Modernidade: Construção de uma nova visão de homem, ciência e mundo

Por Adriana Soares de Souza | 23/05/2009 | História

Adriana Soares de Souza

Resumo

O homem moderno busca, incessantemente, explicações racionais e cientificas para tudo, ou melhor, quase tudo. Cria meios de responder todas as suas indagações, suas inquietudes e, muitas vezes, não se satisfazendo com o que é ou com que tem. Embora seja o único animal a ter plena consciência de sua finitude, o homem com toda a sua diversidade de ser e de agir, busca incessantemente a felicidade e quem sabe a imortalidade.

Palavra-chave: Homem, Ciência, Modernidade.

  1. Introdução

Não será difícil perceber que o objetivo deste texto é arrastar o leitor a uma possível reflexão sobre si no mundo moderno, onde é concebida a ciência a autoria da modernidade. Sendo que a razão é o centro do conhecimento humano. É como se o homem precisasse de uma autoridade que o guiasse e o norteasse num labirinto a ser conhecido ou desbravado. A razão é apartada do sentimento, da emoção, conquanto, o homem possui o senso daquilo que é certo ou errado. Será que a ciência/autoridade é a única esperança da humanidade? Ou seja, será que a ciência é o único caminho para a libertação do homem pelo homem? Serão estas as indagações do homem moderno diante da ciência e do mundo? Será esse o fio condutor capaz de interpretar a natureza humana?

2. Modernidade: Construção de uma nova visão de homem, ciência e mundo.

A pergunta está lançada! Qual a visão que temos de nós mesmo diante do mundo moderno? É difícil responder essa questão tão enigmática sem recorrermos ao pré-requisito história da humanidade. "Em pouco mais de 1 bilhão de anos, calculamos que a Terra se tornará um deserto crestado, estéril totalmente seco. É difícil imaginar como a vida multicelular sobreviveria", afirmou a revista Sky & Telescope. Logo vem a pergunta: Por quê? "O sol ficará cada vez mais brilhante e quente, fervendo os mares e assando os continentes", afirmou a revista Astronomy, ainda, acrescentou que: "Esse cenário desastroso é mais do que uma verdade inconveniente – é nosso destino inevitável."

Mas a ciência, indubitavelmente, responderia: O homem não só cria artefatos para a sua sobrevivência, mas também desenvolve idéias, conhecimentos, valores, crenças, desenvolvimento do raciocínio.

Assim, dentre as idéias, são a expressão das relações e das atividades reais do homem, que o homem produz, parte delas constitui o conhecimento referente ao mundo, isto é, o conhecimento humano, em suas diferentes formas (senso comum, cientifico, teológico, filosófico, estético, etc.) exprime condições matérias de um dado momento histórico.

A ciência, contudo, não é prerrogativa do homem contemporâneo, uma vez que ela é uma das formas de conhecimento produzido pelo homem no decorrer de sua história. Andery (1996, p.13) nos contempla afirmando que "A ciência por ser a tentativa do homem para entender e explicar racionalmente a natureza, buscando formular leis que, em última instância, permitam a atuação do homem."[1] O que nos leva concluir que como tentativa para explicar a natureza, a ciência caracteriza-se por ser uma atividade metódica, deixando de lado outros conhecimentos.

Até o século VI a.C. o conhecimento do homem sobre o mundo baseava-se em mitos. É daí, ao desvencilhar-se do mito, que nasce a filosofia. A partir do século VI a.C (Grécia Antiga), o mundo tem uma racionalidade, o homem pode descobri-la.

Houve inúmeras perguntas sobre o mundo. A filosofia antiga, por exemplo, tinha preocupações cosmológicas, antológicas ou metafísicas, esta se debruçava no estudo do ser, ou seja, de investigar o que é realidade, sua essência verdadeira além de sua aparência. O poder, das descobertas, deixava o homem maravilhado. Mas a sede de saber, do conhecimento não cessa, não tem limites. Questiona a si mesmo sobre o sentido de sua existência, "o porquê e para que vive, quais os valores sociais, políticos e culturais que cultiva, etc." Mas o homem, também, é um ser que busca constantemente a reafirmação de suas necessidades. O homem, tanto o contemporâneo quanto o antigo, não é somente razão, mas também afetividade e emoção.

Inicia-se uma viagem pelo "bosque" da periodização, entre os séculos XVI à XVIII, com o modelo de racionalidade, ou seja, o conhecimento racional versus o distanciamento dos fenômenos. Esse tipo de conhecimento veio assumir e contrapor ao "senso comum, à sabedoria, ao misticismo, à fé e à metafísica" (SANTOS, 2005).

Mas com tantas descobertas no percurso das ciências, instaura-se o princípio da incerteza. "Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a simples arte de vivermos como irmãos."[2] Afirmou Martim Luther King.

A modernidade traz, no seu bojo, um conjunto de transformações: as grandes navegações, a concepção heliocêntrica, a secularização do conhecimento, o antropocentrismo - marcando uma nova visão de homem no mundo. Para M. Foucault (1972): "Nós que nos julgamos ligados a uma finitude que só a nós pertence e que nos abre, mediante o conhecer, a verdade do mundo, não deveríamos lembrar-nos de que estamos presos ao dorso de um tigre."[3]

O homem com toda a sua diversidade de ser e de agir, busca incessantemente a felicidade, pois

Nós, seres humanos somos infelizes. Nossos corpos adoecem e decaem, a natureza exterior nos ameaça com a destruição, nossas relações com os outros são fonte de infelicidade. Mas todos nós fazemos os mais desesperados esforços para escapar da tal infelicidade. O poder sobre a natureza não é o único pré-requisito para a felicidade humana, assim como não é o único objetivo dos esforços culturais. Não nos sentimos à vontade em nossa civilização atual. (FREUD, 1927 apud SCHULTZ, 1995)

Assim, o próprio homem cria um verdadeiro labirinto onde é muito fácil alguém se perder, a menos que tenha um fio condutor, um fio de "Ariadne"[4] para orientá-lo na sua vicissitude. Não se pode negar que há séculos a ciência vem evoluindo, juntamente, com a tecnologia, tornando possível o progresso nos campos de saber. Mas tanto saber e poder almejado e perseguido pelo homem moderno vem conduzindo-o a sua "auto-destruição". O homem do século XXI se vê confrontado por si mesmo, ao não mais "saber fazer" diante de tanto saber e poder. É um tanto quanto paradoxal saber que a ciência amalgamada a tecnologia forma um par para salvar tantas vidas, ao mesmo tempo em que as coloca em cheque-mate ou até mesmo extinguido-as.

Segundo a teoria de Freud (apud Ana Paula Britto Rodrigues)[5] em seu texto "O mal-estar na civilização" declara que "o perigo mora ao lado do progresso" e que "as sociedades primitivas são mais éticas que as civilizadas modernas". Não que Freud fosse contra o progresso, mas o que ele quer defender é que o "psiquismo humano" é paradoxal, ou seja, "não existe um sujeito que age só para o bem, porque o bem-estar de um, inevitavelmente, significará o mal-estar de outro."

3. Conclusão

Talvez seja assim que o homem moderno se reconheça no mundo através de expressões como "sociedade do conhecimento" ou "sociedade da informação e da tecnologia". A ciência alcançou um desenvolvimento exponencial em todas as suas áreas. Não obstante, no mundo moderno, urge buscar novos modelos capazes de enfrentar realidades humanas cada vez mais complexas. A constatação de que o homem na sua magnitude, de poder e de saber, é um ser incompleto, pois só o infinito pode satisfazê-lo, embora esteja condenado a um progresso contínuo.

4. REFERÊNCIAS

ANDERY. M.A.P.A. et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 6ª ed. ver. e amp. Rio de Janeiro: Espaço e tempo: São Paulo: Educ, 1996.

BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. 15ª ed. São Paulo: edições Loyola, 2003.

OLIVEIRA, A. Serafim. et al . Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Edições Loyola, 1985.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Petrópolis: Vozes, 1972.

SANTOS, Boaventura de Souza. Um discurso sobre as ciências. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.

SCHULTZ, Duane. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 1995.

Disponível em: <www.viannajr.edu.br/jornal/Adm/pdf/200817105.pdf>. Acesso em: 08 out. 2008.



[1]Está citação foi lançada no Curso de Letras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) pela prof.ª Maria helena de Bem, na disciplina de Metodologia do Trabalho Acadêmico, numa "abordagem histórico-filosófica sobre a questão da ciência e método."

[2]Sobre a citação de Martin Luther, esta foi retirada do fôlder (folheto publicitário) intitulado: "Núcleo de estudos Afro-Brasileiros" – NEAB – veiculado ao II seminário Educação, Relações raciais e Multiculturalismo, realizado em 2006/ Florianópolis – SC. Endereço: www.udesc.br/multicultualismo.

[3] Ver: "A arqueologia do saber" de Michel Foucault. No primeiro momento, a palavra "tigre" pode ser interpretada com uma figura de linguagem, que por sua vez pode nos remeter a outras várias interpretações. Talvez uma metáfora para a realidade da qual estamos amalgamados. Ou ainda, poderíamos interpretar como "dorso do tigre" o sistema que rege toda a sociedade, desde o momento em que nascemos.

[4] Na mitologia grega, Ariadne é a bela princesa que ajuda o herói Teseu a se guiar pelo labirinto, onde ele entra para matar o Minotauro, monstro devorador de gente. Para isso, Ariadne amarra a ponta de um novelo na entrada do labirinto e vai desenrolando-o à medida que ela e o herói penetram na emaranhada construção. Morto o Minotauro, ambos conseguem sair do labirinto enrolando o fio de volta. Ver: Pesquisa na escola: o que é, como se faz de Marcos Bagno, 2003.

[5]"Uma ciência com consciência": como a ética pode evitar que a produção científica e a tecnologia possam comprometer a existência da humanidade? Trabalho escolhido para discussão e debate no Fórum "Ciência e Tecnologia" do curso de EAD de Metodologia de Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, s/d e s/a. Disponível em: www.viannajr.edu.br/jornal/Adm/pdf/200817105.pdf. Acesso em 08 out. 2008.