Mussolini e a ascensão do fascismo
Por Cadorno Teles | 26/08/2009 | ResumosLembro-me que quando estudei História Contemporânea na escola, sempre tive a noção de que Benito Mussolini chegou ao poder na Itália no final do ano de 1922, marchando com um exército de homens enquanto o governo democrático esfarelava ante aquela coluna.
Mas de acordo com o professor Donald
Sassoon, não foi assim. Grandes maiorias desses homens foram para Roma em comboios
especiais, com o apoio do próprio governo. Se fosse um ataque a capital, uma
marcha revolucionária teria sido facilmente derrotada pelas tropas do governo.
Aliás muitos teriam morrido de fome se não tivessem sido alimentados por
soldados do exército e pela polícia que seguiam para manter a ordem. Nem Benito
Mussolini partilhou das dificuldades de seus seguidores. Chegou em um trem
especial, vindo de Milão e seguiu para o palácio do rei Victor Emmanuel II de limusine,
ao encontrá-lo promete fazer uma coligação polivalente e declara ao rei ser um "servo
fiel" .
Em seu livro Mussolini e a ascensão do fascismo (Mussolini and the rise of fascism, tradução de Clóvis Marques, Agir, 200 páginas, R$ 34,90) busca entender o surgimento e a ascensão do fascismo na Itália e a entrada deste país na Segunda Guerra Mundial. E faz com maestria, Sassoon, é um dos maiores nomes da historiografia atual, em particular caso da Europa. No estudo que trabalha nesse livro, mostra as circunstancias históricas que levou ao poder o partido fascista e seu cabeça, Mussolini, mas a questão central está no contexto político, social e ideológico do inicio do século XX, etapa presidida pela figura de Giovanni Giolitti.
A busca de antecedentes que o autor aborda, o obrigou a remontar a origem do sistema, que leva ao período da tentativa de unidade italiana, que ocasionou a monarquia parlamentar em 1871. Porém o que foi crucial foi o período após a Primeira Guerra Mundial que destruiu o sistema liberal e os novos partidos de massa, por uma série de causas bem detalhadas na obra, forma incapazes de oferecer uma alternativa dentro daqueles problemas. Foi assim que se possibilitou a ascensão dos fascistas.
Apesar de poucas páginas para um estudo dessa grandeza, o livro possui uma linguagem ampla baseada em fatos salientes. Descreve o pós-guerra com uma visão bem particular: uma economia em dificuldade, capitalismo nervoso, grande emigração, os ataques da Igreja Católica Romana, um pavor da revolução socialista, um sistema político fragmentado e uma população inquieta com os impactos da Grande Guerra de 1914-1918.
A figura de Mussolini também é abordada, e o autor mostra que nos anos anteriores de sua chegada ao poder, ele e seus compartidários enfrentaram e mataram adversários, saquearam jornais de oposição, queimaram edifícios de instituições que não gostavam e tumultuaram a Itália em vários momentos. O fraco governo italiano de então não foi capaz de detê-los, um fato que confirmou a crença que podiam fazer o que faziam e que a violência funcionaria de fato.
O livro é uma síntese
breve, mas completa de uma fase importantíssima da história italiana, bem
parecida com outros momentos de países, como na Espanha e no Brasil, que
levaram às ditaduras respectivas de Primo de Rivera e Getúlio Vargas. Além
desse valor intrínseco, constitui uma ótima referencia comparativa para o
estudo de regimes autoritários daquele turbulento inicio do século XX.
O AUTOR
Nasceu no Cairo e
estudou na Itália, França, Inglaterra e
nos Estados Unidos. Foi pesquisador
em Nova York e Paris e atualmente é
professor de História Comparada da
Europa, na Universidade de Londres.
Publicou vários livros, entre eles, One
Hundred Years of Socialism, vencedor
do Deutscher Prize de 1996, Mona
Lisa e The Culture of the Europeans.
Suas obras foram traduzidas para
14 idiomas.