MOTIVOS DE FECHAMENTO DE TEMPLOS CRISTÃOS

Por Cilas Emilio de Oliveira | 18/09/2015 | Religião

     O fenômeno do fechamento de templos do tradicionalismo cristão, começado na Europa parece atingir também o Brasil. Talvez não seja diferente em demais países do cone sul, onde o tradicionalismo fincou sua bandeira. O fato é que o momento atual apresenta quadros inquietantes relacionados ao cristianismo. Em uma observação ainda que superficial em várias denominações, tidas como igreja, nota-se o esvaziamento em suas reuniões, principalmente no que tange às aulas de Escola Dominical nos domínios protestantes. Provavelmente no catolicismo não seja diferente.
     Em anos passados, centenas de pessoas afluíam aos recintos das igrejas, formando exércitos de indivíduos com participações brilhantes. Jovens, crianças e multidões de elementos mais adultos respondiam pelo número elevado de participantes. Uma festa aos olhos quando os mirins, em número elevado, davam seu brilho após os estudos. Hoje, desculpem a expressão quase chula, apenas “gatos pingados” comparecem a essa forma de ensino que marcou época.
     Apresentamos abaixo uma relação das causas desse esvaziamento, todas, a nosso ver, destoantes do que ocorria num passado não muito remoto. Se bem que a problemática toda diz respeito às fugas empreendidas pelas comunidades modernas, em relação aos primórdios do cristianismo apostólico.
     ACADEMISMO:
     Trata-se do conteúdo adquirido nos seminários pelos formandos e aplicados ao ministério pastoral depois da consagração. Tal aprendizado, no qual são absorvidos ensinos girando em torno de práticas, formas, matérias, todos relacionados ao comportamento humano, assim como ciências interpretativas, relação do Grego/Hebraico com as línguas contemporâneas,  e demais elementos aquém do fator primordial das escrituras. Esse glossário – após o estudante completar o tempo de estudo, passa a fazer parte do seu “metier”, levado a efeito nos púlpitos.
     Dissera alguém: “O que menos se estuda em seminários são as escrituras”. Podemos acrescentar em nossa prédica, que realmente o plano espiritual é colocado em último lugar, tendo em visto as formas adotadas que, na prática, apontam para o lado do esquecimento das coisas relativas a Deus. Sem dúvida alguma, a preocupação primordial de um pastor na atual contingência tem sido o homem com seus problemas, nos quais transparece a sede humana ao “bem estar bem” ante o mundo. O uso indiscriminado de textos bíblicos, moldando-os ao sabor do homem, como se ele fosse a meta primordial da igreja, e não o Supremo, tem sido a tônica em qualquer das centenas de comunidades tradicionais em nosso tempo. Nem vamos aludir à malfadada teologia da prosperidade, que os diversos grupos a ela submissos marcham incontinentes e a passos largos em direção ao aspecto material.
    INVERSÕES DE VALORES:
    Decorrentes da postura acadêmica, esse tem sido o fator primordial que “espanta” Deus dos átrios eclesiais. Isso é constatado sem maiores problemas numa reunião, em que se pretende que os presentes sejam levados a Deus em adoração. Sermões repletos de direcionamento ao homem ocupam praticamente todo o tempo das reuniões. Imagina se Deus fosse o centro, necessitaria Ele de sermões, de verbas nada condizentes como o que o Altíssimo requer para sua pessoa? Como o homem tem sido o foco dessas reuniões, é a ele que as prédicas são dirigidas.
     Os denominados cultos de adoração transformam-se em divãs de psicólogos, de psicanalistas, consultórios e clínicas médicas, onde são discutidas patologias, ao lado de agências de empregos que têm espaço garantido. Não há o direcionar a Deus em exaltação; não o levar os presentes ao recolhimento, ao íntimo de sua condição pecaminosa, muito menos fazê-los subir em uníssono ao Pai, em reconhecimento, adoração, confissão e arrependimento. A suposta adoração resume-se em ficar a plateia estática, enquanto sons ensurdecedores, de martirizar os tímpanos, formam os denominados louvores. Em anexo às mensagens de sabor humano, os denominados louvores surgem como um desafio a uma Sarah P. Kaley, autora de famosos hinos premiados com letras e músicas maravilhosas, com todos os recursos que a língua exige. Os atuais, verdadeiros embaralhados, sem concatenação com o título, sem rimas, sem pontuação e sem nexo, uma verdadeira colcha de retalhos, atiradas a esmo. O caráter repetitivo vai além da razão, com um único refrão sendo repetido até por quarenta vezes, como tivemos o trabalho de enumerar em um deles.
     Sim, cambaleia o fator espiritual, o único que poderia manter uma assembleia ligada ao Senhor da Igreja. Esta ausência, evidentemente, faz com que o fator humano tende a permanecer incrustrado nos átrios das greis. Com isso, advém o desinteresse pelo evangelho, este muitas vezes transformado em antídoto aos problemas humanos. Festividades, homenagens a seres humanos; homilia a inúmeros santificados por decisões conciliares, ao lado de verdadeiros bazares e pontos de vendas de artigos promocionais, como CDs, vídeos, comestíveis e uma infinidade de atos que jamais poderia marcar presença em um recintos, onde se pretende serem dedicados a Deus.
     TEXTOS TABUS:
     São enunciados que não estão nem de longe inseridos na liturgia, muito menos comentado. Verdadeiro pavor têm os dirigentes, quando os assuntos referem-se às profecias, escatologia, inferno, comportamento a dois (Mc 10), quando se sabe que separações até de oficiais de igreja ocorrem, motivadas pela famosa “incompatibilidade de gênios”, como se a segunda união, nesses casos, não redundasse em adultério. Jesus deixou bem claro a única condição em que poderia haver segundas núpcias – por infidelidade de um dos cônjuges. Claro, podemos concordar, sem medo de errar, com a segunda união em caso de morte de um deles. Casos há em que bênçãos chegam a ser impetradas sobre os “pombinhos” nessas uniões escusas, sem falar em líderes que aderem à tais práticas, ao  adotarem uma  segunda “cara metade” . É pesado relatar isto aqui, mas isso realmente acontece.
     Onde encontrar grupos coesos em torno do evangelho? Igrejas cujos líderes falem para Deus e não somente aos homens? Como exaltar a Deus, se as palavras nos púlpitos são dirigidas aos presentes, na tentativa de resolver seus problemas, muitas vezes causados por comportamentos que ferem o decoro cristão?
     O SENTIDO DE SER IGREJA:
    Desde longas datas, vem sendo substituído por termos nominativos, nos quais a força do termo – igreja – recai no nome das próprias organizações todas sacramentadas de acordo com o pensamento de quem emprestou seu nome às greis. Assim é que o papismo serve ao catolicismo, luteranismo serve aos partidários de Lutero, calvinismo serve aos que aderiram aos ideais da predestinação, metodismo comtemplando Wesley, pentecostalismo seguindo normas de dezenas de fundadores e...etc.  Ainda há os ideais ecumênicos, que teimam em uniões de grupos denominados “cristãos”, como se fosse possível somar frações numéricas sem reduzi-las a um único denominador. Verdade seja dita! O termo IGREJA está restrito apenas à “assembleia dos santos”, definida como IGREJA DE CRISTO, contida naqueles que foram perdoados, justificados, santificados e feitos filhos de Deus, nascendo do Alto. Resumindo, o vocábulo em questão refere-se tão somente aos que estão aptos ao encontro do Senhor, sem nenhuma relação com organizações nominadas por iniciativa humana.
    Como vimos neste breve artigo, o fechamento de templos, vulgarmente denominados de igreja, vem acontecendo pela falta de identidade com as igrejas lideradas pelos apóstolos, logo após o Pentecostes. Nestas, somente o conteúdo exalado pelos abnegados servos, era de caráter restrito a Deus e a seu Filho, sendo Cristo em sua essência a causa mor da vida das comunidades. Paulo, em seu caráter zeloso não media esforço em levar a mensagem além dos recintos de reuniões – as casas dos cristãos – enfrentando toda sorte de perigos, tendo a vida como o desprezar por amor ao evangelho. Ante o caráter restrito ao evangelho e às funções desempenhadas por presbíteros e diáconos, poderíamos em sã consciência estabelecer paralelos de identidade dos de hoje com os daquele tempo? Quais as funções desses oficiais hoje, senão apenas participar de reuniões que tratam de negócios, da administração de bens, da distribuição dos elementos da ceia? Não é certo que tudo que fazem fica restrito ao movimento interno da denominação? Por ventura saem a campo levando a mensagem aos pecadores, deixando as quatro paredes, como era o papel dos presbíteros do tempo apostólico? E pastores em geral, não ficam em seus gabinetes consultando a Internet, onde retiram – “mastigado” – o que apresentar aos presentes em seus sermões? Não é norma permanecerem como administradores de templos e coordenadores de atos que demandam em reunir multidões em dias festivos, congressos, reuniões de presbitérios, de bispados, nos quais são gastos fortunas em transportes e acomodações? Também, não ocorrem gastos astronômicos com instalações nos templos, sendo que para a difusão do evangelho – quando há – quantias irrisórias são separadas?
    Não meus caros e pacientes leitores! Não pode, em hipótese alguma, haver continuidade do conteúdo da igreja apostólica, sem que haja uma tomada de posição, retirando tudo que está em pauta nos recintos eclesiais, tendo em vista que praticamente quase tudo que é observado hoje vem colaborando para que portas sejam fechadas. Querem mais exemplos? Não? Também cremos não haver necessidade. Assim, permanece nossa refuta baseada no libelo exalado pelo Mestre: “Se estes se calarem as pedras clamarão”.

C. E. Oliveira