Não Fique Mais Sozinho: Uma análise da sociedade moderna e contemporânea e suas relações com o coletivo
Por Vanessa Trópico e Silva | 01/01/2010 | FilosofiaPare por alguns segundos e pense, nos últimos dias quais foram os estímulos que você recebeu para se preocupar com alguém do seu meio social. Mas e quantos aos estímulos você recebeu para se preocupar consigo mesmo, com certeza este segundo estimulo foi bem maior. Este artigo pretende problematizar estimulo ao "espelho fosco" que a sociedade capitalista coloca em nossa frente, mas não vamos apenas nos centralizar em uma discussão políticae econômica até porque deixaria lacunas, mas vamos tratar do comportamento humano na sociedade moderna.
O culto ao individualismo muito tem sido debatido no meio cientifico autores como Zygmunt Bauman que partilham da idéia de que o que vigora é a ascensão de um objetivo individual, em declínio dessas instituições, analogamente, sólidas e tradicionalistas. Essa mudança de parâmetros teria provocado, então, uma quebra dos moldes, as molduras de classe, etnia, linhagem etc., alguns dos já históricos pontos de orientação. Esses padrões já não estigmatizam o indivíduo, pelo contrário, seria do indivíduo que partiria, se chocando com os multifacetados novos padrões, cada vez mais micros, de convívio social e, por isso, com sucinta fluidez, normas que vão e estão se maleando em curtíssimo espaço de tempo.
Comunidades de carnaval' parece ser outro nome adequado para as comunidades em discussão. Tais comunidades, afinal, dão um alívio temporário às agonias de solitárias lutas cotidianas, à cansativa condição de indivíduos de jure persuadidos ou forçados a puxar a si mesmos pelos próprios cabelos. Comunidades explosivas são eventos que quebram a monotonia da solidão, cotidiana, e como todos os eventos de carnaval liberam a pressão e permitem que os foliões suportem melhor a rotina que devem retornar no momento em que a brincadeira terminar. E, como a filosofia, nas melancólicas meditações de Wittgenstein, 'deixam tudo como estava' (sem contar os feridos e as cicatrizes morais dos que escaparam ao destino de 'baixas marginais'). (BAUMAN, 2001, p. 229)
Cada vez mais individualizados e por conseqüência mais solitários, tudo que nos remete ao sólido nos é mostrado como atrasado e carrega em si um tom nostálgico , mais como seres essencialmente sociais, precisamos estar em coletividade ai passamos para a comunidades que o autor chama de comunidades de carnaval, para que possamos suportara solidão de uma sociedade de fluidez, de coisas passageiras.
Dentro da perspectiva moderna fomos nós fomos condicionados á ter uma vida muito acelerada, o tempo parece curto para tudo que queremos fazer e ter, entretanto estamos cada vez mais sozinhos em esferas individuais, porque na verdade nossas buscas por preenchimento é o que nos faz correr tanto em direção de algo muitas das vezes idealizado. O sistema econômico deu o ponta pé por esta busca desenfreada, buscamos de forma individual, justiça, segurança, educação e saúde. Por não acreditarmos mais na força do coletivo somos tentados pelas fáceis e rápidas respostas do mundo moderno, estamos sozinhos em nosso condomínio fechado, estamos salvos pelo plano de saúde privado, garantimos educação de qualidade aos nossos filhos e quando se pode paga-se pelo que chamamos de justiça.
È dentro deste aspecto que encontramos o sistema capitalista como grande germe da individualização, entretanto, seus contrastes seria suficientes para desconstruir esse padrão, afinal não estamos seguros em nossos condomínios fechados, nossos filhos não estão tão protegidos como pensávamos dentro da escolas particulares, nem sempre estamos á salvo nos planos de saúde privado e quanto a justiça....só o dinheiro não basta para garanti-la. A sociedade identificada por Gilles Deleuze (1992) como de controle. Hoje, nós encontramo-nos num momento de transição entre um modelo e outro. Estamos a sair de uma forma de encarceramento completo para uma espécie de controle aberto e contínuo.
A chamada sociedade de controle é um passo à frente da sociedade disciplinar. Não que esta tenha deixado de existir, mas foi expandida para ocampo social de produção. Segundo Foucault, a disciplina é interiorizada. Esta é exercida fundamentalmente por três meios globais absolutos: o medo, o julgamento e a destruição. Logo, com o colapso das antigas instituições imperialistas, os dispositivos disciplinares tornaram-se menos limitados. As instituições sociais modernas produzem indivíduos sociais muito mais moveis e flexíveis que antes. Essa transição para a sociedade de controle envolve uma subjetividade que não está fixada na individualidade. O indivíduo não pertence a nenhuma identidade e pertence a todas. Mesmo fora do seu local de trabalho, continua a ser intensamente governado pela lógica disciplinar. Deste modo percebemosque existe mais que a força de um controle social por um sistema econômico, mas a forma como nós nos comportamos dentro dele.
Não exercemos controle sobre nós, sobre nossas vontades, o descontrole aparece latente na forma como agimos no tecido social, nossas vontades, ímpetos cada vez mais maiores, não pensamos pelo lado coletivo agimos usando a nossa razão para um fim particular e cada vez mais sofremos pelas conseqüênciasdeste tipo de organização social, entretanto os estímulos não param, e não conseguimos resolver nossos problemas de ordem social e individual, não somos levados a pensar no outro de uma forma desinteressada, muitas das vezes os projetos levados as pós graduações dentro dos centros científicos não passam de um discurso repetitivo que busca afagar o ego do seu orientador, afinal muita coisa mudou menos o desejo da imortalidade, e se perpetuar nos trabalhos dos orientandos tornou-se a função de muitos programas d pós graduação em nosso pais. As matérias nos telejornais não são medidos por sua real importância, pois o meio de comunicação é o mais impregnado pelo individualismo e o culto do próprio eu. As campanhas que tem fundo de caridade, na verdade busca auto promoção, então quem realmente preocupa-se com o outro?
O grande dilema da sociedade mais contraditoriamente solitária esta muito longe do fim, porque não existem espaços para se dedicar á algo tão vital para nosso bom funcionamento social que é o convívio em grupo, as saídas individualizadas apenas causam um tipo de amortecimento, mas ao passar aquela sensação estamos sozinhos e incompletos.Criamos companhias de plásticos, robôs, amigos virtuais, paixões virtuais, fazemos das pessoas um objeto sem vidamas nada consegue preencher.
Nossa geração esta sendo criado para continuar acelerada e sozinha, porque estamos diante de uma educação que prioriza o eu, nossa relação com o trabalho já muito distante de ser asatisfação das necessidades, em meio a tanta exploração física e psíquica, consegue ser o espaço onde estamos em coletividade e excitamos este tipo de convívio, é onde temos visibilidade social, não que este seja o paraíso das relações mas ainda resiste como um forte articulador social. Não existe formula para se resolver o grande dilema social o que existem são possibilidades de uma melhor convivência buscando-se a nosso modo viver o hoje ainda com preceitos que não são antigos ou atrasados, mas clássicos e vitais para uma sociedade mais harmoniosa com nossa própria natureza que é o estar em sociedade.
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