DXXIV – “ASSEMBLEIA-GERAL DE 28.05.2011 (ADEPOL-SC) : A SABEDORIA DE ADEMAR REZENDE E AOS VENCIDOS O DEVER DE FAZER OPOSIÇÃO PERMANENTE”

Por Felipe Genovez | 15/08/2018 | História

MXXIV – “ASSEMBLEIA-GERAL DE 28.05.2011 : A SABEDORIA DE ADEMAR REZENDE E AOS VENCIDOS O DEVER DE FAZER OPOSIÇÃO PERMANENTE”

PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 26.05.2011, horário: 09:20 horas: 

E a Delegada Sandra Andreatta logo em seguida (26.05.11), por meio da rede PCDELEGADOS@PC.SC.GOV.BR,  me mandou um e-mail com o seguinte conteúdo:

“ Tu és de-mais, mesmo, heim? Por isso continuo te adorando e me sujeitando.

 Ar-ra-sou, Autoridade !!!

 Bj para ti e para a minha adorável "filhinha", que teve o prazer de te conhecer e de estar contigo, usufruindo diretamente da tua inteligência e capacidade! (e, de quebra, me ter como "mãe") kakakakakakakakakakaka ...”

Horário: 11:00 horas:

Estava na DRP/Balneário Camboriú para ouvir os Delegados Márcio Colatto e Bebber. A tônica da conversa era a expectativa a respeito da assembléia da Adepol no próximo sábado. Colatto reclamou da situação salarial, com tudo aumentando... Beber comentou que eu estava a sete ou oito anos fora e que depois da minha candidatura fiquei na obrigação de fazer oposição constante e que o pessoal esperava muito da minha participação.

Horáriio: 18:10 horas:

Liguei para o Delegado Ivan Brandt de São Francisco do Sul e ele me questionou se eu iria a assembéia-geral da Adepol. Respondi que sim e ele argumentou que a participação de todos era  fundamental, inclusive, que leu minhas manifestações na rede.

Data: 28.05.2011, horário: 10:45 horas:

Estava em minha residência quando recebi um telefonema do Delegado Rogério Zattar informando que as obras na rua onde ficava localizado meu sítio haviam sido concluídas. Rogerinho me perguntou se eu estava em Florianópolis e eu confirmei que estava na “Grande Fpolis”. Em seguida disse que recebeu o meu e-mail contendo as notas sobre a assembléia-geral, afirmando que concordava com o meu posicionamento. Argumentei que no meu entendimento era a saída mais viável para o momento.

Horário: 13:10 horas:

Estava no Bairro Rio Tavares, em Florianópolis, e fui até uma loja de móveis rústicos quando fui surpreendido com uma ligação da Delegada Sandra Andreatta. Como já sabia o que ela queria resolvi não atender a ligação. Silvane logo que soube quem era mudou de cor, pois já tinha tido discussões tensas com ela sobre a minha decisão de não ir a assembíéia-geral. Silvane conseguia externar nos gestos, na voz, na fala, nos argumentos e na energia que a minha presença era fundamental, pois os membros da chapa “Autonomia Institucional” estariam lá e eu que era o “líder” deles durante a campanha tinha “sumido”. Já tinha dito para Silvane na assembéia-geral do final de 2009 (no Lira Tênis Clube) que era a minha última assembléia e que depois disso não iria mais nenhuma, salvo se chegasse à presidência da entidade. Fiz uma retrospectiva sobre minha vida e lembrei que no início da década de noventa resolvi por fim à luta classista de dez anos, na linha de frente fazendo oposição a governos, secretários de segurança, chefes de polícia, tudo para construir uma estrada para o futuro: Federação Catarinense dos Policiais Civis e Associações Regionais (Apocs). A Federação foi transformada em Sintrasp (Sindicado) e depois passou a clandestinidade por causa do Sinpol (Sindicato dos Policiais Civis - SC) que conseguiu a carta sindical. Mais, ainda, enquanto eu fiquei quatro anos na presidência da Federação o atual presidente estava há praticamente vinte anos, numa verdadeira ditadura. Com fortes dores de cabeça e outros problemas de saúde consegui realizar eleições em 1992 e empossei a nova diretoria, com o juramente de nunca mais ser candidato a nada. Essa foi a promessa que fiz...  Agora estava Silvane argumentando que era importante eu participar. Não atendi a ligação de Sandra e comentei com Silvane que tão logo nós estivéssemos viajando eu faria uma ligação para dar as devidas explicações.  O clima já não era mais o mesmo para quem saiu para tomar aquele café da manhã em familia lá na praia da Armação, vendo o mar e o céu azul com ondas de ciclone lineares batendo de encontro com o rochedo, e acreditando que à tarde estaria viajando, vendo flores, canto dos pássaros... Quando cheguei na Cassol Center Lar (São José) Sandra Andreatta fez uma nova ligação e eu não atendi. Silvane com ao meu lado dizendo que ficaria no carro, mas em protesto e mal augouro... Caminhei pela loja para comprar rejunte me sentindo o “pior do mundo”, pois a pressão de Sandra Andreatta tinha o seu peso, mesmo sem atender a ligação, me atingia visceralmente. Depois que retornei do interior da loja liguei para Sandra Andreatta e ela foi logo me perguntando sem rodeios:

- “Eu não acredito que tu não vais a Assembléia. E não acredito que vou ficar órfão lá, nem sei se vou mais se tu não fores... O que o pessoal da chapa vai pensar? Tu pegas o carro e vem agora de São Francisco, em cinquenta minutos tu estarás aqui, agora são uma e quarenta e a assembéia é às...., vem logo...um beijo”. 

Em frações de segundo lembrei que Sandra foi praticamente a única Delegada a me apoiar sempre, inclusive foi uma das únicas que me mandou e-mail me parabenizando pelo que escrevi na rede. Deixei Silvane em casa e fui para o centro, me dirigindo primeiramente ao Shopping Beira Mar, onde chequei por volta das quinze horas para dar um tempo. Logo que cheguei avistei o Helicóptero da Polícia Civil fazendo um pouso em frente ao Hotel Majestic e logo imaginei: “O Delegado Sena veio de helicóptero, vou ficar espiando só para confirmar, eta chegada triunfal à moda ‘Jack Bauer’”. Não deu outra, Sena saiu do Helicóptero e se dirigiu a pé, pronto para ir para a assembléia. Em seguida, fui caminhando rumo à escada rolante, e avistei o Delegado Damásio (Tubarao) que não me viu e achei que fosse melhor assim. Fui até o segundo andar para tomar um café depois de uns minutos avistei o Secretário Grubba chegando, com uma camisa listada na horizontal branca e verde, provavelmente na companhia de sua noiva que nem cheguei a ver. Fiquei pensando: “Bom, depois da chegada ‘cyborguiana’ do ‘Sena’ (provavelmente se fazia acompanhar pelo Delegado Djalma), da visão do Damásio caminhante-errante e agora do Grubba que parecia ‘agigantado’ pelo tamanho e aparente desconexão com a assembléia dos Delegados, entendi que era hora de bater em retirada e ir para a sede da OAB-SC onde seria realizada a assembléia-geral. Enquanto saia fiquei com a imprewssão que o Secretáriio ‘Grubba’ havia me reconhecido, mas diante da dúvida e da pressa resolvi estabelecer uma linha imaginária até às escadas.

Horário: 15:40 horas:

Tinha acabado de chegar na sede da OAB e na parte externa encontrei os Delegados João Carlos (CPP/Capital), Amorim (DRP/Mafra), Marcio Schultz (CPP/Lages) e Madje Branco conversando. Conversamos sobre assuntos “ligeiros” e logo em seguida encontrei a Delegada Tatiana de Chapecó com quem também fizemos algumas tratativas, quando fomos avisados que já estava começando a assembéia. Logo na entrada encontrei a Delegada Ester controlando a entrada, fazendo às vezes de secretária. Era engraçado ver Ester naquela função de controlar o livro de assinaturas de presenças. Logo que me viu Ester foi esclamando:

- “Querido, que bom que tu viesses, não poderias faltar...”.

Fui adentrando o recinto do auditório e na mesa dos trabalhos avistei o Delegado Renato Hendges que simplesmente me ignorou propositalmente quando percebeu a minha chegada, fazendo questão de não me cumprimentar, além de uma cara de poucos amigos. Percebi, também, que naqueles instantes o Delegado-Geral Aldo Pinheiro estava na mesa me observando e aproveitei para apenas fazer um aceno discreto. Na medida em que fui subindo a rampa do auditório, pelo lado esquerdo em direção aos fundos, fui cumprimentando os presentes e observei que a grande maioria era de Delegados novos. Não havia mais do que oitenta ou cem Delegados no local. Nos fundos avistei Sandra Andreatta na última fila, sentada ao lado da Delegada Madje Branco (parecia uma pessoa deslocada no recinto...), e mais abaixo a turma de Joinville (Isaias, Gusso, Bini..., aliás, Bini com seu rosto redondo-rubro parecia estar à vontade e lembrei que durante a nossa última campanha à Adepol  a sua energia denotava estar na busca de uma forma de reconhecimento, conquisa de espaço, evidência profissional... Em franções de seguntos lembrei os tempos em que Bini havia me relatado suas viagens para Florianópolis para lecionar na Acadepol e como aquilo parecia mexer com seu interior, como lhe trazia realização, também, a forma singular como falava dos seus alunos, a relação com o poder hierárquico superior, especialmente, quando fez comentários contendo críticas à conduta de Delegado Regional, ainda, no momento que me pediu e articulou para que um membro da nossa chapa fosse vetado sumariamente, além do seu desapontamento porque defendi a permanência dessa pessoa. Depois, o caso de policial preso pela Justiça por representação de “Bine” que poderia não admitir que a Corregedoria, por meio da minha pessoa,  investigasse o caso (supeita de ter sido mandante de um homicídio) e questionasse a sua atuação durante as investigações...

De outra parte Bine demonstrava ser um grande profissional, comprometido e realizado, porém, bem diferente de Gusso e do próprio Isaias, este sempre muito simples, muito embora desse para perceber um forte conteúdo de individualidade, personalidade e caráter bem  delineados e formados, em que  pese ser um iniciante no nosso meio (se comparado aos antigões),  todos em buscas de seus devidos espaços (sem negar que – a exemplo do próprio Bini, fossem trabalhadores e interessados pelo universo policial). 

Já o Delegado Pretto externava auto-suficiência, visão, prudência, impetuosidade, além de reconhecer nele omprometimento, altivez e personalidade forte. Márcio Neves me pareceu uma pessoa discreta e contida, talvez até como forma de autodefesa ou instinto de sobrevivência, mas também, não poderia deixar de reconhecer seus atributos profissionais e pessoais. O Delegado Ighor, DRP de Videira,  dava a impressão que poderia estar mordido por alguma mosca naquele ambiente, bem  ao estilo mineiro, quieto, sem se expor, correr riscos, perspicaz... Mas era Gusso que dispensava comentários, demonstrava sobras de humildade, sensibilidade, interesse, participação... O estimado Delegado Stang, da Acadepol, por se turno acabou me causando uma certa decepção quando pediu a palavra e falou, defendeu a reação da classe dentro dos parâmetros que estavam sendo postos pela Adepol...

Aliás, tudo estava preparado previamente, e a "Assembleia-Geral"  parecia um procedimento mais proforma, sem qualquer serventia no campo prático, na medida em que a direção da Adepol já tinha tudo sob seu controle, sabia previamente onde queria chegar, sem margem para que houvesse qualquer aprofundamento de discussões sobre a questão dos "subsídios".

Sim, em silência inferi do ambiente que dava para entender porque Renato Hendges me ignorou logo na chegada, externando uma aura pesada, um semblante carregado..., bem provavelmente pressentiu que a minha chegada fosse para causar tumulto, comprometer seu projeto, gerar conflitos, conturbar a direção dos trabalhos... Mas para a sua surpresa me mantive em silêncio porque sabia que qualquer reação minha contra o projeto dos "subsídios" só daria condições de me colocar na berlinda e ao mesmo tempo daria chance deles (e seus seguidores) me isolarem ou me retalharem perante um palco cuja maioria dos presentes já estava previamente conectada ao projeto tipo "prato feito!". 

Enquanto isso, visualizei Optemar com uma câmera documentando tudo (mais parecia num filme dos tempos das caravelas, quando os navegadores chegavam e davam presentes para os autócnes). Sandra com certa ironia soltou uma pérola:

- “Ainda bem que tu viesses, que alívio”.

Obviamente que a assembléia começou sob a batuta do Delegado Renato Hendges que passou a tratar de alterações estatutárias. Depois tratou da questão salarial, expondo que as perdas da última década superavam os cento e trinta por cento e que iriai levar isso para o governador. Quando a palavra estava em aberto para propostas sobre ações a serem adotadas para pressionar o governo o Delegado Márcio Neves (Criciúma) propôs o sistema de “subsídios” salariais, a repressão à sonegação fiscal contra donos de postos de combustíveis. O Delegado Maurício Pretto propos a prisão de bicheiros. O Delegado Ademar Rezende propôs que os Delegados estivessem presentes a todas inquirições nas repartições policiais e que passessem a atuar com agenda.  Renato Poeta lembrou que nenhuma luta classista dos Delegados teria sucesso se nossos policiais não fossem incluídos. Gusso observou que o governo precisava se sentir ameaçado e que não adiantava apenas levar duas, três propostas.  Outros Delegados também se manifestaram com relação à questão prisional nas repartições policiais (Isaias, Sena, Sandra, Larizza...). Renato Hendges, auxiliado pelos Delegados Sérgio Maus e Carlos Diego, anotou tudo, inclusive,  sobre a fixação do prazo de trinta dias para que o governo desse uma resposta às reivindicações da classe.

Durante a assembléia a Delegada Sandra me questionou se eu não iria me manifestar  e respondi: “Sandra, é melhor que não porque vou ser incoveniente e só polemizar ao falar sobre autonomia e outros temas que foram objeto da nossa campanha e que foram bastante divulgados na rede. Aliás, fiquei frustrado porque Bini, Isaias e outros que estavam na nossa chapa, quando fizeram uso da palavra, sequer teceram algum comentário sobre nossa luta na campanha para “cristalizar” a independência institucional e eu me senti um verdadeiro ser fora do espaço e de tempo. Gusso sentou do meu lado e ao pé do ouvido me perguntou:

- “E daí, qual é a sua opinião, o que nós temos que fazer?”

Foi uma surpresa Gusso ter me questionado daquela maneira e eu respondi que nós tínhamos que levar em conta algumas questões, como o fator “Oficiais da PM” e “policiais militares”, Agentes Prisionais, Peritos, sem contar que no momento o governo estava enfrentando a greve dos professores. Também, comentei que o caminho era a incorporação das horas extras e adicionais noturnos que já integravam nosso patrimônio salarial.

Gusso voltou para o seu lugar sem nada comentar até em razão das circunstâncias. Pude observar o lado bom da assembléia que era a participação dos Delegados novos abraçando a instituição e sentindo o peso da responsabilidade, muito embora era muito visível a impetuosidade, a inexperiência que campeava esse universo. Lembrei das palavras quentes de Ademar Rezende em seu discurso:

- “Eu já passei por vários governos, estou na Polícia Civil desde 1973, eu já participei de muitas assembléias e é sempre assim, os assuntos que são tratados, as decisões são sempre assim...”.

Já na saída o Delegado Procópio veio me cumprimentar, o mesmo ocorrendo com Adalberto Ramos e mais alguns outros. No final, deixei o recinto acompanhado de Sandra, como tinha prometido. No caminho encontrei as Delegadas Eliane e Larizza com quem conversei rapidamente. Larizza fez um desabafo:

- “Que assembléia pesada, sai com enxaqueca, cruzes”.

Na saída da OAB a conclusão foi simples, ou seja, que aquela "Assembleia-Geral" só serviu para a reparação para o caminho dos "subsídios", nada mais.