Mudar tua direção...

Por Vito Antonio Fazzani | 09/04/2012 | Crônicas

MUDAR O TEU RUMO; MUDAR A TUA OPINIÃO; MUDAR A TUA VIDA... Isso é simples, possível e necessário a cada etapa que superas em tua existência...

 

         Inúmeras vezes o orgulho, o medo, a vaidade, a acomodação, impedem a tua transformação e então o teu corpo, a tua mente e o teu espírito sofrem a dor da crise existencial. Crises surgem todas as vezes que a renovação não é reconhecida e nem aceita. Toda a crise ou tribulação é sinal da necessidade de mudanças.

 

          Na natureza tudo se transforma, tudo se renova.  A criação é um eterno recomeçar!

 

         Compreenda este conceito então a harmonia, a beleza, a prosperidade, a saúde, a alegria e a paz reinarão em tua vida. É necessário que teus pensamentos (tua mente) esteja equilibrada para que tudo em tua vida física esteja também. Se tua mente está sadia teu corpo estará são; essa é uma famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal ("Mens Sana in Corpore Sano").

 

         O ser humano superou os tempos em que se enraizava na terra, nas idéias e nas pessoas, ou seja, nas tradições. Hoje o planeta Terra, dentro dessa idéia de renovação constante, vislumbra a “era do conhecimento”. A energia elétrica, a tecnologia, as conquistas das ciências humanas, físicas, biológicas, e, de uma forma mais consciencial, unidas ao “amor” (incondicional) entre as pessoas e as criaturas do planeta, renova a vida para um novo momento da humanidade. Sabendo que a existência no planeta Terra depende dessa nova consciência na humanidade ‘estamos’ todos responsáveis por cada momento da vida em todos os sentidos. E não tem como escapar desta participação, todos são convocados a “dar” (servir) algo para o planeta terra, sua humanidade e natureza...

 

         E é neste contexto que se fala muitíssimo em final dos tempos; final de uma era e início de outra melhor; em evolução do ser humano e tudo mais que está surgindo neste ano de transformações em todos os sentidos.

 

         Aqui inicio uma história que se passou comigo onde quero mostrar que a entrega total a Deus, de nossas decisões, é o reconhecimento dessa renovação no nosso mundo, como foi e é na minha vida...

 

         ...Era um dia lindo! O sol aparecia no alto da montanha que circundava o lugar onde eu morava. Aquele brilho solar matinal e o cheiro do orvalho, que exalava no ar de meu jardim, inundavam a minha alma, fazendo com que meus pensamentos fossem renovados para mais um dia.

 

Eu senti uma vontade muito grande de caminhar, sempre fui impulsivo. Arrumei minha mochila com algumas peças de roupas, minha bíblia, alguns documentos e o pouco dinheiro que possuía naquele momento. Vesti uma calça jeans clara, uma camiseta branca, tênis e fui dar uma volta...

 

         A cidade de São Paulo é uma metrópole e do lugar onde estava até uma estrada que saísse da cidade era necessário usar um transporte público até os limites da região metropolitana. Foi o que eu fiz. Em meus pensamentos queria ir para as montanhas, sentia dentro de mim que algo estava por vir, e eu queria descobrir algo novo. Queria renovar minha vida!

 

         Em menos de uma hora de ônibus estava na Rodovia Régis Bittencourt (Br 116), que é a saída da cidade de São Paulo para o Paraná (região sul do Brasil).

 

Sempre gostei de caminhar. Quando ando por algumas horas sinto-me melhor comigo. Eu sei que o cérebro libera, através de uma glândula situada na cabeça, uma substância que dá uma sensação de bem estar quando se caminha por determinado tempo ou se faz alguns tipos de exercícios. Mas o que eu sinto quando caminho é mais do que isso. Eu sinto a liberdade em meu rosto quando eu estou em um local livre das minhas imagens cotidianas e das pessoas que costumo encontrar rotineiramente. É bom para o meu “espírito”, ou seja, meu eu interior, respirar o ar mais puro, ver paisagens diferentes e refletir sobre os fatos da vida acontecidos comigo.

 

         Depois de algum tempo caminhando ao lado da rodovia, sendo quase meio-dia, o sol irradiava muito calor e o cansaço começava a tomar conta de meu corpo. Não tinha dinheiro para comer e nem para prosseguir a viagem de ônibus. Somente para voltar para minha casa. Já havia caminhado, mais ou menos uns 15 km, e resolvi pedir “carona” (é fazer um sinal, que se faz com as mãos, para os veículos que passam ao lado da rodovia), indicando que estou querendo viajar junto no veículo.

 

         Depois de muitos carros, ônibus e caminhões passarem por mim sem que nenhum parasse, com as pernas e pés doendo, comecei a me questionar se já não era hora de parar e voltar. Mas o desejo de continuar, algo dentro de mim, falava em meus pensamentos na forma de uma idéia:

 

“... Vito imagine um palito de fósforo acendendo. É um instante! E é um instante igual a esse em que você deve ocupar os seus pensamentos agora. Só o momento em que você está vivendo, respirando, pensando, sentindo aqui e agora. Deixe o que passou no passado que já não rege você. E no que há de vir a acontecer... Confie em Deus!...”.

 

         Eu sei que não queria voltar, e a angústia de não estar preparado para passar um dia fora de minha casa preocupava os meus pensamentos. Nem dinheiro para uma refeição eu tinha! Só tinha o suficiente para retornar ao meu lar de ônibus.

 

          Mas aquela idéia fixou-se em minha mente: O palito de fósforo pegando fogo em um instante e só por essa medida de tempo que eu devia manter a ocupação de meus pensamentos (pouco tempo eu sabia, mas era mais que o suficiente para que Deus pudesse agir sem minha interferência).

 

         A horas do dia avançavam pelo início da tarde. Sem almoçar, caminhando pela rodovia, cansado, com os pés doendo, mas o pensamento era o mesmo: Não se preocupe com o que há de vir, somente viva um instante de cada vez, todo o tempo do mundo é real somente no momento em que se está vivendo, lembre-se do palito de fósforo!

 

         Eram umas 14 horas, mais ou menos, levantei o polegar da minha mão direita em direção a um caminhão que vinha pela rodovia. O caminhão reduziu a velocidade e foi parando logo após o local onde eu estava. Corri até o caminhão, o motorista abriu a porta da cabine do lado do passageiro e me perguntou para onde eu estava indo. Eu respondi que ia rumo ao sul. Ele disse que me levaria, entrei na cabine do caminhão e iniciei uma nova etapa daquele passeio.

 

         Já nas primeiras palavras com o Sr. José, motorista do caminhão modelo Mercedes que transportava carga para Porto Alegre, notei que ele era um homem de boa índole. Conversava muito e sobre muitos assuntos diferentes. Contou-me que por volta das 12 horas daquele dia, ele passou por mim na estrada, e parou logo alguns kilômetros depois, em um restaurante da estrada para almoçar, e que agora estava seguindo viagem, passando por mim novamente, decidiu parar e ver para onde eu estava indo. Lembro-me que nesta hora, às 12 horas, eu estava refletindo sobre não desistir e confiar em Deus.

 

         Sr. José disse que me levaria até Porto Alegre, se eu quisesse, e que eu iria gostar da capital do Rio Grande do Sul. Eu falei a ele que queria conhecer o sul do Brasil e aceitei a oferta.

 

         A viagem na cabine de um caminhão é impressionante. Tem-se uma visão ampla da estrada e dos veículos que passam por nós. É confortável, contém lugar para dormir e até para comer. O barulho do motor diesel é forte, mas se acostuma com o passar das horas.

 

         Por volta das 18 horas o Sr. José estacionou o caminhão em um restaurante na rodovia para a hora do jantar. Era um rodízio de carnes, saladas, e eu posso assegurar que nunca em minha vida havia comido tanto como eu fiz naquele final de tarde. Essa parada para caminhoneiros, restaurante e posto de combustíveis, fornece local para que os motoristas e acompanhantes tomem banho, e para fazer comida se quiserem. Também há quartos para dormir, mas o Sr. José preferiu dormir na cabine do caminhão. Contou-me que é a melhor forma de assegurar que o caminhão não seria roubado. Atrás dos bancos tem uma pequena cama, onde ele se deitou e eu dormi nos assentos da cabine. Foi uma noite tranqüila e eu dormi que nem uma pedra... Estava bem cansado!

 

         Acordamos com o clarear do dia e logo após o banho, e a refeição da manhã no restaurante, seguimos a viagem. Não tive que pagar por nada, o meu anfitrião, disse que tudo estava sendo anotado nas despesas da viagem, e que a companhia transportadora para quem ele trabalhava iria pagar. E foi assim durante por dois dias durante a viagem até Porto Alegre.

 

Sr. José foi um “pai” para mim, mostrou-se ser mais que um amigo. Ensinou-me muito sobre os acontecimentos nas estradas e sobre as viagens que fazia. Viajar na “boléia” (lado do passageiro na cabine do caminhão) foi uma experiência emocionante. As paisagens no caminho da estrada que leva a região sul do Brasil são fantásticas. Após a capital do estado do Paraná, Curitiba, dirige-se para outra estrada que vai rumo a Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, onde tudo na natureza é muito bonito, com praias deslumbrantes. A comida em cada restaurante era mais saborosa que a da parada anterior. Chegando a capital do Rio Grande do Sul, logo na entrada da cidade, senti o clima hospitaleiro do povo gaúcho (como são chamadas as pessoas nascidas no Rio Grande do Sul).

 

         Sr. José fez uma surpresa para mim. Assim que chegamos, levou-me para sua casa, para conhecer sua esposa Dona Leonor, seus filhos, Osvaldo e Rosane, ambos de idade aproximada a da minha. E me disse que eu poderia ficar em sua casa até a outra semana, quando ele iria voltar para São Paulo levando outra carga. Imagine como me senti naquele momento. Aceitei a proposta mais do que depressa.

 

         A acolhidaem Porto Alegrefoi inesquecível, seja pela família dele, sejam pelos amigos e amigas que fiz naquele lugar maravilhoso. A casa deles era simples, mas grande e confortável. E todos, sem exceção, foram amigos durante a estadia de uma semana em que passeiem Porto Alegre. Foramdias onde eu verdadeiramente vivi a experiência do amor incondicional de pessoas que alguns dias antes nem sonhava em conhecer, e em uma cidade a uma distancia de1120 km, que nunca havia conhecido.

 

         Durante aquela semana, Osvaldo me apresentou seus amigos, a escola em que estudava. Fiquei conhecendo a sede da União Nacional dos Estudantes em Porto Alegre (UNE). E muito outros lugares da cidade.

 

No final de semana haveria um jogo de futebol no estádio do ‘Inter’, chamado de “Beira Rio”, seria o clássico, Corinthians (da cidade de São Paulo) X Internacional (da cidade de Porto alegre). Na residência onde eu estava hospedado, todos eram torcedores do Grêmio de Porto Alegre, time rival do Internacional, então ninguém se ofereceu para ir comigo ao jogo. Mas compraram um ingresso para mim e me levaram no dia do jogo ao estádio. Entrei no estádio pelo lado da torcida tricolor (torcida do Internacional), ou seja, estava no lugar errado, e só. Foi uma bela partida de futebol. O Corinthians, bravamente perdeu de 2x0. Não deixei de torcer pelo meu time, mesmo naquela situação, e fui respeitado por todos os torcedores do Internacional que estavam ali presentes, ou seja, 90% da capacidade do estádio. Fico pensando que aquilo era exemplo de uma torcida que ama o futebol e não as brigas. Após a partida, ao chegar na casa onde eu estava, os gremistas me receberam com muitas brincadeiras. Afinal era só um jogo. E isso é que era o interessante, o jogo em si alegrava, não o resultado, e de uma forma sadia todos saíam ganhando.

 

         Foi uma semana em que eu senti a minha vida mais iluminada, cheia de muitas alegrias e novos aprendizados. Lembro-me das conversas que tinha nas noites com a família do Sr. José, quantas histórias emocionantes que sempre me recordo com alegria no coração. A amizade que fiz com o Osvaldo e a Rosane, que de uma certa forma são para uma vida inteira.

 

No início da semana seguinte, Sr. José carregou o caminhão e partimos para São Paulo. Um doce gosto de saudades estava em minha boca, e cheguei a derramar alguma lágrima ao me despedir daquela família que em poucos dias tornou-se tão importante para mim. Sem falar de deixar para trás a cidade de Porto Alegre e os gaúchos, povo acolhedor que realmente mostra o porque o Rio Grande do Sul é um dos estados brasileiros, onde a cultura, a prosperidade, a saúde e a paz fazem-se presente em altos índices.

 

         Ao chegar em São Paulo não era mais a mesma pessoa. O que era antes nunca mais poderia ser o mesmo. Houve uma mudança de rumo... A partir de uma decisão minha... A partir de uma mudança de opinião.

 

Uma semana apenas havia se passado... E passou como um acender de um palito de fósforo!

 

Fim

 

   VITOFAZZANI

                                                                      São José dos Campos – SP 08/04/2012