Na ponte, apenas uma pequena mureta

Por Antonio Ribeiro | 14/01/2011 | Crônicas

Na ponte, apenas uma pequena mureta

Clemente saiu para passear.

Foi andar lá pelo outro lado da cidade, no final da grande avenida. Passou por uma ponte que atravessa a via expressa, longe da arborizada e serena alameda do colégio.
A entrada que dava acesso à ponte servia de moradia para inúmeras pessoas, todas de condições sócio-econômicas diferentes das com que convivia diariamente.
Muitas se enfileiravam, com carrinhos de entulhos, pertences e muito lixo.
Eram moradores de rua e viciados. Velhos, jovens, crianças. Estas últimas choravam, gritavam com toda força de seus pequeninos, enfumaçados e poluídos pulmões.
Os filhos de Deus que transitavam por aquelas paragens, por cima da ponte, não observavam ou não queriam observar tão dantesco espetáculo.
Na ponte, apenas uma pequena mureta tentava proteger as pessoas contra queda.
Estas muretas tinham aproximadamente uns cinquenta centímetros de altura, chegava ao máximo até aos joelhos de uma pessoa de estatura normal. Era a única proteção contra a fatalidade de uma queda. A diferença entre a vida e a morte.
A calçada estreita. Nesta região as calçadas são em sua maioria estreitas.
Na via os carros velozes.
Motoristas apressados e com medo de permanecer muito tempo sobre a ponte. Passavam fugindo.
Pedestres, alguns corajosos corriam toda sorte de risco quando se aventuravam a cruzá-la a pé.
Algumas daquelas pessoas, lá de baixo, principalmente os mais jovens, subiam com frequência e caminhavam por toda extensão da ponte.
Clemente perplexo não entendia o que eles buscavam e porque apareciam sempre que algum pedestre iniciava a travessia.
Clemente voltou rápido para o colégio questionando, por que as muretas não eram projetadas mais altas para evitar quedas fatais e tirar a possibilidade dos pedestres serem vistos, lá de baixo, por aqueles que ficavam dia e noite estudando a movimentação na ponte arquitetando ações indesejáveis.