Mudinho e as Cinco

Por Eduardo Silveira | 26/01/2011 | Contos

25/01/2011



Mudinho e as cinco.


Autor: Eduardo Silveira


Dona Beatriz
Olha, dona Tilinha, eu não sei mais o que fazer com esse jardim, sabia? Acho que vou mandar cimentar isso tudo, o que você acha?
Ah, patroa, num faz isso não. Um jardim tão bonito.
Bonito, Tilinha? Um jardim todo maltratado desses, e você ainda diz que isso é bonito?
Ora, patroa! É manera de dizê, né? Um tratinho e ele fica lindo de novo.
É. Mas, desde que Manéuzinho foi embora, nunca mais ninguém cuidou dele.
É. Manéuzinho tinha mão boa pra prantar, né?
Ô se tinha! Planta que aquele homem botava a mão, vicejava na hora, né?
Ora, si era! Mas eu sei quem tem mão boa tamém, sabia?
Sabe mesmo? Quem é?
Meu fio, Mudinho.
Mudinho? Tem mão boa?
Vixe! Minhanossinhora! Si tem? Aquilo, não bate um prego numa barra de sabão, mas onde põe as mão, florece tudim.
Ah, então a senhora vai mandar ele vir aqui, não vai?.
Óia! Eu vô logo avisano. Aquilo é priguiçoso que só, visse?
Não! Não! Pode mandar ele vir aqui, que eu vou dar uma boa gratificação pra ele.
Bom, vo falá cum ele. Mas a sinhora sabe como é, né? Aquilo adora uma vadiage, visse?
Fala da gratificação que ele vem, tá bom?
Tá bom. Eu vô falá.
Dia seguinte
Bom dia, Mudinho! Tudo bem com você?
Olha, o jardim é aquele ali, tá vendo?
Acha que pode fazer ele ficar bonito outra vez? Ah, é? É moleza? É mesmo?
E, quanto tempo você acha que vai levar pra fazer o serviço?
Três dias?
Se eu tenho o que?
Ah! As pedra pra decorar? Tenho sim, tenho sim. Estão lá no celeiro.
Pode pegar sim.
Se quiser mudar de roupa, pode se trocar lá no celeiro mesmo, viu?
Pode. Pode ficar de calção, não tem problema.
É. Hoje tá muito calor mesmo.
Tá bom. Qualquer coisa que você precisar é só bater aqui na porta, tá?
Tá bom!
Tchau.


Meio dia
Dona Tilinha! Chama Mudinho pra almoçar. Coitado, tá desde cedo naquele sol.
Já chamei, Patroa! Ele tá vindo. A sinhora vai almoçar agora?
Não. Agora não. Estou sem fome. Mais tarde eu como alguma coisinha.
Tá certo. A sinhora é que sabe. E óia, tive que batê pé firme com ele, viu?
É? Por que?
Ora! Num disse que ele era priguiçoso? Só veio, mermo, quando falei quanto a senhora ia dá pra ele. Ele é ruim de trabaio. Só faz as coisa, no tranco. Enquanto os irmão vão trabaiá, ele, se embrenha nesse matão de Deus, qui ninguém sabe dele, visse?
Ele não vai me arruinar mais o jardim não, né?
Não. Não. Ele sabe fazê as coisa direito. É até caprichoso. Mas o que ele num gosta mermo é do trabaio. Pera aí, que eu vô chamá ele traveis.
Mudinho! Ô Mudinho! Vem comê, menino!
Quatro horas da tarde
Nossa! Quanto lixo!
É. Fazia muito tempo que ninguém cuidava.
É? Acha que vai levar uns quatro a cinco dias? Não tá valorizando o serviço não, né?
Olha só. Eu vou te dar o que eu combinei com a sua mãe, viu?
Não tá valorizando não? Ah, tá? É, tô vendo que tem muita coisa pra fazer.
Tá certo. Tá certo. Pode pegar o lixo.
Mudinho, ao abaixar-se para pegar o lixo, seu pênis saiu fora do calção. Dona Beatriz, não acreditou no que estava vendo. Nunca em sua vida havia visto uma coisa tão grande. Tratou de sair dali o mais rápido possível.
Dona Beatriz, era uma fazendeira respeitada na cidade. Por isso, desde que ficara viúva, nunca se envolvera com pessoas da cidade, justamente para não ficar "falada". Mas, "instrumento" igual ao de Mudinho, ela nunca havia visto. Aquela visão a deixara numa "aflição", e com um calor interno, que ela não sabia mais o que fazer para abrandar aquele estado de coisas.
Segundo dia.
Bom dia, Mudinho, tudo bem?
Olha, sua mãe não vem hoje, né? Então, quando chegar a hora do almoço, você pode se lavar e ir lá pra cozinha, tá bem?
Meio dia
Nossa! Como você está sujo. Ah, não! Você vai tomar um banho agora mesmo.
Que não o que? Vai sim.
Já pro banheiro, anda!
É ali. Pode ir se molhando que eu vou pegar a toalha, viu?
Nossa! Eu devo estar ficando doida. - pensou ela, e foi buscar a toalha.
Alguns minutos depois
Já acabou?
Tá aqui. Toma a toalha.
Mudinho, escondido atrás da porta do banheiro, estendeu a mão para pegar a toalha. Dona Beatriz entregou-lhe e disfarçadamente, pelo espelho do banheiro, deu uma "conferida" no "instrumento". O que ela viu deixou-a mais abismada ainda. Aquela "coisa", assim, totalmente exposta, era um "caso de polícia"

Tá gostosa a comida?
Pode comer à vontade, viu?
Tá faminto mesmo, né? Come devagar, menino! Assim vai acabar se engasgando!
Quer refresco?
Me diz uma coisa, Mudinho? Quantos anos você tem?
Quantos? Ah, bom. Dezoito? Tem namorada? Não? Nenhuma garota que você goste?
Ah! É porque você não fala, é isso?
As garotas não gostam? Mas você devia arranjar uma namorada, viu?
Você é um rapaz forte, bonito, aposto que tem alguma garota a fim e você nem desconfia.
Não tem não?
Posso te fazer uma pergunta indiscreta?
Não me leve a mal, tá?
Você já esteve com alguma mulher? Não. Não! Tô dizendo assim... se você já se deitou com alguma mulher, já?
Não? O que? Espera aí, não estou entendendo! O que?
Ah! Você quer dizer que gostaria muito, é isso?
E por que você não pede a seus irmãos para te levarem nesses lugares, onde tem muitas mulheres?
Já foi? E não gostou? Por que?
O lugar era ruim? As mulheres? Fedorento? Você gosta de coisas limpas, é isso?
Já acabou? Tá bom. Descanse um pouco e depois pode ir pegar no serviço.
O que? Tomar banho? Agora? Ah, sim! Tá bom! Depois que acabar o serviço? Tudo bem.
Pode vir e tomar banho aqui nesse banheiro, tá certo? Vou deixar a toalha aqui, tá?
Bom, agora vou tratar de uns assuntos. Tchau!
Cinco e meia da tarde
Pode entrar!
Oi, Mudinho. Quer ir tomar banho? Tudo bem, pode ir, é por ali, ó!
O que? Estou bonita? Tá mangando de mim, é?
Tá bom! Tá bom! Vai tomar banho, seu moleque.
Olha, eu botei um desodorante e um sabonete novo lá pra você, tá? Pode usar.
Como é? Ah, vai ficar cheiroso?
Minutos depois
Quer tomar um café?
Não? Quer o que? Espera aí. Não estou entendendo.
Ficou pensando no que eu disse? Sobre o que? Ah, namorada? Mulher?
Você quer uma mulher? Eu???? Mudinho você é um menino.
Mudinho, eu tenho cinquenta e quatro anos, sabe o que isso significa? Eu podia ser a sua mãe, sabia? Quem sabe a sua avó?
Você não se importa?
O que?
Você pensou em mim o dia todo?
Quer dormir aqui? Sério? Tem certeza?
Então, vamos pro meu quarto.
Dona Beatriz ficou extasiada. Nunca havia tido tanto prazer em sua vida. Até que Mudinho, para um "principiante", dava conta do recado direitinho. O canteiro levou quinze dias para ficar pronto. Nesses quinze dias, dona Beatriz foi a mulher mais feliz do mundo. Mudinho tinha uma "fome" de sexo fora do comum. Havia dias em que dona Beatriz quase nem conseguia andar direito. A qualquer hora do dia ou da noite, se ela quisesse, lá estava ele, com o "instrumento afinado" e pronto para a "festa". Parecia uma criança mesmo. Ele era muito alegre, brincava o tempo todo, às vezes, espalmava a mão mostrando os cinco dedos, tocava no nariz dela, e aí beijava cada um deles e depois ria, ria, ria.
Dois meses depois.
Ué, Gerusa, tá chorando?
Aconteceu uma desgraça, patroa!
Desgraça? Que que aconteceu, meu Deus do Céu?
Foi Mudinho.
Mudinho? Que é que tem o Mudinho?
Mataram ele.
O que? Como? Tá brincando?
É verdade, patroa! Foi ontem lá na Campina Verde. O enterro é hoje às quatro horas. E vai ser lá na...patroa! Patroa!
Quando dona Beatriz voltou a si, Gerusa já tinha chamado seu Geraldo para ajudar a colocá-la na poltrona. Deram-lhe um remédio e ela foi para o seu quarto. Deitou-se e chorou até não mais poder. Gerusa, na cozinha, também chorava copiosamente.
Três horas da tarde.
Dona Beatriz chegou ao velório e foi prestar condolências à dona Tilinha e a seus familiares. Era um momento, realmente, muito triste. Dona Beatriz, com os olhos marejados, escondidos atrás de seus óculos escuros, achegou-se à beira do caixão e ficou olhando, pela ultima vez, para o rosto daquele menino, que tanto prazer havia lhe proporcionado. E agora? O que ela faria, sem o seu menino inocente? - Perguntava-se, enquanto enxugava, disfarçadamente, com um lencinho, as lágrimas que lhe rolavam pelas faces.
E ali, ao lado do caixão, ela ficou, um bom tempo, imersa em um carrossel de recentes e doces recordações.

Quando anunciaram que iam fechar o caixão, Gerusa, que tinha vindo com o marido, se aproximou do caixão, segurou nas bordas com força, e começou a chorar baixinho. Logo em seguida, Marina, mulher de Zé Cabrunco, também se aproximou e começou um choro lamuriento. Lourdes que estava acompanhada da mãe e do filho, também se atracou com o caixão, emitindo uns soluços esquisitos. De repente, adentrou ao recinto, Valquíria, mulher da zona que foi chegando e se atirando, estrebuchadamente, sobre o caixão, quase derrubando-o ao chão.
Aí, o que se viu foi uma coisa inacreditável. As quatro mulheres, desesperadamente enlouquecidas, começaram a gritar e a chorar alto, agarradas ao caixão. Os maridos e filhos as puxavam daqui e dali, e elas nada de deixar que fechassem o féretro. Gritavam cada vez mais alto, numa histeria burlescamente descomedida.

Dona Beatriz, completamente estarrecida, afastou-se ao ver aquela cena dantesca. E aí sim, viu que Mudinho de "inocente" não tinha nada. Entendeu que, quando ele espalmava a mão e ficava beijando seus cinco dedos, estava, na realidade, era debochando dela.
Quando por fim, conseguiram fechar o caixão e o cortejo começou a sair, dona Beatriz "rosnou", baixinho, entredentes:
Cinco! Cinco mulheres, né? Seu Mudinho, filho de uma puta!



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