MÚSICA E GEOGRAFIA: POSSIBILIDADES PARA O TRABALHO EM SALA DE AULA

Por Guilherme Antonio Bonaldi | 02/09/2019 | Educação

RESUMO

O presente artigo científico visa analisar a possibilidade de inserir-se a música nas aulas da disciplina de Geografia como uma metodologia de ensino. Dessa forma, busca-se uma reflexão acerca de sua eficácia e contribuições para o aprendizado dos alunos, bem como para o desempenho do professor. Para realizar esse intento, a pesquisa lançou mão de fontes teóricas e conceituais, as quais encontram-se disponibilizadas em endereços eletrônicos e bibliotecas físicas. Dentre os referenciais desta pesquisa, foram empregados autores como Marcos Antonio Correia (2009) e Lana de Souza Cavalcanti (2005). Doravante essa coleta de informações fundamentada nos autores supracitados, logrou-se os subsídios necessários e pertinentes para a construção deste artigo e, como resultado, verifica-se o êxito em divulgar uma reflexão acerca da música como um positivo recurso de ensino nas aulas de Geografia.

 

Palavras-chave: Geografia. Música. Recurso. Metodologia de Ensino.

 

Introdução

 Na contemporaneidade marcada pelo avanço da tecnologia, os professores buscam inúmeras metodologias para aprimorar suas aulas e despertar o interesse dos alunos para o aprendizado. Nesse contexto, o emprego de músicas como um recurso de ensino tem-se difundido dentro das escolas. É ponderando essa conjuntura que a presente pesquisa emana. Intitulado de “Música e Geografia: Possibilidades para o Trabalho em Sala de Aula”, esse artigo propende a uma análise sobre a possibilidade, a eficácia e a relevância de se empregar a música como uma metodologia de ensino nas escolas, facilitando assim, o aprendizado dos alunos nas aulas de Geografia.

Dessa forma, surgem os seguintes questionamentos: Como inserir a música nas aulas? Como conciliar o conteúdo e a música? Quais músicas são viáveis para o ensino da Geografia? Os alunos demonstram mais interesse nas aulas com músicas? Qual a relevância da música quando comparada com as aulas expositivas? Essas problemáticas norteiam o desenvolvimento de nossa pesquisa.

 

De acordo com a doutora em Comunicação, Teca Alencar de Brito:

 

Perceber gestos e movimentos sob a forma de vibrações sonoras é parte de nossa integração com o mundo em que vivemos: ouvimos o barulho do mar, o vento soprando, as folhas balançando no coqueiro... Ouvimos o bater de martelos, o ruído de máquinas, o motor de carros ou motos... o canto dos pássaros, o miado dos gatos o toque do telefone ou o despertador... ouvimos vozes e falas ,poesia e música ... Os sons que nos cercam são expressões da vida, da energia, do universo em movimento e indicam situações, ambientes, paisagens sonoras: a natureza, os animais os seres humanos e suas maquinas traduzem, também sonoramente, sua presença seu ″ser e estar ″, integrando ao todo orgânico e vivo deste planeta (BRITO, 2003, p. 17).

 

            Mediante essas considerações, corrobora-se que a música está presente na vida de todo o ser humano e em todas as culturas. Tendo em vista essa relação intrínseca entre a música e o indivíduo é que se justifica essa pesquisa. Ao pensarmos na música que ouvimos no cotidiano como algo que nos acalma, anima, proporciona disposição, reflexão e dentre outros, elucubramos sobre sua aplicabilidade nas salas de aula.

Dessa forma, explanamos nesse artigo sobre os benefícios que a música acarreta nas aulas de geografia, tanto para os estudantes, quanto para os professores e, a importância em inserirem-se novas metodologias na contemporaneidade, sobretudo em disciplinas ponderadas como “conteudistas” e baseadas na “memorização”.

Para alcançarmos nossos objetivos supracitados, empregamos neste artigo, o método dedutivo, bem como a análise bibliográfica por intermédio de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, utilizando-se amplamente de um referencial teórico-conceitual. Neste seguimento, utilizamos de autores que debatem acerca da importância da música como um recurso de ensino, como Vera Lúcia Pessagno Bréscia (2003), Circe Maria Fernandes Bittencourt (2004) e Caroline Cao Ponso (2008). Ademais, empregamos profissionais que abordam sobre a música nas aulas da disciplina de geografia, como Marcos Antonio Correia (2009) e Lana de Souza Cavalcanti (2005). Salienta-se que estas fontes documentais e bibliográficas encontram-se disponibilizadas em determinados endereços eletrônicos e bibliotecas físicas.

 

Desenvolvimento

 

            Analisando a historiografia da educação brasileira verifica-se que a música foi empregada nos processos educativos das primeiras missões jesuíticas com o intuito de evangelizar os indígenas. Os padres jesuítas acreditavam que esse recurso se concebia como eficaz para a formação religiosa dos nativos. Com o decurso do tempo, a música sempre se manteve presente o cotidiano do ser humano, sendo algo imprescindível para aqueles que possuem condições de ouvi-la.

Consoante a especialista em Musicoterapia, Vera Lúcia Pessagno Bréscia (2003), a música encontra-se em quase todas as manifestações pessoais e sociais do ser humano, desde os primórdios da humanidade. Destarte, Bréscia complementa:

 

Pitágoras, filósofo grego da antiguidade, ensinava como determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações definidas no organismo humano. As sensações de bem-estar com a aplicação da música, já eram consideradas naquela época. Pitágoras demonstrou que a sequência correta de sons, se tocada musicalmente num instrumento, pode mudar padrões de comportamento e acelerar o processo de cura. (BRÉSCIA, 2003, p. 31)

           

Nos primórdios do século XX, novos métodos ativos emanam formando a Nova Escola como Decroly, Montessori e Dalton. Esses educadores priorizam a música no processo de aprendizagem, ponderando a sua relevância no desenvolvimento de atividades de expressão e criação.

Doravante a década de 60, o antropólogo Alan P. Merriam elaborou a “teoria da etnomusicologia”, a qual defende a música como um recurso fundamental ao ser humano. Assim, Merriam (1964, p. 27) a define como “um meio de interação social” sendo produzida por “especialistas”, ou seja, os produtores, para outros indivíduos, os “receptores”.

Na contemporaneidade, muito se debate acerca das possibilidades aplicativas da música no contexto educacional e, evidentemente, constata-se sua relevância para esse cenário. Seja na contextualização de letras com o conteúdo programático, ou na criação de paródias, bem como na melodia de concentração para uma narrativa ou atividade e na composição como forma de avaliação, a música apresenta inúmeras contribuições para o processo educacional quando empregada de maneira correta e responsável, sendo previamente selecionada para que se evitem situações constrangedoras, como letras mal-intencionadas. Ademais, a música não deve ser utilizada como um entretenimento aos alunos, mas sim, como um recurso didático planejado consoante ao conteúdo a ser abordado nas aulas.

Dentre suas contribuições, destaca-se o desenvolvimento intelectual, da concentração, do raciocínio e da criatividade, além da promoção do equilíbrio e do bem-estar, bem como o estímulo intelectual. Assim, torna-se evidente que as aulas com músicas tendem a proporcionar ao estudante um melhor desempenho na escola e na vida, viabilizando o conhecimento e a aptidão escolar.

            De acordo com a historiadora Circe Maria Fernandes Bittencourt (2004, p. 379) “o uso da música é importante por situar os jovens diante de um meio de comunicação próximo de sua vivência, mediante o qual o professor pode identificar o gosto, a estética da nova geração”. Assim, a música se emprega como uma metodologia de ensino que facilita a compreensão do aluno, tendo em vista sua identificação com o recurso, o que viabiliza a transformação de seus conceitos naturais em conceitos científicos. O doutor em Geografia, Marcos Antonio Correia explana que:

 

O professor pode utilizar a música em vários segmentos do conhecimento, sempre de forma prazerosa, bem como: na expressão e comunicação, linguagem lógico-matemática, conhecimento científico, saúde e outras. Os currículos de ensino devem incentivar a interdisciplinaridade e suas várias possibilidades. [...] A utilização da música, bem como o uso de outros meios, pode incentivar a participação, a cooperação, socialização, e assim destruir as barreiras que atrasam a democratização curricular do ensino. [...] A prática interdisciplinar ainda é insípida em nossa educação. (CORREIA, 2003, p. 84-85).

 

Em síntese, a música proporciona um processo educacional profundo e completo. No entanto, a doutora em Música, Caroline Cao Ponso (2008, p. 14) assevera que “a música é um saber específico, não com caráter fechado em si, mas que auxilia, interage, enriquece e é aprendida em conjunto com as demais áreas do conhecimento, seja matemática, literatura, ou a história.”

É exatamente nesse segmento que a Geografia surge e se adéqua, isto é, as músicas empregadas nas aulas dessa disciplina tendem a aperfeiçoar o desempenho do professor, facilitar a capacidade de percepção do aluno e, sobretudo, promover um dinamismo, tornando assim, as aulas mais didáticas e interessantes aos educandos.

Sabe-se que as aulas de geografia são consideradas pelos alunos como distantes de sua realidade, cansativas, conteudistas e fundamentadas na memorização de mapas, cidades, capitais e rios da geografia física e humana, o que resulta na falta de interesse dos estudantes, mediante uma metodologia com práticas pedagógicas tradicionais. A doutora em Geografia, Lana de Souza Cavalcanti, explana acerca dessa disciplina:

 

O estudo das representações sociais tem, assim, como suporte a vida cotidiana e a atividade cognitiva dos sujeitos que as formam. Essa convicção de que o estudo do conteúdo das representações dos alunos sobre Geografia é um caminho para melhor conhecer o mundo vivido dos alunos suas concepções e seu processo de construção de conhecimento. [...] A Geografia trabalha com conceitos que fazem parte da vida cotidiana das pessoas e em geral elas possuem representações sobre tais conceitos. (Cavalcanti, 2005, p. 32).

 

Desse modo, verifica-se a importância da geografia, não apenas para a formação do aluno nas escolas, mas para o seu cotidiano e sua vida. Surge então o imperativo de despertar o interesse e a atenção dos estudantes para essa disciplina, além de convencer os professores “tradicionais” a empregarem novas metodologias de ensino. Adaptar-se à nova realidade do aluno é imprescindível ao professor, para que suas aulas promovam um ensino de qualidade.

Assim, ao passo em que se insere a música, ou seja, uma linguagem acessível e condizente ao cotidiano dos alunos renova-se as metodologias educacionais, motivam-se os estudantes, cria-se um ambiente dinâmico e propício ao aprendizado. Ademais, verifica-se que determinadas letras de músicas permitem que o professor explore o potencial de interpretação dos estudantes, além de despertar seu senso crítico. Correia corrobora, asseverando que:

 

A música apresenta-se como estímulo e inspiração didático-pedagógica, pois ameniza o tratamento pedagógico da disciplina de geografia adotada, tradicionalmente, nas escolas. Principalmente quando se trata das matérias da 1.ª Série do Ensino Médio, na qual se aborda a natureza física da geografia. Esses conteúdos são taxados de estáticos e inoperantes diante dos anseios dos educandos em relação ao ensino-aprendizagem desta disciplina. (CORREIA, 2009, p. 64).

 

Inúmeras músicas possuem uma relação intrínseca com os conteúdos de geografia, abordando de maneira mais interessante e instigante a globalização, o processo de imigração, o consumismo exacerbado e o capitalismo, além da cultura e do meio ambiente. Consoante Correia (2009, p. 60), “a música [...] pode unir a emoção e a razão enriquecendo o processo ensino-aprendizagem por meio de elementos culturais, artísticos e estéticos, provocando ressignificação, resgate e valorização dos conteúdos escolares geográficos”.

Os ritmos musicais variam de acordo com a proposta do professor, mas verificam-se canções sertanejas, de rock, MPB e até mesmo o RAP, o qual se encontra em alta nos aparelhos celulares dos alunos e visa, em preponderância, realizar críticas as desigualdades sociais. Assim, “a música auxilia na aprendizagem de várias matérias. Os estudantes podem apreciar várias questões naturais, culturais, sociais políticas e outras, escutando canções, música clássica e outros gêneros musicais”. (CORREIA, 2009, p. 63).

Destacamos aqui, algumas canções e os conteúdos a serem relacionados nas aulas de geografia. A “Xote Ecológico” de Luiz Gonzaga trata de questões relacionadas ao meio ambiente, assim como “Planeta Água” de Guilherme Arantes que alude à poluição e, em relação à ecologia, temos “Passaredo” de Chico Buarque e Francis Hime. A “Riacho do Navio” também de Luiz Gonzaga com a parceria de Zé Dantas reflete sobre a diversidade e especificidade do entorno do Rio São Francisco, elucidando a intervenção do ser humano nas águas. “Aquarela Brasileira” de Silas de Oliveira analisa o território brasileiro, além de ressaltar a identidade cultural de algumas regiões. Tratando-se da imigração, temos “Sampa” de Caetano Veloso, “Fotografia 3x4” de Belchior, “Asa Branca” de Luiz Gonzaga e “Faroeste Caboclo” de Legião Urbana.

Em um contexto social, destacamos algumas canções que criticam a conjuntura do país, sobretudo em aspectos econômicos e políticos. Assim, temos “Vossa Excelência” dos Titãs, “Até Quando? ” de Gabriel O Pensador, “Homem na Estrada” dos Racionais MCs, “Brasil” de Cazuza, “Homenagem ao Malandro”, de Chico Buarque, “A Novidade” de Gilberto Gil e “Até Quando Esperar” da banda Plebe Rude.

Em síntese, são inúmeras as músicas que contribuem para que as aulas de geografia sejam mais prazerosas e, sobretudo, para que o aprendizado do aluno seja de qualidade. Conforme se verifica com as músicas supracitadas, tratam-se de canções nacionais, no entanto, as músicas internacionais também podem ser utilizadas nas aulas, mediante a tradução para que os alunos possam compreender o que se diz na canção.

Ademais, é importante que o aluno também contribua com esse recurso didático, não apenas levando para as aulas canções que aludem ao conteúdo, mas elaborando paródias, isto é, uma releitura de alguma composição literária, o que resulta em músicas cômicas e agradáveis a classe, além de ser fundamental para a fixação dos conteúdos apreendidos em aula.

 

Conclusão

 

Doravante a reflexão promovida pelo presente artigo científico, nos foi possibilitada uma análise acerca da inserção das músicas como metodologias de ensino para as aulas de geografia. Desse modo, evidenciou-se ao longo da pesquisa a importância desse recurso para a contemporaneidade, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico e a nova realidade do aluno.

As aulas de geografia quando sucedidas pelo método tradicional, são ponderadas como cansativas e desanimadoras pelos alunos, tendo em vista que necessitam de mais dinamismo na escola. Assim, surge a necessidade de empregar novas metodologias de ensino para que os estudantes sintam-se interessados e possuam um ensino de qualidade.

A música nesse contexto é de grande relevância, considerando sua facilidade de inserção nas aulas, além do interesse dos alunos apenas pelo fato de “ouvir uma nova música”. Citamos nessa pesquisa, determinadas músicas que se relacionam a geografia, no entanto, muitas outras são encontradas com facilidade em plataformas da internet, como no Youtube e no Spotify.

Em síntese, pudemos compreender mediante esse artigo, as contribuições que a música, como recurso, acarreta para as aulas de geografia como um todo, ou seja, para o desempenho do professor e para o aprendizado dos alunos. Contudo, permanece uma problemática que deve ser resolvida em caráter de urgência e apresenta-se como objeto de estudo para pesquisas futuras: Como fazer com que os professores “tradicionais” de geografia insiram as músicas em suas aulas?

As contribuições foram destacadas aqui, porém, cabe a cada docente a análise da relevância e o emprego das canções em suas aulas.

REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.

BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.

BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: propostas para a formação integral da criança. São Paulo: Peirópolis, 2003.

CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, Escola e Construção de Conhecimentos. 8.ed. Campinas-SP: Papirus, 2005.

CORREIA, Marcos Antonio. Representação e Ensino – A Música nas Aulas de Geografia: Emoção e Razão nas Representações Geográficas. 2009, 116 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.

FRANCISCO, Wagner de Cerqueira e. Músicas para Aulas de Geografia. Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/musicas-para-aulas-geografia.htm. Acesso em: 07 abr. 2019.

MERRIAN, Alan P. The Anthropology of Music. Illinois: University Press, 1964.

PONSO, Caroline Cao. Música em Diálogo: ações interdisciplinares na educação infantil. Porto Alegre: Sulina, 2008.

SILVA, Renágila Soares da. A Importância da Música nas Aulas de Geografia: Práticas e métodos diferenciados no uso da música como metodologia de ensino nas aulas de geografia. 2015, 46 f. Monografia (Licenciatura em Geografia) - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Cajazeiras, 2015.