Na contramão da eleição
Por NERI P. CARNEIRO | 28/08/2010 | FilosofiaOnde já se viu: um país desse tamanho deixando-se arrastar pelos interesses inconfessáveis daqueles que gerenciam a coisa pública, daqueles que produzem as leis que nos oprimem ou, pior ainda, ludibriado por aqueles que deveriam cuidar para que a justiça seja feita.
O mote do nosso desabafo e desta reflexão nasce de algumas propostas e leis que vemos ganhar espaço na mídia e no cotidiano de muita gente: um louco propõe uma lei proibindo as palmadas desferidas pelos pais que desejam educar seus filhos. Aquela da "ficha limpa" era necessária, mas ao que tudo indica, acabará em pizza, pois ela foi produzida para que os "sujeiras" ganham na apelação. Sem falar no absurdo "habeas corpus preventivo", pelo qual o camarada se confessa culpado, mas resguarda antecipadamente da imputação de uma penalidade. Todos sabemos que as queimadas são proibidas, mas os órgãos fiscalizadores estão deixando as chamas se alastrarem pela nossa Rondônia nestes tempos que precedem as chuvas (e a língua do povo diz: isso só está acontecendo por ser tempo de eleição!) ... Existem, além destes, vários outros absurdos e normatizações que penalizam o cidadão e favorecem a vida do bandido, além de, simultaneamente, evidenciar o desprezo pelas pessoas.
Isso só tem demonstrado que as instituições criadas pela nossa sociedade estão, cada vez mais, caindo de maduras ou já apodreceram. Aliás, essa constatação já é antiga. Os jovens da década de 1960 (e a revolução juvenil de 1968) criaram o rock, a liberação sexual, a minissaia; queimaram sutiãs, disseram não á guerra... e muito mais porque estavam protestando contra o esvaziamento ético-moral e social da sociedade. Disseram que não sabiam o que queriam, mas sabiam o que não queriam!
E hoje?
Apesar dos protestos históricos, a malandragem tem se alastrado e se infiltrado fazendo adeptos. Tanto isso é verdade que essas situações se ampliam em proporção geométrica e nós permanecemos inertes ou quando queremos reagir percebemos que somos impotentes...
E então, o que fazemos?
Assumimos a posição condenada na música do Zé Geraldo: "isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos". Não querendo dizer que não se deva alimentar as aves, mas que essa é a postura de quem não se compromete com os rumos da sociedade. O pior é que, além desse refrão, uma das estrofes afirma: "Entra ano, sai ano, cada vez fica mais difícil o pão, o arroz, o feijão, o aluguel/ Uma nova corrida do ouro, o homem comprando da sociedade o seu papel. / Quando mais alto o cargo maior o rombo. Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos".
Se existe tanto contrasenso e ao mesmo tempo nos mantemos "dando milho aos pombos", alguém pode perguntar, quem está na contramão? Aqueles que são os "comandantes loucos" ou nós, povo brasileiro, que os colocamos no comando e depois não nos organizamos para escorraçá-los da lá?
A resposta: nós e eles. Não existe o "maior responsável", apenas existem os responsáveis. E cada lado tem a sua cota de culpa.
Nós, eleitores, somos responsáveis na medida em que a nós é imposta a obrigação de escolher: Somos obrigados a votar. E quando votamos, na maioria das vezes reelegemos os malandros. E isso se dá nos três níveis (município, estado e união). Algo poderia ser evitado se, olhando as fichas sujas de vários candidatos, tivéssemos isso como critério para não votar neles.
Eles são culpados porque foram votados, ou concursados, para produzir o bem estar da população, mas se dedicam aos interesses de nefastos grupos econômicos. Instalam-se como se fossem uma propaganda enganosa.
Isso faz lembrar um poema de 1944, "Números", de Trilussa, contemporâneo de Mussolini
"Eu valho muito pouco, sou sincero, dizia o Um ao Zero,
No entanto, quanto vales tu?
Na prática és tão vazio e inconcludente quanto na matemática.
Ao passo que eu, se me coloco à frente de cinco zeros bem iguais a ti,
sabes acaso quanto fico?
Cem mil, meu caro, nem um tico a menos nem um tico a mais.
Questão de números.
Aliás, é aquilo que sucede com todo ditador, que cresce em importância e valor
quanto mais são os zeros a segui-lo".
E assim ficamos todos, na contramão do bom senso, "dando milho aos pombos" enquanto alguns desses "número um" nos chamam de zero.
Bateu uma dúvida: Eles acham que somos zero ou realmente nós somos zero?
Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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