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Por micheli milene martins | 04/12/2016 | História

1 - INTRODUÇÃO

Não é possível escrever sobre as sufragistas sem antes discorrer sobre o Movimento Feminista. De acordo com Soares (1994), como conceito de feminismo entende-se como a ação politica das mulheres, onde se engloba teoria, prática e ética, reconhecendo as mulheres, historicamente, como sendo sujeitos da transformação de sua própria condição social. 1 Graduanda em História da Universidade Sagrado Coração de Bauru. Projeto realizado sob a orientação da Profª Drª Ms Lourdes Conde Feitosa e Prof. Ms. Roger M. M.Gomes. 2 As reivindicações feministas só se fizeram possíveis a partir das ideias iluministas, como a liberação dos preconceitos, os horizontes da emancipação, a universalização da razão (PETIT, 1993) p,7. O feminismo propõe que as mulheres transformem a si mesmas e ao mundo, permitindo que se expressem tanto individuais como coletivamente e existenciais, tanto nas artes, na teoria e na política. Sua principal proposta era a libertação da mulher e não somente sua emancipação, sendo correto dizer que há diferenças entre libertar e emancipar. Ferreira (2001) escreve que emancipação significa tornar-se independente e desfrutar de direitos civis, ideias essas que concordam com o posicionamento de Betto (2001), quando esse afirma: Emancipar-se é equiparar-se ao homem em direitos jurídicos, políticos e econômicos. Libertar-se é querer ir mais adiante, [...] realçar as condições que regem a alteridade nas relações de gênero, de modo a afirmar a mulher como indivíduo autônomo, independente [...] (Betto, 2001).

2 - SUFRAGISTAS – EM DEFESA DO VOTO

Sempre que se fala em feminismo, a primeira ideia é a de que a luta por direitos e igualdade aconteceu somente no final do século XIX e por todo o século XX. Mas sabemos que ao longo da história que muitas mulheres se rebelaram contra sua condição servil, que lutaram por liberdade e muitas pagaram com suas vidas por isso. A Inquisição da Igreja Católica contribuiu muito para isso, pois foi implacável com qualquer mulher que desafiasse os seus dogmas. Com a chegada da modernidade relacionada às Revoluções Industriais, a primeira onda do feminismo aconteceu na Inglaterra, no final do século XIX, quando as mulheres se organizaram para lutar pelos seus direitos e o que mais se 3 popularizou foi o direito ao voto. Ficaram conhecidas como as sufragetes. Promoveram grandes manifestações em Londres, foram presas, fizeram greve de fome e por fim, num ato trágico, a feminista Emily Davidson, numa corrida de cavalos, atirou-se em frente do cavalo do Rei, perdendo assim sua vida. Era o ano de 1913. As mulheres do Reino Unido conseguiram o direito ao voto no ano de 1918. Segundo PINTO (2004), o movimento sufragista tinha uma expressão de bem comportado, um tanto conservador, tratando de assuntos superficiais e objetivando nesse momento, as boas relações sociais sem os questionamentos de gênero. O feminismo surge e se organiza como movimento estruturado, a partir do fenômeno da modernidade, acompanhando o percurso de sua evolução desde o século XVIII, tomando corpo no século XIX, na Europa e Estados Unidos, transformando-se também, em instrumentos de críticas da sociedade moderna. E, apesar da diversidade da sua atuação, tanto nos aspectos teóricos, quanto nos aspectos práticos, o Feminismo vem conservando uma de suas principais características que é a reflexão crítica sobre as contradições da modernidade, principalmente, no que tange a libertação das mulheres (SILVA, 2008).

3 - SUFRAGISTAS NO BRASIL – EM DEFESA DO VOTO

O movimento feminista no Brasil surgiu com a exclusão das mulheres dos espaços públicos. Essas mesmas mulheres travaram lutas, fizeram pressão política e foram ousadas em artigos publicados nos jornais e nos pedidos de apoio a população em geral. Elas eram de origem burguesa, letradas e ousaram em questionar poderes e ocupar o espaço masculino na política. E mesmo com o conservadorismo de uma sociedade patriarcal e machista, deu início a uma série de 4 ações para que as mulheres brasileiras ampliassem seu espaço social, econômico e político. Campos de estudo reconhecem que homens e mulheres ocupam diferentes posições na sociedade e as relações de poder entre eles escondeu o segundo em detrimento do primeiro, como se a história fosse feita apenas por homens (SCOTT, 1990). As mulheres são mais imaginadas do que descritas ou contadas e fazer a sua história é, antes de tudo, inevitavelmente, chocar-se contra esse bloco de representações que as cobre e que é preciso necessariamente analisar (PERROT, 2005). O Partido Republicano Feminino foi fundado em 1910 pela baiana Leolinda Daltro, com a intenção de representar a mulher nas esferas políticas de forma direta (direito ao voto). O estatuto do partido dá uma ideia muito clara do que pretendiam essas mulheres: não defendiam apenas o direito ao voto, mas falavam de emancipação e independência. Atribuíam à mulher qualidades para exercer a cidadania no mundo da política (o patriotismo) e no do trabalho. E, extrapolando a questão dos direitos, propugnavam o fim da exploração sexual, adiantando em mais de 50 anos a luta das feministas da segunda metade do século XX (PINTO, 2003). Nesse mesmo ano de 1910 foi criada a Associação Feminista, de cunho anarquista e com forte influência sobre as operárias. Reuniam-se na “União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas”, onde em 1917 proclamam: “Se refletirdes um momento vereis quão dolorida é a situação das mulheres nas fábricas, nas oficinas, constantemente, amesquinhadas por seres repelentes”(PINTO, 2003) p.35 Mas as lutas pelo voto só voltaram a ganhar força em 1920, com a volta de Bertha Lutz da Europa e com a criação da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, não sem antes de haver um debate travado na constituinte, onde se discutiu se a mulher poderia participar da política, sem prejudicar a família brasileira ou mesmo se teria ela intelecto para a vida pública (PINTO, 2003). 5 Dividindo opiniões, dentre os defensores do movimento estavam Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca (futuros presidentes da República). Na oposição, estava Epitácio Pessoa, que reconhecia partes dos direitos da mulher, mas opunha-se ao voto. Debatiam sobre isso com base na suposta função da mulher e sua suposta aptidão para o mundo agressivo da política. No trecho abaixo, de Muniz Freire, percebe-se claramente como a sociedade usa a política como um artifício, segundo análise de VARIKAS (2003), sobre o estender o voto às mulheres: Com o maior respeito, que devo aos autores de semelhante ideia e àqueles que a adotam, devo declarar, Sr. Presidente, que essa aspiração me afigura imoral e anárquica [...] porque, no dia em que a convertermos em lei pelo voto do congresso, teríamos decretado a dissolução da família brasileira [...] a mulher sempre teve, e cada vez mais, a função que lhe é própria [...] querer desviar o espírito feminil desse dever, dessa função, que é a base de toda organização social, cujo primeiro grau é a família, para leva-lo ao atrito das emulações práticas, é decretar uma concorrência dos sexos em relações da vida ativa, nulificar esses laços sagrados da família em torno da vida puramente doméstica da mulher, e corromper a fonte preciosa da moralidade [...] Continuando: O homem é, pela sua superioridade de caráter, votado principalmente para as labutações da vida ativa, a mulher, pela superioridade de afetos, tem na sua vida doméstica o seu destino a realizar. Já o congressista Barbosa Lima dizia que não faria qualquer diferença conceder o direito ao voto às mulheres, pois: [...] Toda a sua dedicação para com o filho não só quando o alimenta, como durante a primeira infância, é pouco atenta quanto a complexidade da educação. [...] Dê à mulher a faculdade de votar e raríssimas serão as que troquem os encantos do seu nobre emprego pela ingratidão dos embates eleitorais ou pela secura e aridez das lutas parlamentares [...] Para BESSE (1999), o progresso por que passava o país, a chegada dos imigrantes, a migração do campo para a cidade, as novas ideologias, as invenções 6 do fim do século XIX, como o rádio, o trem, cinema, a fotografia, o telégrafo e o telefone, só aumentava a obsessão com os papéis que as mulheres deveriam seguir na sociedade. Com as novas teorias científicas sendo aplicadas, e o contato que as elites tinham com os estudos em sociedades mais avançadas e a educação prestigiada que algumas mulheres tinham acesso em outros países, eram avanços que necessitavam ser controlados, somente assim o progresso serio o único caminho possível. Fazia-se necessário vigiar a sexualidade das raças e das mulheres, cuidando para que o casamento, a maternidade e a educação feminina não fossem desvirtuados. Mesmos os congressistas defensores o faziam sem qualquer questionamento de seus papeis. Costa Machado acredita que a questão seja de direitos, que a mulher deve ter os mesmos direitos. E que assim como a República foi vista como uma utopia pelos monarquistas, mas venceu, há de vencer também o direito das mulheres. Estou convencido que estes que contestam o direito das mulheres na vida pública quando vencidos farão melífluos discursos e dirão – sempre fui partidário da mulher, sempre combati para que ela tivesse na direção do país o mesmo direito que os homens, como poderia consentir que os verdadeiros anjos tivessem posição subalterna! E ainda: A mulher é dotada de inteligência, ela ama este país, ela é instruída, ela paga imposto, e entretanto não pode votar, não pode exercer o direito de voto, que é tão pequenino e mesquinho, ao passo que um homem que só tem a enxada, que apenas sabe ler e escrever um bocadinho, possa votar e ser votado? E concluindo sua defesa, questiona como que o fato delas (mulheres) exercerem profissões públicas (advocacia, magistério, medicina, entre outras), profissões essas que exigem muito mais do seu tempo não desorganiza a família, ir um dia para deixar seu voto poderia?

[...]

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