Motivações.

Por Rubens Marchioni | 07/04/2015 | Educação

MOTIVAÇÕES. Ouço a história de uma professora universitária interessada em motivar os alunos a se empenharem nas suas atividades acadêmicas. Experimentou vários recursos de que a sua competência profissional dispunha, do drama à comédia, do conhecimento à atitude, da razão à emoção. Argumentou mil vezes que o mercado de trabalho dispõe de espaços à espera de profissionais devidamente preparados. Não adiantou. Um dia, exausta, lançou mão de um argumento um pouco mais contundente, que Roger Von Oech, especialista em criatividade, denominaria a segunda resposta certa: “– Se você não quer estudar para ser um profissional, estude ao menos para, se um dia for preso, ter direito a cela especial”. A gente nunca sabe o que pode ser motivador para esta ou aquela pessoa. Vale tentar. E foi o que ela fez.

Antes desse episódio, um colega, certamente diante do mesmo quadro de resistência, foi claro. “– Esta sala tem, em média, sessenta alunos. Mas na verdade eu estou dando aula apenas para seis ou sete, os que vão para o mercado de trabalho.” Alguém ficou incomodado com essa conta, as regras do jogo lhe pareceram desfavoráveis. “– Professor, se é assim, por que a faculdade aceita a matrícula dos outros 50?” A resposta foi simples: “– Porque alguém precisa bancar os estudos desse pequeno grupo que vai se sobressair.” Diz a lenda que, a partir daí, aqueles estudantes decidiram não continuar patrocinando colegas que um dia talvez se tornassem seus superiores hierárquicos em alguma grande empresa.

Outro, sem criar polêmica ou fazer um sermão repleto de moralismo, sugeriu à sua aluna, ainda uma garota: “– Se você quer ser prostituta, tudo bem, o corpo é seu. Mas estude ao menos para saber fazer contas na hora de se vender e, de preferência, não dar vexame ao sair com alguém a fim de um bom papo com uma mulher capaz de entender a sua linguagem quando, ao desabafar, fizer referência ao conturbado mundo dos negócios, da política, da economia e vai por aí afora. Você perderia muitos clientes.” – advertiu. Inicialmente, a menina estudou com esse objetivo. Enquanto isso, as leituras a levaram a descobrir que poderia tomar outro rumo. Conta-se que hoje ela é uma grande médica, muito respeitada no seu meio.

Quando, em casa, um adolescente questiona um conceito, eis aí uma ótima oportunidade para convidá-lo a ler, pesquisar sobre aquele assunto. Esse é um desafio que vale a pena. Mais do que apenas aproveitar as oportunidades que batem à nossa porta, é indispensável que outras sejam criadas. Afinal, somos os roteiristas da nossa vida. E ela é generosa quando se trata de dispor de recursos para o trabalho de forjar cenários, dentro dos quais desempenhamos nosso papel de pais, professores etc.

Situações como estas não poderiam ser melhores como pretextos para mostrar-lhes o gosto da descoberta e de saber mais e mais, de resolver problemas reais e se sobressair. Pena que para muitos pais e responsáveis, o ato de estudar seja algo rigorosamente separado de viver, o que é uma dualidade sem qualquer sentido. A conta não fecha. E não vai fechar nunca. ®

 

Rubens Marchioni é publicitário, jornalista e escritor. Sócio da Eureka! Assessoria em Comunicação Escrita. Colunista da revista espanhola Brazilcomz, da canadense BrasilNews e da americana BrasilUsa Orlando. Publicou Criatividade e redação. O que é, como se faz; A conquista. Um desafio para você treinar a criatividade enquanto amplia os conhecimentos e Câncer de mama. Vitória de mãos e mentes, este último sob encomenda. – rubensmarchioni@gmail.comhttp://rubensmarchioni.wordpress.com