MULHER E O MOMENTO PRESENTE

Por Paloma Andrade Lima Oliveira | 24/06/2009 | História

Vivemos numa sociedade na qual se predomina a ideologia do individualismo, em que o ator histórico, tem seu potencial revolucionário negado quando este se entende como indivíduo uno, isso não lhe permite uma visão da totalidade de sua realidade e dessa forma, não lhe é permitido um entendimento de si próprio, enquanto pertencente a uma classe. Dentro dessa dinâmica, como se encontra a mulher? Em que papel ela se situa? Muitas são as respostas para essas perguntas, porém, as diretrizes para uma melhoria ou transformação da realidade da mulher dentro desse sistema não são respostas fáceis levando em conta nosso contexto histórico.

Durante o século XX muitas transformações ocorreram para a mulher. Revolução sexual, entrada no mercado de trabalho. Mas dentro dessas transformações os frutos não foram colhidos. O que temos hoje dentro do movimento feminista, decorrente de vários fatores, é a perde do cunho revolucionário do movimento, na qual dentro de uma dinâmica da ideologia do individualismo, a falta de uma visão de si mesma enquanto "classe" se perdeu. A partir da década de 60, uma nova linha de estudos surge para abordar a questão do sexo, mas com um conceito mais amplo, que seria das relações sociais de gênero[1], de maneira a trabalhar a contradição que existe nessa relação e com uma pretensão de fazer entender-se enquanto classe.

"A classe acontece quando alguns homens, como resultado de experiências comuns (herdadas ou partilhadas), sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos interesses diferem (e geralmente se opõem) dos seus (...) A consciência de classe é a forma como essas experiências são tratadas em termos culturais: encarnadas em tradições, sistema de valores, idéias e formas institucionais." (THOMPSON, 1987:10)

Posterior à década de 80, o entendimento enquanto classe foi deixado de lado pelo movimento, expomos dois fatores importantes para esse fato: com a entrada na nos bancos acadêmicos do viés analítico gênero, ao mesmo tempo em que se permitiu uma legitimidade enquanto ciência da concepção do movimento, colocando a mulher enquanto ser oprimido, também permitiu que, dentro da perspectiva da Nova História, outros vieses se utilizassem para a análise de gênero, e o acarretou numa perda da objetividade de uma diretriz de transformações anteriormente proposta, obviamente que não queremos aqui, minimizar outras formas a análises, mas que distanciou o movimento do seu objetivo inicial, que era a luta contra toda forma de opressão da mulher; outro fator é a institucionalização do movimento pós redemocratização do país, que também o distanciou de seu cunho revolucionário.

Nesse sentido, a sociedade contemporânea, com sua ideologia do individualismo, acarreta numa falta de consciência de classe que seria seu entendimento enquanto ator histórico e social. "A classe é definida pelos homens enquanto vivem sua própria história e, ao final, esta é sua única definição." (THOMPSON, 1987:12). Conforme E. P. Thompson, a classe não é estrutura, mas um condicionamento das relações sociais e, compreendemos que é de extrema importância um retorno à necessidade de se criar consciência de classe pois politicamente, a luta acabar se auto-anulando quando estes não conseguem ter consciências de si mesmo e de suas condições dentro das relações sociais de gênero.

BIBLIOGRAFIA

THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2003.


[1] Relações sociais de gênero, são uma especificidade dentro das relações sociais conceituada por Marx e Engels em que as relações entre os seres são determinadas a partir da produção e reprodução de vida material, no caso do gênero a subordinação do gênero feminino para com o masculino. O conceito de gênero é utilizado pela teoria feminista por abarcar de maneira mais ampla a questão dessa subordinação.