Mosaico

Por Sergio Sant'Anna | 07/11/2008 | Crônicas

Essa semana a cultura foi invadida por uma série de frases e pensamentos incômodos, outros esclarecedores e inspiradores.

Em uma entrevista ao Jô Soares, um programa global que começa muito tarde, mas com muito conteúdo, pena que o apresentador às vezes quer aparecer mais que o entrevistado, o cantor e compositor Tom Zé deu uma aula, além de cantar é claro. Como tudo que Tom faz tem um significado, ele tratou logo de assumir a responsabilidade e tomar conta do programa global. Não deu chance para que Jô pudesse assumir e ofuscar a presença do compositor, que se saiu um professor. Além de comentar uma matéria exposta no jornal "O Globo", em que Tom Zé dilacera a música "To ficando atoladinha", apenas enfatizando a sua tonalidade e a tonalidade da Bossa Nova, o professor Tom aproveitou para falar das notas musicais, além do Papa Gregório I e o canto gregoriano. Foi uma avalanche de história e nessa soma de conteúdos o crítico não deixou de cutucar a Igreja Católica, acusando-a (seria essa uma palavra forte?) de reprimir a mulher e impedi-la de gozar. O pecado e o inferno: uma invenção cristã (palavras minhas).

Na outra ponta, outro músico, com um pouco de talento, chamado Lobão esteve na Feira Literária de Ouro Preto, ao lado de Nelson Motta, e não poupou críticas duras, recheadas de palavras de baixo-calão ao compositor Chico Buarque, Bossa Nova e até Aguinaldo Timóteo foi chamado de gay. Pouca inspiração para um, considerado compositor, expor a uma platéia em uma feira literária. Sempre o respeitei, admirei aquela campanha que ele motivou contra apenas a exposição do nome do intérprete nas músicas que eram expostas em programas televisivos, deixando de lado o compositor da canção, mas ataques como ele vêm fazendo a Caetano Veloso e agora ao Chico não devem ser admitidos, principalmente por um público elitizado como o que acompanhava as palavras do felino. E tem mais: foram poucos argumentos para a explicação de sua tese e uma infinidade de palavrões, distantes do discurso.

De um lado Tom Zé e todo seu conhecimento, argumentado; do outro lado, Lobão, felino indignado, e sua prosa opaca, frouxa.