Mutilar o corpo! Quem Decide? Ou, em que Situação?

Por Armando de Lima Pereira | 15/08/2013 | Sociedade

Mutilar o corpo! Quem Decide?  Ou, em que Situação?

 Furar a orelha de filho recém-nascido! Um gesto simples; ou um ato, discutível, de mutilação gratuita e sem propósito dos pais?

 Refere às ‘intervenções’ ou procedimentos ESTÉTICOS, POR VAIDADE, sem motivos de urgência ou de saúde no corpo de inocentes! Furo na orelha’; tatuagens; (...) em recém-nascidos.

 Há dias surgiu uma discussão na mídia, que gerou enquete: ‘é correto pais furarem orelha de seus filhos? – por enquanto, de filha, pois a julgar pelo andar da carruagem... - recém-nascidos’! A pergunta naquele site não está literal aqui. Surgiu após que uma supermodelo brasileira ter “furado a orelha de sua filha com ‘apenas semanas”, nos Estados Unidos.

 Até o dia em que votei, vi um escore um tanto desanimador – fazendo até recordar certo embate esportivo recente entre um clube brasileiro; e um espanhol! Apenas 19% disseram ser ‘errado’; contra 77% que disseram ser ‘certo’. Mas quem está realmente com a razão?! Os ‘ganhadores’; ou os ‘perdedores’? É evidente, para quem viu a enquete, que em parte o motivo daquele massacre (escore baixíssimo do ‘não correto’) se deve a tendenciosidade da enquete. O ‘não correto’ era um não ‘seco’ ou simplesmente ‘não’. Mas o ‘sim (é correto’ pais furarem orelha de seus nascituros)’ tinha uma linda justificativa! Mas... assim... Pensei, não seria o caso de ‘justiça’ abrir uma arena justa para os valentes ‘heroicos’ Combatentes? Por que o direito de opinião só favorece a tendenciosidade de certos sites, nesse Brasil – que eu gostaria de chamar, de Fato, de ‘Brasil de meu Deus’!?

 Passaram-se dias (3) e eu, ainda preocupado com os “vergonhosamente derrotados (do ‘não correto’)”, abri o site pensando em ‘reforçar meu voto’, mas... piorou! Pois além da vitória esmagadora do ‘sim é correto mães mandarem furar orelha de seus filhos nascituros’, ainda, como numa enorme ironia, ‘disponibilizaram no lugar da enquete um ‘espaço aberto’ para as mães ‘furonas’, ou melhor, que também furaram orelha de seus indefesos rebentos, darem seus depoimentos! E, o que eu vi ... ainda estou até agora ‘chocado’! Pelos depoimentos, cada um mais sensacional que outro, cada mãe queria fazer a mais linda ‘apologia’ por ter ‘feito o furo’ na orelha de seu recém-nascido!

 Foi então que me senti na obrigação de rascunhar alguma coisa em referência. Mas isso há uma semana! Contratempos bem inusitados me atrasaram!

 Mas, aqui está, enfim. Sei que há algo a considerar, de um ponto de vista merecidamente crítico, por atrás de todo esse ‘sensacionalismo’ de certas mães ‘louvando’ seu ato ‘materno! Mas, onde buscar Referencial para esse assunto?! Lembrei-me de um Livro Antigo. E pensei: vale para comportamentos atuais? Lembrei que é esse Mesmo Livro que afirma: O QUE FOI, ISSO É O QUE HÁ DE SER; E O QUE SE FEZ, ISSO SE FARÁ; DE MODO QUE NADA HÁ DE NOVO DEBAIXO DO SOL. Eclesiastes 1! Então, concluí: SE É UMA PRÁTICA ‘HUMANA’ – e a Espécie Humana persiste ‘debaixo do Sol’ - por que não Buscar orientação sobre ‘O QUE SIGNIFICA’ tal prática! Então, decidi fazer um pequeno tour nessa Fonte Antiga, as Escrituras, trazendo considerações que vejo serem pertinentes à questão. Obviamente, se poderia mencionar muitas outras Fontes. Mas, para este propósito – considerando a Longitude (Ocidental) em que habitam populações de milhares de linhagens de orientação religiosa de cunho judaico-cristã, achei que, de repente... quem sabe poderia ser útil, neste Tempo Presente!  

 A prática de 'furar orelha' ou da 'orelha furada' existiu desde povos da Antiguidade!

Mas, ao que indica, o que a grande maioria dos que furam a orelha, tanto por ‘escolha livre’, na idade adulta; e também os pais que ‘furam’ de pessoas inocentes sem exercício da razão parece esquecer ou desconhecer é que isso está eivado de significados que não podem ser esquecidos ou ignorados.

 Entre os hebreus antigos isso foi praticado. Mas segundo os Registros no Livro (Deuteronômio), isso requeria alguns critérios bem definidos. Só para aqueles que às Escrituras dão Crédito, o Livro Registra:

 "MAS, SE O SEU ESCRAVO DISSER A VOCÊ QUE NÃO QUER DEIXÁ-LO, PORQUE AMA VOCÊ E SUA FAMÍLIA E NÃO TEM FALTA DE NADA. ENTÃO APANHE UM FURADOR E FURE A ORELHA DELE CONTRA A PORTA, E ELE SE TORNARÁ SEU ESCRAVO PARA O RESTO DA VIDA. FAÇA O MESMO COM A SUA ESCRAVA (Deuteronômio Capítulo 15, Versículos 16 e 17)"!

 NOTA: ressalto que a ênfase em negrito (só para aqueles...) têm por objetivo evitar temeridade gratuita! Ou seja, seria deselegante e até insensato resposta ou comentário que nada têm com Doutrinas judaicas ou judaico-cristãs!

 A prática do 'furo na orelha' segue a tendência de populações atuais do Ocidente em assimilar costumes de povos antigos de modo ‘simples’! Aqui no Brasil, p/ex., importam-se práticas de rituais que possuem fortes significados entre povos antigos, como se fossem simples costumes alegóricos! Não deveria ser assim. Pois existem atividades recreativas que possuem conotações puramente folclóricas ou alegóricas. É o caso do carnaval no Brasil (só o carnaval, mesmo); e mais recentemente o festival de Parintins-AM. Mas há os casos que não são simples alegorias! Mas há uma ‘tendência’ de se importar culturas no escuro, sem o devido conhecimento da simbologia que elas segregam. Um exemplo foi o que ocorreu com o Halloween que invadiu recentemente a América do Sul, via América do Norte! O Halloween, como todos sabem é uma cerimônia religiosa pagã de origem Celta, que fere frontalmente os Princípios Cristãos. Já o cerimonial de ‘furar orelha’ não se pode precisar ser ou não uma prática pagã; nem que é ou seria um costume anti-judaico-cristã. Como veem pela Referencia Bíblica (Dt 15:17), foi recomendado por Moisés em caso do servo ‘recusar-se a ser um homem livre’. A cerimônia era precedida de um contexto social que envolvia relacionamento (relação de trabalho no modelo antiquíssimo de Servidão) profundo entre o servo e seu senhor. A iniciativa era do servo adulto, após o alforriamento pelo seu senhor e, portanto consciente da decisão que tomara! Na condição de livre rumo para seguir seu caminho, o servo tomava essa atitude individual de extremo compromisso de servidão. Numa descomunal atitude de lealdade extrema – não evocando aqui a questão “se esse servo teria ou não condições de ser ‘livre” – o alforriado prestava declaração recusando-se à nova condição de homem livre’, preferindo continuar servindo seu senhor por toda sua vida.

 O texto, nas Traduções em Português como a ARC (Almeida Revista e Corrigida) é bem claro: MAS SE ELE TE DISSER: NÃO SAIREI DE JUNTO DE TI; PORQUANTO TE AMA A TI E A TUA CASA,... ENTÃO TOMARÁS UMA SOVELA, E LHE FURARÁS A ORELHA..., E ELE SERÁ TEU SERVO PARA SEMPRE; E TAMBÉM ASSIM FARÁS À TUA SERVA (Dt 15:16, 17)!

 Nota-se pela ênfase da Literatura – até um tanto laudatória, seguindo a sina de todo documento formal de Contrato Relacional – enfatiza critérios importantes, os quais, não todos, destacamos para fins deste propósito, por exs:

1 - O servo, ou a serva era um adulto, consciente das consequências de sua decisão.

2 - A Lei valia para ambos os sexos (para o Servo; e para a Serva);

3 – A decisão (ser servo eternamente) não se estendia a sua família. A Fonte de Pesquisa (As Escrituras) silencia acerca dos filhos; dos inocentes; e dos nascituros possíveis que houve na casa do servo.

  (Vale observar, a prática no meio do povo hebreu não refere a pendentes! A questão aqui é ‘furar ou não furar’ orelha! A questão dos ‘pendentes’ possui outro significado, que poderá ser tratado oportunamente)! 

 Então, numa Sociedade com Identidade Cultural tendente a Princípios Ético-Morais, é normal que o ato de ‘furar orelha de nascituro’ por decisão dos pais levante realmente questões de Ordem Moral!

 Poucas mamães que se ufanam através de frases na internet: ‘eu já saí do hospital com a minha orelha furada; e minha filhinha, também’, esquecem que isso, no fim das contas, acaba sendo uma punhalada pelas costas na maior reivindicação das mulheres! E isso pelas próprias mulheres (mães desses bebês). Pois intervindo no corpo do seu bebê através da sutil mutilação da orelha do recém-nascido elas negam o próprio princípio ético-moral que pedem da Sociedade: ‘direito delas, e só delas próprias de decidir sobre a intervenção nos seus próprios corpos’! Perfeito. A Pergunta é: a criança é ou não é também um ser que possui os mesmos direitos anti-mutilação dessas mães?! Que Respondam a si mesmas as mamães que se gabam de terem abusado da incapacidade de defesa de seus bebês, furando as orelhas dos pobres rebentos! Que coisa! Quando nós, por dever, começamos a pensar sobre as questões morais que uma atitude simples – eu diria uma ‘atitude eufórico-emotiva; não de amor! – dessas mães, entendemos por que certos direitos que, por Evocação ao Próprio Direito Natural, estão à mão dos que os reivindicam, parecem ‘escapulir’ entre os dedos! No caso, as mulheres batem os pés e dizem, razoavelmente: “somos pessoas de direito, e, portanto queremos o direito sobre nossos próprios corpos”! Mas, quando ‘ganham’ seus bebês, têm mães que esquecem de que a criança também é um ser com direito sobre seus próprios corpos! E esquecem completamente de reconhecer o direito desse ser! (É verdade que há aquelas que ‘nem sequer o deixa nascer’! Mas, isso não vem ao caso agora). O que assusta é que, no caso de ‘furar a orelha dos recém–nascidos, se trata de um ser que acabou de sair de suas próprias entranhas’! Que ser mais contraditório que o ser humano?!

 Como podemos perceber por este breve ensaio, um simples ato de amor materno - mas, que ato, de amor?!  - a atitude dessas mamães gera desdobramentos que – até estranho – elas parecem ignorar!

 Não podemos também deixar de considerar a importância do Nível Cultural de uma Sociedade acerca das Culturas de Povos. Ou, como essa Sociedade Decodifica a Mensagem Histórico-Cultural de Povos cujos Costumes Embasaram as Civilizações Ocidentais – da Quais, diga-se, atualmente ainda se tem algum resquício!

 Se uma Sociedade pratica um Costume de Grande Significado para Outro Povo, como um simples ritual ‘alegórico’, isso parece ser irrelevante. Mas se olharmos essa prática no Contexto do Universo de Significados, a prática sem propósito desse Costume não deve ser simplesmente uma atitude nem para se aprovar – e muito menos para se louvar - na Rede!

 Outro fato interessante é a dificuldade histórica do feminino - eu disse ‘feminino; não feminismo’ - com as Escrituras e, por consequência com a Cultura Judaico-Cristã!

 Por exemplo, no Livro do Gênesis As Escrituras Registam que Zípora, mulher de Moisés, chamou-o de ‘esposo sanguinário’ por causa da Circuncisão (Êxodo 4:25). Mas, aquele ato, como tal o ‘furo na orelha’, cercou-se de uma circunstância emergencial. Não há detalhes qual era a situação específica, mas o texto diz que “... O SENHOR (Deus) o encontrou, e QUIS MATÁ-LO (Êxodo 4:24)"! Referindo a ‘Moisés’. Ou seja, foi numa situação de ‘extremo aperto, ou ‘risco de morte’ do esposo dela! (Ao que indica o servo Moisés estaria renitente a voltar para o Egito, e Libertar o Povo de Deus!). Quer dizer, enfatizando, que a atitude da mãe Zípora (circuncidar seu filho) – um procedimento cirúrgico sem fins profiláticos explicáveis - foi uma mutilação ou uma invasão no corpo de sua criança. As Escrituras registram; mas também deixam bem claro que foi mediante circunstância extrema (risco de morte do seu marido)! Ou seja: ela não tinha opção – sendo que naquele deserto ela ficaria sozinha com sua criança, sem chance de sobrevivência! O Texto diz: ENTÃO ZÍPORA TOMOU UMA FACA DE PEDRA, CIRCUNCIDOU O PREPÚCIO DE SEU FILHO E, LANÇANDO-O AOS PÉS DE MOISÉS, DISSE: COM EFEITO, ÉS PARA MIM UM ESPOSO SANGUINÁRIO (Êx 4:25). Ela o fez sob veementes protestos! Disse “EIS-ME UM ESPOSO SANGUINÁRIO"! Ou seja: ELA PRATICOU AQUELE ATO, MEDIANTE VEEMENTES PROTESTOS! Era a única coisa que poderia fazer em tais circunstâncias.   

 Por isso a partir, também desse ponto de vista É ESTRANHO QUE uma intervenção no corpo da criança FOI - mesmo considerando as circunstâncias - considerada reprovável (SANGUINÁRIO), hoje seja um ato louvado por uma mãe!

 Quando olhado bem de perto é tão assustador como olhar um anófele através de uma lente de aumento de zoom! Afinal, o ser humano evoluiu?!

 Se a decisão dessa Sociedade for persistir na irrelevância do significado dos Símbolos, nenhuma Escritura, seja Antiga, seja Contemporânea ou mesmo Atual terá algum valor! Daí, este escrito dispensar comentário em discórdia, já que tem base nos Registros da História que Esclarece que ‘furo na orelha’ é uma permissão voluntária de pessoas no uso da Razão!  Para mim continua sendo assustador – como diz certa pessoa ‘que horror! – que em tempos que falam tanto em ‘evolução humana’, persista, e isso em tom apologético, um ato que denuncia o antigo pensamento de um tempo em que a ‘criança não tinha nenhum direito’! E só por que ‘não podia expressar sua opinião’!

 Reforço que este escrito refere, com a crítica merecida, às intervenções no corpo de recém-nascidos, sem finalidade prescrita pela Medicina! Pois, segundo os Registros Culturais Antigos sobre essa prática, ela não era aplicada em inocentes. A Escritura silencia sobre filhos; crianças;... Ou seja, a questão de ‘furar’ ou ‘não furar’ orelha é uma decisão consciente ou ‘própria à idade da Razão’! E, portanto, inerente a pessoas na idade da consciência; não a inocentes! E muito menos a nascituros.

 Então, se não há o exercício da razão no recém-nascido, o furo na orelha dessas indefesas crianças é mais uma prática espúria, velada, no Brasil! O que assusta é que essa intervenção seja feita – e ‘louvada’ - por uma classe de pessoas que reivindica, inclusive por Protestos nas ruas, o direito de que só o próprio indivíduo decide sobre seu corpo!

 Depreende-se, assim que: por força do próprio direito da pessoa (natural), somente alguém no uso da razão tem poder para autorizar no seu próprio corpo intervenções cirúrgicas puramente estéticas, como as que são desnecessárias ou não motivadas por força maior, de saúde ou caso de vida ou de morte! Logo, INOCENTES DEVEM SER DEIXADOS INTACTOS. E, ENTÃO, SE UM DIA NA IDADE DA RAZÃO ELES DECIDIREM SER ESCRAVOS ETERNAMENTE, QUE ELES PRÓRPIOS AUTORIZEM FURAR SUAS ORELHAS! TAL COMO ERA PRATICADO, CORRETAMENTE, NAS CULTURAS ONDE ISSO SURGIU! Portanto, às mães que furam orelhas de seus recém-nascidos: respeitem o direito dos seus bebês (sobre seus próprios corpos). Não façam incisões, ainda que pareçam ‘graciosas’ neles! Pois, seja pela motivação que seja, inclusive as de cunho sentimental, não esconde que isso é mutilação (intervenção desautorizada, sem propósito). Isso, para mim é um ato criminoso, já que ‘furar a orelha’ não é um caso de vida ou de morte do bebê! Caso em que só e somente se torna coerente a intervenção! O Direito está aí para emitir seu Veredicto!

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