Não julgue o livro pela capa...
Por Adriana Maluendas | 24/03/2018 | CrônicasA frase do título é conhecida, muito usada e hoje decide mencionar mais uma vez...
O inverno deste ano começou me judiando um pouquinho com temperaturas baixas, o que é normal e esperado na costa leste americana. Mas desta vez afetou a minha saúde e tive que me cuidar com maior atenção. Durante algumas semanas de idas e vindas ao hospital para minhas seções de inalação e tratamento, acabei tendo um encontro inesperado com uma jovem, linda e educada. Aquele tipo de pessoa com um brilho especial e uma delicadeza no seu jeito de ser que se percebia prontamente na maneira que se expressava.
Passado alguns dias desde a primeira vez que eu a notei, ela se aproximou e iniciou uma pequena conversa comigo. Com um sotaque diferente da área onde moro, me perguntou: “Desculpe a indiscrição, mas gostaria de saber se você está esperando aqui há muito tempo?” Respondi que não e que, na realidade, havia chegado pouquinho antes, pois precisava fazer algo antes no mesmo hospital. Então, ela me perguntou se esperava por “tal médico”, respondi que não e que estava para minha inalação e alguns exames feitos horas antes. Seu telefone tocou interrompendo a pequena conversa e, ao desligar a ligação, percebi que estava chorando muito.
Enfim, uma situação meio estranha, pois não queria me envolver, mas sou humana e gostaria de saber se eu poderia fazer algo por ela. Não resisti e acabei perguntando e ela começou a falar e me dizer algumas coisas como se me conhecesse há anos. “Às vezes, as pessoas ainda me surpreendem”, disse a moça e continuou: “Estou tão decepcionada com amigos e familiares que às vezes preciso chorar para não gritar e me rebaixar no nível dessas pessoas! Sim, sou jovem. Sim, aparentemente saudável àqueles que me olham. Mas estou morrendo”. E parou de falar... Depois de uma pausa, continuou:
- Tenho uma doença crônica e muito cruel que a cada dia se manifesta de maneira impiedosa, sou portadora da doença de Lyme. Cada semana me consome e me debilita de uma forma que não gosto nem de mencionar. Tenho viajado por tantos estados e até países em busca de terapias, mas tudo ainda está em fase de estudos e de tratamentos alternativos.
Em seguida, ela me olhou nos olhos e disse: “Me perdoe, não queria falar sobre isso. Afinal você também está em tratamento não é mesmo?” E eu respondi: “Meu tratamento é diferente do seu, meus problemas e limitações são diferentes, não tenho doença de Lyme, mas outros tipos de doenças crônicas”.
Ela continuou: “Sou forte, não espero nada de ninguém, mas às vezes comentários do tipo ‘ela não parece doente’ me deixam furiosa!” E seguiu desabafando: “Sim, tento colocar um bom par de sapatos, tento me arrumar para min mesma, e às vezes consigo. Às vezes tento ate me maquiar e enganar a dor com o sorriso mais forte que posso nos piores momentos”. Em suma, deixei a moça desabafar os seus problemas e, antes de seguirmos nossos rumos, fiz alguns comentários a ela.
Voltei para casa tão triste... Triste porque pude entender tão bem o que ela queria dizer e por ser uma jovem tão linda e educada passando por tremendas aprovações no auge da sua jovialidade, me deixou ainda mais triste. Triste com pessoas e julgamentos insensatos e maldosos. Quero acreditar que algumas vezes os comentários podem até não serem intencionais, pois somos humanos, cheios de imperfeições e muitas vezes falamos sem pensar. Entretanto, nossas palavras machucam e ferem mais do que uma agressão física, deixando profundas feridas que as cicatrizes jamais desaparecem. Niguem sabe as batalhas que cada um trava.
Queridos leitores, nunca podemos assumir as condições do próximo. Infelizmente, creio que não sou a primeira a dizer isso e certamente não serei a última. Sinto isso na própria pele. Tentei por décadas já travando minhas próprias lutas, problemas e limitações e fortes resquícios marcados a ferro pelas experiências impressas na minha saúde, cravadas pelo terrorismo.
Não é fácil! Ninguém, ninguém mesmo está imune aos desafios que este mundo em transformação nos impõe, e cada qual tem uma maneira única de enfrentar a vida. Quem sou eu para pedir ou exigir mudanças em alguém ou adaptações, mas nada me impede de falar e deixar algumas dicas pessoais como uma forma de troca diante do inesperado.
Minha mensagem nesta pequena crônica não é criticar pessoas, e jamais julgá-las. Mas sim de tentar realçar algo em nosso dia a dia, para que determinadas atitudes não passem mais despercebidas. Pois cabe a cada um de nós optarmos pela melhor forma de como agir e/ou reagir. As nossas ações e reações falam apenas de nós mesmos e quem somos. Então, sejamos genuínos e diferentes.
Não derrube, não julgue, sem saber/ter conhecimento, mas ajude a levantar.
É mais do que crucial focarmos no nosso próprio crescimento, amadurecimento e evolução. Precisamos mais do que nunca gerar uma energia diferente ao nosso redor e entre nos, uma carga positiva que nos ajude a impulsionar nossas vidas para refletir nos demais.
Portanto, antes de expor cegamente seus comentários sobre o próximo, ligue o botão da “pausa”. Compare com suas experiências, suas viagens, sua dor, livros que esta lendo, filmes que te emocionaram. As redes sociais estão repletas de noticias falsas, e não há porque alimentar ainda mais esse tipo de energia pesada como tantas outras que consideramos ingênuas. O fardo da vida já é enorme diante da verdade, dirá com as incertezas. Espalhe ao seu redor, semeie a gentileza. Seja gentil para com você mesmo. Aliás, a gentileza gera leveza, uma das sensações mais almejadas no corrido mundo em transformação. Sejamos mas gratos pelo que temos.
Afinal, ter um coração do bem nesse mundo cruel não e fraqueza, e sim coragem (como disse um autor desconhecido).
Vamos pra frente, gente! Todo dia é dia e toda hora é hora de começar um futuro mais justo e equilibrado para novas gerações e para um mundo melhor. E com fé, sempre!
Com muito amor, “Sorria” para você e para o mundo!
By Adriana Maluendas