Morte insana Sebastiana
Por Edmar Lemos Teixeira | 17/04/2009 | CrônicasSebastiana tinha uma vida difícil e por isto teve sempre que lutar para sobreviver. Vinda de família humilde, descendente de escravos, tinha na profissao de lavadeira, a árdua tarefa de sustentar os filhos, uma vez que à muito o marido a abandonara.
“Bastiana”, como era chamada, era conhecida pela sua honestidade e distinção. A pobreza não lhe tirara a graça e o desejo de viver a vida. Por isto, o sorriso estava sempre estampado no seu rosto, destacado pelos bem cuidados dentes brancos. Comparecia às missas todos os domingos, trazendo consigo seus, todos, na medida do possível, muito bem vestidos.
Nas conversas informais, as quais aconteciam após as missas, sempre expressou seu desejo de educar os filhos e de encontrar alguém, com o qual pudesse compartilhar a vida. E foi em um destes momentos, que foi apresentada à Eleotério.
Negro alto de embros largos e corpo esguio, Eleotério trazia nas mãos as marcas do trabalho e do também sofrimento herdado da vida difícil no campo. Havia chegado recentemente ao povoado, em busca de dias melhores.
Com o passar dos dias e devido ao seu bom comportamento e coragem para trabalhar ganhou logo a confiança de todos e já era visto pela populaçao, como a pessoa ideal, para cuidar de Bastiana e de seus filhos.
Diante da unânime aprovaçao de todos, iniciou-se o relacionamento entre Eleotério e Bastiana e não muito longe, foi marcado o dia do casamento.
O futuro evento, transformou a vida do povoado, pois Bastiana era muito querida e acima de tudo, a única lavadeira dos arredores. Sendo assim, era por todos amada e protegida.
A vida para Bastiana tambem mudara, pois via naquele rapaz, o pai pelo qual seus filhos sempre perguntavam e de certa forma almejavam.
Chega-se entao o grande dia. O povoado estava enfeitado e festivo. Todos havia tirado de seus guarda-roupas ou baús, seus melhores trajes e aqueles mais afortunados, encomendaram estes, da melhor costureira da região.
Da igrejinha bem no alto do morro, ecoava por todo o povoado, o toque cadenciado dos sinos, entoando uma afinada e doce melodia. A felididade estava presente nos olhos e no sorriso de todos.
Eleotério estava muito bem vestido. Já no altar, esperava pela chegada da noiva e amada, com a qual sempre sonhara encontrar, para construir família e viver eternamente. Só não sabia ele, que o destino havia lhe reservado uma história e desfecho diferente. De súbito do meio dos presentes, houve-se um estampido e de repente, Eleotério vai ao chão já agonizante, trazendo a face serena e não feliz como antes. Bastiana corre-lhe ao encontro e no chão já com ele nos braços, tem o seu lindo e branco vestido manchado pela cor da morte. Em suas andanças pela vida, Eleotério fizera amigos, mas também causou pequenas desavenças. Mas para alguns, pequenas desavenças trazem grandes mágoas e desejo de vingança e foi esta que a vida lhe tirou.
A vida do povoado e de Bastiana, voltou à ser como antes, mas vivê-la com a mesma intensidade, ela já não o fazia mais.
Foi-se a vida de Eleotério e de Bastiana. Só restou, a MORTE INSANA.