Movimentos Sociais e Novas Configurações: Associativismo Comunitário
Por lucas alecrim | 02/10/2010 | SociedadeLucas Teixeira Alecrim
Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor. Goethe
O presente artigo registra os resultados da pesquisa feita na Associação dos Carroceiros de Samambaia, Distrito Federal - ATAVETAS, e analisa os mesmos à luz das teorias sobre movimentos sociais e suas características, apontando a conjuntura atual e o papel desempenhado pela associação nos processos de democratização em que se encontra o país.
Palavras chave: Movimento Social; Associação dos Carroceiros; Cultura Política e Democracia.
Neste artigo tem-se o objetivo de demonstrar como A associação dos carroceiros da cidade Satelite de Samambaia , Distrito Federal, se configura como um movimento social de carater comunitário, sob uma análise de autores especializados na área de movimentos sociais, no entanto, para se compreender como se identifica e se constrói este processo, é necessário entender , o que é um movimento social e comunitario e em que conjuntura ele se forma atualmente.
Na década de 80 nascem no Brasil os chamados " novos movimentos sociais" que dentre outros motivos, nascem da crise do capitalismo, avanços de políticas neoliberais e do combate ao autoritarismo instaurado na ditadura militar. Dessa forma, parte-se do entendimento que movimentos sociais são "ações coletivas que possuem caráter sócio-politico e cultural que viabilizam as formas da população se organizar e expressar suas demandas"( GOHN,2003, P.13).
No entanto tais movimentos se configuram a partir das diferenças regionais e especificidades de cada movimento, como encontramos na associação dos carroceiros, que nas relações complexas que desenvolvem, geram conflitos e tensões que se formulam, para alem de suas especificidades na conjuntura historica atual a partir de seu projeto politico e social.
Os resultados obtidos pelo projeto construído na disciplina de pesquisa social II do curso de Serviço Social da Universidade Católica de Brasilia, sobre A Associação de condutores de veículos de tração animal enquanto um movimento social, indicam que existe uma luta pelo fortalecimento e garantia de direitos dos associados que sobrevivem da mesma fonte de renda e protegem o meio ambiente, alem de buscarem melhorias nas condições de vida através da inclusão social. E é a partir de tais informações que podemos identificá-la como um tipo de movimento social comunitário que nas palavras de Luchman (2003), se apresenta,
...diferentes configurações, projetos e orientações, de acordo com os atores, os meios, os recursos e as relações sociais. Enquanto conjunto de organizações que visa representar os interesses dos moradores de sua localidade, esse associativismo apresenta uma especificidade, caracterizada pelo fato de se constituir em coletividades que se reúnem e se organizam tendo em vista discutir e demandar melhorias urbanas. O elemento de identificação e diferenciação frente a outros movimentos sociais é portanto, o compartilhamento do local de moradia. ( LUCHMAN, 2003)
A maior parte da pesquisa é uma análise de metodologia qualitativa, onde a coleta de dados foi feita a partir de pesquisa documental baseada nas teorias sociais de movimentos sociais e suas discussões. Nesta pesquisa a coleta de dados se constituiu numa análise de fichas cadastrais e do estatuto de formação da Associação dos Carroceiros de Samambia DF, ATAVETAS e livros e artigos sobre movimentos sociais e seus identificadores, que objetivou na comparação de objetivos e características que se assemelhavam identificavam movimentos sociais e associações comunitarias.
Tais movimentos se identificam dessa forma por lutarem por melhores condições de vida e possuem um papel no processo de democratização do país, numa conjuntura maior, estes movimentos como a associação dos carroceiros, tendem a propiciar mudanças na cultura politica , trazendo autonomia, emancipação ideologica da população, protagonismo, participação nas decisões pública dentre outras.
Dagnino 2002, faz referencia a complexidade deste processo onde se insere movimentos de carater comunitario que desempenham papéis tão essenciais na democratização e implementação da legislação conquistada em fins da década de 80, e se pode analisar ainda que num país marcado por formas historicas de clientelismo, e autoritarismo é consideravelmente maior o desafio na busca por participação e de fato mudança na cultura política.
Para se entender do que se trata, Rubia dos Santos e Reide Rolimnum leitura de ALMOND e RENNÓ, destacam cultura política como conjunto de orientações subjetivas de determinada população que inclui conhecimentos, crenças, sentimentos, compromissos com valores políticos e com a realidade política, e se resulta das socializações realizadas ao longo da vida, no processo educacional, e informações dos meios de comunicação.
O referido projeto desenvolvido na associação dos carroceiros, coloca em destaque um exemplo de associativismo comunitário que se engloba na agenda mundial, que como dito antes, se insere na democratização e busca por participação politica, no entanto não é esse o foco deste artigo, mas nesse caminho podemos perceber mais especificamente que é o processo de fortalecimento dos associados enquanto sujeitos de direitos que se quer dá enfase.
É na identificação do sujeito coletivo que se dá voz e se tranforma realidade no cotidiano. E nas colocações de Karina Nogueira,
Enormes desafios se impõem no tempo presente para a construção de processo ideo-politicos e prático reivindicativos que direcionem a consciencia e as ações das classes subalternas no campo da sociedade civil para a formação de uma contra-hegemonia e de um projeto societario de efetiva intervenção anticapitalista. Esse desafio é revelado tanto pela configuração contemporãnea dos movimentos sociais na realidade quanto pelas características contemporãneas dos movimentos sociais na realidade nacional quanto pelas caracteristicas explicitadas acerca das formas e dos conteúdos da participação das classes e camadas subalternas n arealidade municipal. (NOGUEIRA,2009, P 7)
Finalizando ,pensar como atuam essas organizações implica fortalecê-las e vinculá-las conscientemente nas discussões das problemáticas economicas, politicas e sociais alem de possibilitar reconstruir espaços de poderes e interesses socializados.
Referências:
DURIGUETTO, Maria Lúcia. SOUZA, Alessandra. NOGUEIRA, Karina. Sociedade civil e movimentos sociais: debate teorico e ação prático-política. Revista katálisis. Florianópolis, v 12. 2009.
GOHN, Maria da Gloria. Movimentos sociais urbanos no Brasil: produção teórica e projetos políticos. Revista Serviço Social & Sociedade. São Paulo, n° 25, 1987.
LUCHMANN, Lígia Helena Hahn. Identidades e Diferenças no Movimento Comunitário de Florianópolis. In: II Seminário Internacional Educação Intercultural, Gênero e Movimentos Sociais, 2003. Florianópolis. Anais do II Seminário Internacional Educação Intercultural, Gênero e Movimentos Sociais, 2003.
MOURA, Reidy M.SANTOS, Rubia dos. A intervenção do serviço social junto aos movimentos socio-comunitários: A busca pelo empoderamento e construção de uma nova cultura politica. Emancipação, 2007.