MOVIMENTOS SOCIAIS
Por Nubia Nadja BATISTA DA SILVA | 31/03/2011 | Educação1. Introdução:
O genial Galileu escreveu há muitos anos que "nada se pode ensinar ao homem, apenas ajudá-lo a descobrir".
Somente a partir dos anos 90, que os povos organizados do campo conseguiram agendar na esfera pública a questão da educação do campo como uma questão de interesse nacional, ou pelo menos se fizeram ouvir como sujeitos de direitos. E o Ministério da Educação na atuação do atual governo, finalmente abre-se a construção de uma política nacional de educação do campo, que vem sendo construída com diálogo com as demais esferas do Estado e com os movimentos e organizações sociais do campo, é como dizia Paulo Freire:
"A educação existe, sobretudo para a vida e para liberdade; a educação é profunda, é séria, na medida em que incorpora a dignidade de cada cidadão; é ensinamento da ciência, da tecnologia, quando ambas estão voltadas para o bem estar, para o progresso da comunidade, afirmação das individualidades". (Freire, 2001, p. 87).
A luta dos movimentos sociais respeita a especificidade do campo e a diversidade de seus sujeitos, porque cada grupo apresenta formas especificas de produção de saberes, conhecimentos, ciência, tecnologia e valores culturais, que devem ser incorporadas nas políticas públicas e no projeto Político-Pedagogico de Educação do Campo, como por exemplo, a Pedagogia da Alternância que tem como perspectivas para a educação a integração com elementos da igreja, sindicatos de trabalhadores rurais e associações de pequenos agricultores, com o objetivo de promover a integração intelectual, social, econômica, religiosa do homem camponês, fortalecendo assim sua identidade cultural, com uma proposta de atuação comunitária juntamente com pequenos agricultores. Pois não basta que as escolas tenham um currículo de formação ética consistente, fundamentado e socializado a fim de conquistar a legitimidade para ensinar e cobrar a adesão dos alunos a certos valores e atitudes. É preciso nortear o seu cotidiano nesses valores claramente reconhecidos e vivenciados por toda a comunidade. Nesse sentido torna-se essencial refletir sobre a prática educativa com um novo olhar, sensível as diferenças, atento a dinâmica e as demandas de cada grupo-classe como um todo, e aos limites e possibilidades de cada aluno, único, singular, porém ao mesmo tempo igual semelhante em direitos, deveres, necessidades e valores.
Portanto acreditamos que a educação se tornará realidade no campo somente se ficar colocada ao movimento social, pois o próprio movimento é educativa forma valores, novas cultura, e tanto os movimentos do passado ou de agora reúnem camponeses que seguem o mesmo sonho e fala da necessidade da luta na construção da história, porque não se entregam nunca as falsidades ideológicas da frase "a realidade é assim mesmo e não adianta lutar".Ao contrario acreditam no mundo par mudá-lo e não apenas para mantê-lo como está.Nesse contexto percebo que onde há mais vida no sentido de movimento social, onde há inquietação, é no campo, pois, existe uma luta juntamente com os sindicatos de trabalhadores rurais, com o Movimento de Organização Comunitária (MOC), com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em prol de uma educação que respeite as necessidades do camponês, de tal maneira que possa vim a libertar o homem das alienações a que a consciência dominadora a submete.Freire insistia:
(...) "mas do que aprender a ler e a organizar, de escrever, é preciso aprimorar a consciência é preciso ser cidadão. E consciente dos seus direitos, seus deveres da sua capacidade, da forma de lutar, esse cidadão pode acessar, absorver e compreender claramente o conhecimento e viver a partir disso, pois não dá pra dizer que a educação crie a cidadania de quem quer que seja, mas sem a educação é difícil construir a cidadania. A educação se cria com presença ativa, dedicada a todos nós com relação à coisa pública. A educação não é a chave para a transformação, mas é indispensável. A educação sozinha não faz, mas sem ela também não é feita a cidadania" (FREIRE, 1983).
Ainda hoje está espalhado por todo canto do país, os movimentos sociais que não está à espera do poder-público para promover a formação escolar, mas se torna cada vez mais consistente um movimento que luta em busca de novas alternativas para a educação do homem do campo, como conseqüência dessas lutas é que foi realizada a I Conferência "Por uma Educação Básica do Campo" em 1998, na cidade de Luziânia (GO), onde foi um momento de batismo para o povo especificamente dos movimentos sociais que inauguraram uma nova referência para o debate e mobilização popular: Educação do Campo e não mais educação do meio rural.
"Um dos traços que vem desenhando a identidade do movimento por uma educação do campo por políticas públicas que garantam o seu direito a uma educação que seja no e do campo; No: o povo tem direito ser educado no lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde do seu lugar, e com sua participação; vinculada a sua cultura e as suas necessidades" (CALDART 2002, p.25, 36).
Por não ter colocado em pratica a educação que seja no e do campo, é que ainda existe em grande escala o êxodo rural que é também alimentado em parte, pela própria forma como se estrutura a educação escolar: como não garantem oferta do ensino fundamental completo e nem oferece alternativas adequada à população rural, muitas vezes obrigando famílias trocarem o campo pela cidade em busca de escolas para seus filhos. Boa parte dos moradores acaba-se acostumado com a escolarização interrompida gerando um conformismo ainda não erradicado. Faz-se necessário registrar que 70% da alimentação do país é produzidas pela agricultura familiar, com apenas 21% da área agricultável. Entretanto, 32% dos jovens estão na taxa de analfabetismo, sendo que 2% dessa juventude do campo, para ter acesso a educação e freqüentar o ensino médio ficam obrigados a deslocar-se diariamente para estudar na cidade (IBGE 1998).Essa situação é fruto da falta de investimento no campo e do não reconhecimento da sociedade com relação à contribuição dessa parcela da população para a construção de um novo modelo de desenvolvimento sustentável, e de uma educação que venha atender as demandas da população camponesa.
2. Educação do e no Campo: Dilemas e Perspectivas.
Na Bahia especificamente na região sisaleira, o que sabemos de experiências particulares e de levantamento de dados, é que a educação que estar sendo "levada" ao campo, ou seja, que estar sendo realizada no campo continua extremamente descontextualizado. Por um lado porque os livros didáticos continuam vindos dos centros urbanos em especial da região sudeste, o que não condiz com a realidade vivenciada no campo. Por outro lado porque não há uma dinâmica de planejamento de maneira que este seja compartilhado e tenha participação de vários segmentos da população, permitindo assim que os sujeitos e os movimentos sociais do campo interajam na construção pedagógica que seja adequadas e contextualizadas ás potencialidades produtivas e sócio-culturais do camponês.
Um dos maiores problemas é que o estado quanto à maioria dos municípios não se comunica com os movimentos sociais e com a sociedade, para discutir soluções compartilhadas a este respeito. Nem mesmo tem valorizado as experiências bem sucedidas das EFAS, que tem como base pedagógica a Pedagogia da Alternância, entre outros projetos que segue essa mesma proposta e que vem sendo realizado na região sisaleira. Mas o movimento não se deixa intimidar pela falta de compromisso e interesse do estado e de alguns municípios par com a educação do campo, pelo contrário o movimento continua na luta por uma educação pensada e participada pelo camponês onde o processo educativo tenha como objetivos fundamentais do ser humano: conhecer aquilo que já sabe que é vivenciado no seu cotidiano, com: sofrer, pensar, caminhar, produzir é algo que gera em nós certo conhecimento que não pode ficar de fora do processo educativo; conhecer aquilo que não sabe informações e conhecimentos que advém do processo escolar, pois a educação faz parte da dinâmica social e cultural, mas ampla.
3. Conquista dos movimentos sociais em prol de novas diretrizes para a educação do campo.
Umas das conquistas no âmbito da luta como políticas públicas foram à aprovação das Diretrizes Operacionais de Educação Básica das Escolas do Campo (parecer nº 36/2001 e resolução 1/2002 do conselho nacional de educação). Através do protagonismo dos movimentos sociais na luta e no debate político e pedagógico da educação do campo, é que os trabalhadores do campo conseguiram construir um novo projeto de educação para o camponês. Uma das metas e tarefas prioritárias da Coordenação de Educação é por em prática uma política de educação que respeite as diversidades culturais e as diferentes experiências de educação em desenvolvimento em toda a região, (como forma de ampliar a oferta de educação de jovens e adultos e da educação básica nas escolas do campo).
Entre os objetivos está citada a valorização do campo que engloba os espaços da pecuária, do extrativismo, da agricultura, e que sejam vista como espaço de inclusão social a partir de uma nova visão de desenvolvimento onde a formação de professores do campo é discutida e trabalhada pela coordenação de educação como principal estratégia. A educação no campo faz dialogo com a teoria pedagógica desde a realidade particular do camponês que esta mais preocupada com a educação do conjunto da população trabalhadora do campo, e mais amplamente a formação humana. Sobre tudo trata de construir a educação do povo não apenas com ele nem muito menos para ele.
4. Um novo olhar para o homem do campo: projeto CAT.
O projeto CAT (conhecer, analisar e transformar a realidade do campo) é um trabalho realizado desde 1994 que busca a melhoria na qualidade do ensino através na formação de professores das escolas municipais do campo e da definição de políticas públicas educacionais para zona rural. O CAT atua dentro de uma proposta que valoriza o homem e a mulher do campo, sua cultura, seu trabalho, trazendo estes elementos como base da prática pedagógica dos professores em sala de aula e produzindo conhecimento que contribui para transformar a realidade onde vive. O CAT foi desenvolvido pelo MOC em parceria com UEFS, as entidades civis e as prefeituras dos dezoito municípios: Araci, Barrocas, Cansanção, Capim Grosso, Conceição do Coité, Nova Fátima, Retirolândia, Riachão do Jacuípe, Santa Luz, Santo Estevão e Valente, outros oito municípios se preparam para iniciar o trabalho em 2006, são eles: Candeal, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Queimadas e Tucano.
O CAT utiliza uma metodologia com base em Paulo Freire (ação, reflexão-ação), por isso a sigla: conhecer (ação ? os educandos pesquisam a realidade local), analisar (reflexão e sistematização sobre os dados sobre a realidade, para a construção do conhecimento, com observação dos educadores) e transformar (ação de interferência de realidade a partir das reflexões), hoje, acrescentou uma quarta etapa à avaliação processual.
"O CAT demonstra a possibilidade da sociedade civil e o poder publico atuarem na construção de uma política publica de educação do campo que seja de qualidade e que contribua para o fortalecimento da agricultura familiar e a construção do desenvolvimento sustentável" (Vera Carneiro coordenadora de educação do MOC).
Considerações finais:
Em fim o movimento social vem mostrando através do fazer e do dizer que é possível um novo projeto de educação voltado para a realidade do homem do campo, que através das lutas por uma educação diferenciada realizadas nos assentamentos e em projetos onde os movimentos sociais estão engajados é que surge renovação educativa do campo na região sisaleira. Porque é preciso democratizar a educação e a cultura pára que cada brasileiro independente de sua idade, renda e localidade possam ter direito de estudar em uma escola pública e de qualidade.
Através da cultura um povo reconhece sua identidade, passa a exigir seus direitos, aumenta sua capacidade de organização, aprende novas técnicas, comunica-se melhor. Portanto é preciso que não se aceite pacotes prontos vindo da cidade para o campo com um tipo de educação que não valoriza a realidade e nem a cultura do camponês. O que o projeto CAT vem fazendo é exatamente o contrario, contribui para o desenvolvimento sustentável no sertão baiano formando cidadãos que atuam na cidadania. Para haver mudanças no Brasil em especial na Bahia e podermos programar um novo projeto do campo é preciso lutar, pois toda mudança na história da humanidade somente aconteceu quando o povo se mobilizou.