MONITORIA DE PSICANÁLISE: DA EXPECTATIVA IMAGINÁRIA À DIFÍCIL...

Por Alan David Costa Vasconcelos | 19/09/2016 | Psicologia

MONITORIA DE PSICANÁLISE: DA EXPECTATIVA IMAGINÁRIA À DIFÍCIL PRAGMÁTICA DISCURSIVA DO EXERCÍCIO

 

Resumo

A busca pela monitoria é uma atitude de caráter importante para aqueles que pretendem seguir uma carreira acadêmica na área da graduação que melhor atrai sua atenção. Quando depara-se com os desafios a serem superados no exercício dessa função, o discente se ver diante situações as quais ele terá de balizar estratégias para atingir seus objetivos. O exercício de monitor da disciplina de Psicanálise II é uma atividade que se construiu no decorrer do contato com os discentes da disciplina e com o material teórico trabalhado nas aulas. Procurou-se abordar as relações entre os materiais de cunho científico/teórico e as possibilidades de intervenção visando sempre o trabalho de revisão e esclarecimento do discurso psicanalítico explanado nas aulas junto ao professor. A ementa, no que se refere à psicanálise no referido curso de Psicologia, mostrou-se de teor bastante denso e condensado, no sentido de haver vasto conteúdo para ser transmitido e trabalhado em um espaço de tempo que deixa a desejar. A disciplina de Psicanálise II é tributada de 80 horas para o semestre letivo, tempo esse insuficiente para passar tamanha base, fundamentação e teorias. Vale ressaltar que parelelamente, os discentes cursam disciplinas de carga horária idêntica e conteúdos igualmente extensivos e longos tanto quanto os de nossa supracitada disciplina. Dessa forma a importância do monitor da disciplina se faz elementar como também o diálogo e acompanhamento discursivo junto ao professor orientador.

 Introdução

O presente relato de experiência visa explanar as expectativas, desafios, entraves e conquistas observadas e alcançadas no correr do ano de 2014 na função de monitor da disciplina de Psicanálise II na Faculdade Luciano Feijão em Sobral/Ceará. O curso de Psicologia da Faculdade Luciano Feijão – FLF proporciona possibilidades diversas no tocante ao tripé que sustenta a formação do acadêmico de graduação, que consta da articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão. O programa de monitoria faz parte desse suporte que por vez possibilita o discente galgar um espaço, caso esse seja o seu desejo, na iniciação a docência. Caminhos que seguem uma trajetória de estudos acerca de disciplinas que estruturam a base para determinada ciência, no nosso caso, a Psicanálise.

Tendo em vista a importância do ensino da Psicanálise de base fundamental e conceitual Freudiana no interior das emendas curriculares dos cursos de psicologia, a função do monitor torna-se ferramenta de observação e intervenção imprescindível no balizamento do aprendizado dos discentes, como também ela demanda o compromisso de mais alto grau do mesmo para com o processo de ensino.

A expectativa imaginária se constituiu no tocante a idéia de que na prática, enquanto monitor da disciplina, poderíamos dialogar (monitor e alunos) de tempos em tempos para firmar um acompanhamento e entendimento do material que até então estaria sendo ministrado nas aulas. A prática desse plano, outrora traçado pelo monitor para trabalhar no semestre letivo, ao longo do caminho foi sendo frustrada pelo pouco espaço de tempo e pela quantidade de disciplinas e suas densas carga horárias que faziam compor a grade disciplinar do 3º período do curso de psicologia. Dessa forma, deixando os alunos sobrecarregados com os diversos materiais disciplinares e sem tempo para comparecer aos encontros marcados pelo monitor, queixa essa trazida pelos próprios discentes. Dessa maneira o encontro dos alunos com o monitor só se fazia possível dias antes de acontecer a primeira avaliação da disciplina, eles próprios solicitavam encontros para revisão de conteúdos, atividade essa que compromete o plano traçado anteriormente.

A corrente teórica que norteia o presente esmero é o ensino do pai e criador da Psicanálise - Sigmund Freud - e o arcabouço teórico que nos remete aos conceitos fundamentais de sua base. Como também do Psiquiatra e Psicanalista francês Jacques Lacan, que teve importância crucial para a história da psicanálise quando em meio a tantas deturpações na obra freudiana após sua morte em 1939, Lacan empreende o “retorno ao sentido de Freud” (JORGE; FERREIRA, 2011), buscando seu ensinamento diretamente na leitura dos livros e textos originais. Lacan articulou um movimento de vanguarda que fazia oposição às psicologias do “ego” que naquele momento eram reificantes no cenário psicanalítico europeu e americano.

A proposta do tema surgiu partindo dos anseios da experiência enquanto monitor da disciplina de Psicanálise II, desde o desejo pela iniciação a docência que nos proporciona o projeto de “Monitoria” da Faculdade Luciano Feijão, até os problemas metodológicos e de ordem funcional que nos deparamos ao longo do caminho trilhado. Vale ressaltar que na academia de graduação não se formam psicanalistas, função essa que é de outra ordem e também sustenta-se no tripé da análise pessoal, fundamentação teórica e supervisão profissional, quanto a universidade " ... cabe afirmar que a Universidade só pode se beneficiar com a assimilação da psicanálise em seus planos de estudo (FREUD, 1919)”. Mas surgem problemas no tocante ao ensino próprio da teoria para que posteriormente os graduandos possam sustentar minimamente uma dialética que não chegue a negativar o ensino psicanalítico.

A Filosofia, as Ciências Sociais, a Biologia, a Antropologia, a Arte, a Cultura, a Psicologia enquanto ciência e profissão e principalmente o outro enquanto produto e produtor social serviram sempre de suporte para embasar a caminhada no trabalho Psicanalítico. Daí surge a importância de trazer o presente tema na própria graduação, o diagnóstico do processo torna-se inevitável quando estamos imersos em algo que primeiramente muito nos interessa e segundo, por disseminar um ensino no qual acreditamos.

Metodologia

A experiência de monitoria na disciplina de Psicanálise II do curso de Psicologia da Faculdade Luciano Feijão, como também a revisão bibliográfica da literatura Psicanalítica Freudiana no que tange ao ensino da Psicanálise na Universidade me serviram-me de embasamento para sedimentar o presente estudo. A pesquisa é de caráter exploratório e um relato de experiência, tendo consequentemente os resultados descritivamente elaborados. O diálogo com os discentes que passaram pela disciplina de Psicanálise II no período de 2014.1 e 2014.2 tiveram importância fundamental, pois foram suas angústias, dúvidas, anseios em relação a disciplina que despertaram o interesse sobre o presente tema.

Resultados e Discussão

Ao longo do ano de 2014 na monitoria de psicanálise II, buscamos estratégias para alcançar e também acessar os alunos que estavam cursando a disciplina já que, como foi dito anteriormente, dificuldades em razão a disponibilidade de tempo dos mesmos e dificuldades com as leituras propostas pela disciplina se fizeram imperativo.

A metodologia desenvolvida pelo monitor no início do semestre foi definida estabelecendo encontros semanais com os discentes da disciplina todas às sextas feiras para revisão e discussão do material que estava sendo trabalhado pelo professor da disciplina. O plano não resultou de forma positiva, pois os alunos não se faziam presente nos encontros alegando sempre falta de tempo, choque de horários com outras atividades e alguns por não residirem na cidade de Sobral.

Diante disso optou-se por outras formas de contatos, como e-mail e redes sociais, visando esclarecer dúvidas advindas das aulas, encaminhar material para facilitar o aprendizados dos discentes e quando a maioria estivesse de acordo marcavam um encontro presencial com o monitor para debater os temas de maior dificuldade.

O enlace teórico dos textos entre psicanálise e filosofia estivera presente em quase todos os materiais, objeto de dificuldade para compreensão do acadêmico que por vez não adquiriu conhecimento suficiente para adentrar em tais discussões.

O retorno a escrita freudiana foi o gancho ao qual nos ancoramos para buscar compreender toda dialética do aprendizado na disciplina. Iniciado no livro de Hilton Japiassu publicado em 2009, de nome “O Eclipse da Psicanálise” onde o autor retrata desde a epistemologia e o surgimento da psicanálise, passando pelo ensino metapsicológico freudiano reafirmando conceitos de base importantíssima como a teoria do recalque, as instâncias de ordem psíquica como a primeira e a segunda tópica do aparelho psíquico, e trazendo a discussão com os filósofos como René Descartes, Kant e Jean Hyppolite e o surgimento da psicanálise como campo da ciência, na ética e os desafios que o ensino encara atualmente.

Com Quinet (2011), a subversão do cogito cartesiano feito por Freud foi alvo de muitas dúvidas e debates entre monitor e discentes da disciplina. Nas ocasiões foram trabalhados os conteúdos do livro A Interpretação dos Sonhos (1900), segundo Lacan, um dos livros “canônicos em matéria de Inconsciente”. Remeteu-se desde a história do surgimento até a inversão do cógito cartesiano “penso, logo sou”, onde Freud com a teoria do Inconsciente e do funcionamento anímico da outra cena descentra o homem de sua consciência onde afirma “o eu não é mais senhor em sua própria casa”, e afirma o cógito como “Desejo, logo existo”. Desejo é o nome do sujeito de nossa era: a era freudiana (QUINET, 2011). Nesse momento acontece a entrada em cena do estudo Lacaniano na disciplina, no mesmo livro Antonio Quinet nos remete ao retorno a Freud com Lacan, onde trabalha no artigo da Pulsão e Seus  Destinos (1915), Os Chistes e Suas Relações com o Inconsciente (1905), Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901) e os artigos da Metapsicologia (1914-1916) para embasar a explicação sobre o Sujeito ($) do Inconsciente,a teoria do dignificante e sua estrutura.

Dando continuação a lógica do ensino, o livro “O Conceito de Sujeito” de autoria do psicanalista Luciano Elia, publicado em 2010, foi de fundamental importância para a compreensão da constituição do Sujeito ($ - O S barrado foi cunhado por Jacques Lacan, e significa o Sujeito do Inconsciente que é na neurose por excelência “cindido”, interditado e castrado pelo furo do significante Nome-do-Pai ou Metáfora Paterna) do Inconsciente:

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