplesmente aparências,entretanto, isso não impede a fascinação pelo consumo existente entre as sociedades fazendo com que estas desfrutem muito mais dessas aparências do que de outras necessidades. Esses cenários modificados ganham grande destaque por causa da visualização que o público direciona a eles. Recorrendo a esses meios de divulgação exótica,o ramo turístico investe nos não-lugares pois além dos olhares dos turistas estarem voltados para o faz-de-conta,eles possuem a curiosidade de compreender a capacidade que os simulacros tem de se assemelhar com o verdadeiro.
O processo de incorporação de identidade nas sociedades se forma com a junção dos valores vindos algumas vezes das comunidades externas. Não obstante esses valores fazem com que o lugar perca sua identidade original dando espaço às características "emprestadas", como é o caso dos não-lugares. Sobre esse fato, Hall argumenta que as culturas tornam-se debilitadas devido a sua exposição às influências externas.
Sendo considerado a indústria do mito , o turismo envolve várias empresas(hoteleiras,aéreas) que possam contribuir para a idealização da sua imagem. Os espaços imaginários ou não-lugares invadem tais empresas por meio da sedução visual intencionando alcançar clientes com seus prospectos esplêndidos aproveitando o fato de que o turista viaja primeiramente pelo mundo imaginário para após deslocar-se denotativamente. Esse mercado preocupa-se em encontrar características egrégias em um único lugar para envolver cada vez mais os diversos estilos de público.
A idéia de reprodução não está condicionada somente a cidades. No Japão, tem-se o exemplo do museu de Otsuka que exibe as mais variadas pinturas dos mais diversos artistas em um único espaço. O visitante se interessa por conhecer esse lugar pelo mesmo objetivo que tem em tomar conhecimento das cidades ;pode-se desfrutar da fidelidade com que as obras são representadas,ademais existe a oportunidade de visualizar em mesmo lugar obras que estariam dispersas por toda Europa caso fossem verdadeiras.
Nesse sentido o museu representa um imaginário convertendo-se também em um não-lugar.
Ao realizar a análise do texto,percebe-se que quando os não lugares realizam um "empréstimo" de aparências,estes tornam-se na visão do turistas espaços idealizados ajustados ao exótico e ao familiar. A exemplo há o hotel Praia Forte na Bahia que unifica a atração da Polinésia,o acolhimento do Haiti,e o charme das Bahamas,para oferecer aos brasileiros essas qualidades em um só lugar.Descrito no início texto como um não-lugar,o deserto de Mojave nos Estados Unidos,reúne grandes representações da Itália e França;"Para conhecer Veneza não é preciso ir a Itália ,ou para conhecer a Torre Eiffel não é preciso ir a França,ambas podem ser vistas em Las Vegas .Tais lugares invadem os sonhos dos viajantes e das empresas relacionada com o setor turístico. Àqueles que não possuem a oportunidade de visitar lugares longínquos e/ou luxuosos,podem estar desfrutando de muitos deles em em mesmo espaço que se tornam emissores das necessidades não básicas mas sim supérfluas de cada cliente.
Julga-se importante o papel exercido pelo pelos simulacros em atrair para si características de outros lugares. Estes tornam-se de aparências falsas - porém acima de tudo belas - mas que acabam por atrais pessoas por esse motivo,pois as sociedades se fascinam pelo consumo independentemente se as paisagens avistadas são comuns daquele lugar ou não. O turismo se embasa no fato de que sua função é nortear a visão do cliente para suas magníficas propagandas, sejam elas ilusórias ou não. Barbosa demonstra essa idéia inúmeras vezes no decorrer do texto,abordando tais fatos de forma clara para que o leitor possa compreender as definições de não-lugares e de como elas podem serem aplicadas.