MUSICOTERAPIA COMO MODALIDADE TERAPÊUTICA COMPLEMENTAR NO TRATAMENTO DE PACIENTES PSIQUIÁTRICOS DO CAPS II, NO MUNICÍPIO DE BARREIRAS-BA.
Por Vanni de Jesus Silva Campos | 14/04/2009 | SaúdeMUSICOTERAPIA COMO MODALIDADE TERAPÊUTICA COMPLEMENTAR NO TRATAMENTO DE PACIENTES PSIQUIÁTRICOS DO CAPS II, NO MUNICÍPIO DE BARREIRAS-BA.
Dayane Oliveira[1]
Elton Sodré1
Hélvia Haynnoan1
Valdenice Santos1
Vanessa Castro1
Vanni de Jesus Silva1
Vanessa Picão2
RESUMO: A musicoterapia é uma forma de tratamento que utiliza a música, ou seus elementos, para ajudar no tratamento de problemas, tanto de ordem física quanto de ordem emocional ou mental. O uso da música como complementação à assistência de enfermagem em saúde mental, facilita a relação com o cliente proporcionando o início da interação com o mesmo.A música promove sensação de bem-estar, atuando no paciente como um ato eficiente e protetor, fornecendo uma sensação de paz, e aceitação. O presente artigo relata sobre uma intervenção realizada no CAPS II, no município de Barreiras – BA, com objetivo de demonstrar a importância da musicoterapia como complemento no tratamento dos pacientes psiquiátricos atendidos na referida unidade, sendo utilizada como instrumento promotor de mudanças positivas físicas, mentais, sociais e cognitivas para este grupo.
Palavras – chave: música saúde mental, assistência, tratamento, musicoterapia.
SUMMARY: The musictherapy is a treatment form that uses music, or its elements, to help in the treatment of problems, as much of physical order how much of emotional or mental order. The use of music as complementation to the assistance of nursing in mental health, facilitates to the relation with the customer providing the beginning of the interaction with the same.Music promotes well-being sensation, acting in the patient as an efficient and protective act, supplying a sensation of peace, and acceptance. The present article tells on an intervention carried through in CAPS II, in the city of Barriers - BA, with objective to demonstrate the importance of the musicoterapia as complement in the treatment of the taken care of psychiatric patients in the related unit, being used as promotional instrument of physical, mental, social and cognitivas changes positive for this group.
Words – Key: music, mental health, assistance, treatment, musictherapy.
Introdução
Saúde mental é um termo usado para descrever um nível de qualidade de vida emocional ou a ausência de uma doença mental. Na perspectiva da psicologia positiva, a saúde mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. A Organização Mundial de Saúde afirma que não existe definição "oficial" de saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos, e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a "saúde mental" é definida. Alguns itens são necessários para que se possa identificar quais são os reais critérios de saúde mental, neles estão contidos: atitudes positivas em relação a si próprio, crescimento, desenvolvimento e auto-realização, integração e resposta emocional, autonomia e autodeterminação, percepção apurada da realidade, domínio ambiental e competência social 5.
A verdadeira preocupação com a atenção às doenças mentais no Brasil, teve inicio no final dos anos 70, com o movimento reformista que suscitou pela crise da Divisão Nacional de Saúde Mental, órgão do Ministério da Saúde responsável pela formulação das políticas de saúde mental. As precárias condições de trabalho, inadequação de quadros de recursos humanos, queixas salariais e o modelo médico assistencial predominante, como conseqüência teve início à greve dos trabalhadores no ano de 1978, originando a organização do MTSM-Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, na cidade do Rio de Janeiro. Este movimento elaborou um pensamento crítico com relação à saúde mental, propondo a inversão do modelo clássico e hegemônico de tratamento através da desinstitucionalização 6.
Em julho de 1987, ocorreu I Conferencia Nacional de Saúde Mental no Rio de Janeiro, com a proposta de ampliar o conceito de saúde mental, incluindo em seus determinantes as condições gerais de vida, a participação popular na saúde mental e considerou também as questões dos trabalhadores da área sugerindo que estes revisassem a efetivação de seu papel dentro desse novo modelo de atenção a saúde mental 6.
O II Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental ocorrido em dezembro de 1987 chamava a atenção para uma sociedade sem manicômios levando em consideração três pontos principais. Sendo que o primeiro discutia a visão da loucura além do seu aspecto unicamente assistencial.Conseguinte destacava-se outro ponto referente à organização dos profissionais de saúde mental com o Estado, chamando a atenção do Estado para que fossem visto como trabalhador da saúde pública, por fim, o terceiro tópico buscava a reflexão sobre a prática profissional concreta, no cotidiano, para que houvesse efetivamente a ruptura com o isolamento social, atenta também para a inclusão da sociedade nas discussões relacionadas à saúde mental. Neste mesmo ano surgiu um novo projeto de Lei (180- maio/1987), proibindo novas internações em hospitais psiquiátricos e que a rede psiquiátrica seria extinta ate cinco anos. Finalmente no dia 06 de abril de 2001, foi sancionada a lei 10.216, conhecida também como Lei Paulo Delgado que dispõe sobre Lei psiquiátrica no Brasil 6.
Em 1986 surge o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), um dispositivo de atenção à saúde mental, com valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira. É função dos CAPS prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos; promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais através de ações intersetoriais. É função, portanto, e por excelência, dos CAPS organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios 3.
A musicoterapia usa sons, harmonias, instrumentos musicais e ritmos como forma de tratamento complementar para vários problemas psicológicos, ajudando a pessoa ou grupo a combaterem várias patologias que envolvem o desenvolvimento, a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, expressão e a organização física, mental ou social. A musicoterapia também é recomendada para desenvolver potenciais ou recuperar funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor integração pessoal e social fazendo com que, conseqüentemente, essa pessoa tenha uma melhor qualidade de vida. Essa técnica de tratamento já vem sendo utilizada a milhares de anos, porém com o aparecimento de remédios químicos, que tem um resultado nem sempre melhor porem mais rápido, a musicoterapia foi deixada de lado pela sociedade moderna e só voltou a ser levada a sério como fator terapêutico no final dos anos 70, passando a ser utilizada como terapia alternativa 9.
Terapeuticamente, a música faz com que o indivíduo expresse suas ansiedades, tensões, desejos, alegrias. Entra em contato direto com as emoções e sentimentos internalizados que, muitas vezes, estão bloqueados pela inibição, pelo estresse, pela falta de estímulo. A música, segundo Sônia, possibilita o despertar e o desenvolvimento do potencial criativo do indivíduo, impulsionando transformações que levam à modificação de padrões cristalizados, resgatando o fluxo vital e a saúde. A utilização da música a partir de uma compreensão musicoterápica tem também um trabalho preventivo, pois visa o "esvaziamento" e canalização das energias de tensão e ansiedade, impedindo que estas se acumulem e tenham como conseqüência, bloqueios psicossomáticos que geram o estresse e a depressão 8.
A música possui fatores culturais que têm a capacidade de proporcionar ao cliente a religação com os valores culturais de seu meio, reconstruindo a sua história, sendo assim, a mesma pode ser utilizada em pacientes idosos com transtornos mentais, principalmente a demência. Em função disso, a música representa uma alternativa para a terapêutica de pacientes com problemas mentais, pois apresenta diversas características como: reconstrução de identidades, integração de pessoas, redução de ansiedade, e construção de auto-estima 8.
Diante da importância dos CAPS no acompanhamento dos portadores de transtornos mentais e da importante contribuição que a música pode trazer para a saúde das pessoas, esta intervenção visou aplicar a musicoterapia como complemento no tratamento dos usuários do CAPS II, em Barreiras-Ba, por ser uma modalidade de terapia, que segundo estudos realizados, é capaz de promover mudanças positivas físicas, mentais, sociais e cognitivas em terapia individual ou em grupo.
Material e Método
Realizou-se intervenção com o tema "musicoterapia como modalidade terapêutica complementar no tratamento de pacientes psiquiátricos do Caps II, no município de Barreiras-Ba", na referida unidade, com a presença dos usuários, profissionais do CAPS e todos os membros do grupo, assim como da professora supervisora. As atividades foram iniciadas com dinâmicas em grupo, para acolhimento e interação dos usuários, logo a seguir foi feita explanação sobre o conceito de musicoterapia abordando suas principais aplicações terapêuticas.
No segundo momento, houve apresentação de um dueto musical produzido por usuários que se prontificaram a demonstrar seu potencial artístico.Posteriormente, um músico convidado pelo grupo, tocou e cantou algumas músicas com o acompanhamento das pessoas presentes. Finalizando as atividades da proposta de intervenção, os usuários tiveram acesso ao karaokê como um momento de descontração e interação entre os mesmos, onde puderam participar ativamente da intervenção, acompanhado de um coffe-break. Ao término foram distribuídas lembranças entre os usuários e profissionais do CAPS.
Resultados e Discussão
Mesmo com um número reduzido de usuários, a intervenção ocorreu de forma proveitosa, havendo boa receptividade dos usuários e profissionais. Identificamos um maior interesse dos usuários na parte recreativa da intervenção em comparação à parte teórica. Como pontos positivos, observamos a participação ativa dos usuários, interação social entre os mesmos, assim como manifestação de satisfação pelo trabalho desenvolvido. Alguns fatores como a demora para iniciar a intervenção devido ao atraso do músico convidado e a crise de um usuário com manifestação de raiva e inquietação, foram os principais pontos negativospercebidos pelo grupo. Foi evidenciado que a diminuição da percepção de alguns usuários, pela própria patologia ou por efeito medicamentoso, contribuíram para que nesses indivíduos, o objetivo não fosse alcançado.
Conclusão
Concluímos que o enfermeiro pode utilizar a música com diversos propósitos e em diferentes momentos da terapêutica, antes da interação com o mesmo, para relaxamento e no resgate das lembranças de acontecimentos passados na vida do cliente. Cabe ao enfermeiro verificar em que momento ele pode utilizar essa prática e também avaliar os efeitos da música sobre o paciente, uma vez que cada indivíduo tem preferência musical própria, reagindo de modo diferente aos estímulos sonoros.
É válido ressaltar que o uso da musicoterapia como tratamento específico fica a cargo do profissional musicoterapeuta, desse modo o enfermeiro estará utilizando a música de forma complementar na assistência.
Referências bibliográficas
1- ANDRADE, Rubem Laine de Paula; PEDRÃO, Luiz Jorge. Algumas considerações sobre a utilização de modalidades terapêuticas não tradicionais pelo enfermeiro na assistência de enfermagem psiquiátrica. Rev. Latino-Am. Enfermagem vol.13 no.5 Ribeirão Preto Sep./Oct. 2005. p.737-742.
2- BARSA CONSULTORIA EDITORIAL LTDA. Temas Essenciais Para a Vida – SAÚDE. 1ª ed. São Paulo: Editora, 2001.
3- BRASIL. SAÚDE MENTAL NO SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial. Brasília – DF 2004.
4- TENÓRIO,Fernando. A reforma psiquiátrica brasileira, da década de 1980 aos dias atuais: história e conceitos. Hist. cienc. saude-Manguinhos v.9 n.1 Rio de Janeiro jan./abr. 2002.
5- Disponível em: http://www.psiquiatriageral.com.br/enfermagem/modelo_pratica. html capturado em 20/03/08 às 10:00h.
6- Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/educacao/principal/principal. asp capturado em 20/03/08 às 10:30 h.
7- Disponível em: http://boasaude.uol.com.br/lib/showDoc.cfm?LibDoclD=5097& ReturnCatlD=1780 capturado em 20/04/2008 às 14:00h.
8- Disponível em: http://botabaixo.nireblog.com/post/2007/10/25/a-musica-como-recurso-terapeutico. Texto de Ana Elizabeth Diniz. Capturado em 20/03/08 às 10:30h.
9- Disponível em: http://www.duplipensar.net/artigos/2007s1/musicoterapia.html texto de Adriana Zimbarg. Capturado em 20/03/08 as 11:15h.
1-Acadêmicos do 7º Semestre do Curso de Enfermagem, pela Faculdade São Francisco de Barreiras – FASB.
2-Enfermeira, professora da disciplina Enfermagem em Saúde Mental, pela Faculdade São Francisco de Barreiras – FASB.