Mulherista

Por NERI P. CARNEIRO | 05/07/2009 | Sociedade

Gosto de fazer, quando o discurso assim o pede, alguns esclarecimentos no início do escrito, para que o desinteressado não perca tempo em uma leitura que, evidentemente, não lhe interessa.

Feito esse esclarecimento, vou esclarecer o motivo deste que ora está diante dos seus olhos, caro leitor. Trata-se da resposta, que não sei se será lida pelo seu destinatário – visto que não sei quem é, mas sei que é alguém que outro dia não gostou do que leu, algumas linhas que estão disponíveis em http://www.webartigosos.com/articles/20604/1/mentiras-que-as-mulheres-nos-obrigam-a-contar/pagina1.html, com o singelo e significativo título: "Mentiras que as mulheres nos obrigam a contar". O cara leu o texto e fez um comentário, não ao texto, mas a minha pessoa; comentários nada eleogiosos, na verdade. E, entre outras coisas me chamou de machista. E me chamou de machista justamente em um texto que começo dizendo aos leitores que "Não me tomem por machista". Com isso demonstrou ser analfabeto e, portanto, devo lhe fazer alguns esclarecimentos que, evidentemente, poderão ser acrescentados a outros em outras oportunidades, se forem necessários.

Primeiro esclarecimento. Só para manter o mesmo nível, vou me valer de um estilo de argumentação aprendido do "Analista de Bagé", do Veríssimo filho. Começo dizendo que tenho o maior respeito aos homossexuais, mas tenho que ser direto: não sou machista. Pois machista é quem gosta de macho. Embora tenha amizade com alguns homens, sou mulherista. Eu prefiro as fêmeas, por isso sou feminista. Como as fêmeas humanas são também chamadas de mulheres, posso me autodenominar de mulherista... Julguei que tinha que dizer isso, fazer esse esclarecimento, só para não sobrarem dúvidas por parte de quem lê, pois sempre tem analfabetos lendo...

Segundo esclarecimento, ainda mantendo o nível apreendido das crônicas que habitam os jornais: a crônica, muitas vezes se apresenta como profunda reflexão filosófica, mantém, entre outras uma conotação irônica. Trata-se de se comentar ou ironizar o cotidiano. E ironia, aqui, não tem o mesmo significado que está presente no método socrático, em que o mestre de Platão pretendia levar seu interlocutor a se reconhecer ignorante para, em seguida o conduzir dentro do processo maiêutico; em nosso cotidiano ou numa gíria que já está em desuso, quem faz ironia está "tirando sarro", está, sem conotação sexista, fazer gozação.

Nestas alturas reafirmo: sem qualquer preconceito, pois respeito que é, não sou machista, mas mulherista pois gosto não dos machos, mas das fêmeas. Sei que alguns que se julgam sábios dirão que essa palavra – mulherista – não existe. Respondo: como não existe se você a está vendo?... e lendo? Sabia que é impossível ver e ler o que não existe? Alguns letrados poderão dizer que este pode ser um neologismo. Não sei, só sei que isso ajuda no processo da comunicação. Valendo-me dos argumentos do "Gigolô das palavras". "A linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal".

Não posso dizer, como o Luiz Fernando, que sou um gigolô das palavras. Mas eu também "abuso delas" e, por vezes, também maltrato algumas delas a fim de fazê-las dizer o que quero. E elas dizem! Só que ao dizer o que desejo por vezes elas deixam a desejar à obtusidade de alguns, pois não as entendem. Não por causa da palavra, mas porque a novidade se apresenta sempre com cara nova e, portanto, desconhecida para quem a encontra pela primeira vez. Mas depois, como em todo processo de comunicação, aqueles que lêem, entendem não só seu significado, mas também o que ela quer dizer e, dessa forma, eu também me comunico por meio dela palavra.

Voltemos, também, ao machista. Já é uma palavra conhecida como significando um certo preconceito ou postura negativa em relação à mulher. Mas ela pode receber novo significado e se receber alguns maltratos pode ganhar novo significado passando a significar coisa de macho. E por uma maravilhosa inversão, a palavra feminista passa a ser aquilo que interessa ao homem, pois ser refere a coisa de e da mulher. Assim sendo, homem que se presa não é machista, pois machista é quem gosta de coisa de homem; homem que se presa é feminista, pois feminista é quem gosta da coisa da mulher... e, mais uma vez abusando das palavras, homem que é homem é mulherista. Sacou?

Mas você que está lendo estas linhas deve estar se fazendo uma porção de perguntas, do tipo: o que é que eu tenho com isso ou com essa briga? Se não perguntou isso indagou: isto é um texto ou uma nova versão de um dicionário enlouquecido? Pode estar se perguntando: por que é que estou perdendo tempo com esta leitura? Ou então pode estar falando: durante todos estes minutos de leitura esperava uma solução para a discussão desses dois, mas ela não apareceu. Será que perdi meu tempo?

Então respondo: não perdeste tempo, nem este texto pretendia provocar uma briga. Apenas mostrar que o leitor precisa não se prender à letra morta, mas deixar fluir a imaginação. Além disso, o leitor, para não fazer papel de analfabeto, deve ficar atento ao que está escrito para não correr o risco de projetar naquilo que está lendo as próprias opiniões; o leitor deve confrontar suas posições e opiniões ao texto num crescente diálogo. Nossa leitura deve se realizar na forma de um diálogo para podermos olhar não só para as letras e palavras, mas para a construção de significados.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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